6 artistas negros de Anápolis que você precisa conhecer

Comunidade afro é conhecida mundialmente pelas diversas expressões culturais e artísticas e, em Anápolis, a situação não é diferente

Samuel Leão Samuel Leão -
6 artistas negros de Anápolis que você precisa conhecer
Neblina, percussionista e rapper de Anápolis. (Foto: Divulgação)

Anápolis é uma cidade rica em culturas e comunidades, contando com diversas populações estrangeiras, mas também fervilhando de representações dos mais diversos cantos do Brasil. Um dos grupos que merece destaque, especialmente pelo mote do Dia da Consciência Negra, é a comunidade afrodescendente.

Conhecida mundialmente pelas diversas expressões culturais, na música, na literatura, nas danças, esportes e muitos outros, em Anápolis a situação não é diferente e diversos personagens chamam atenção no cenário artístico.

Pensando nisso, o Portal 6 preparou uma lista com 6 nomes de artistas negros da cidade das antas que você precisa conhecer:

1- Neblina

Neblina, percussionista e rapper de Anápolis. (Foto: Divulgação)

Ronaldo Duarte, o Neblina, começou a compor músicas de rap no ano de 1995. Hoje, aos 49 anos, após morar certo tempo na Europa, absorvendo influências culturais diversas, o percussionista voltou para o Brasil e retornou para a cidade natal – Anápolis. Vindo de uma infância difícil, se criando sem os pais, ele encontrou na música e no rap uma forma de expressão e empoderamento.

“O que fez eu ingressar no movimento Hip-Hop foi o fato desta cultura nos potencializar, trazendo uma grande responsabilidade e respeito. A cultura negra é resistente, combatente e, acima de tudo, diversa”, contou o artista.

Com produções que protagonizam a afro-brasilidade, ele lança o EP Diversidades neste feriado do Dia da Consciência Negra, contando com parcerias como o Mestre Tuísca, exímio capoeirista e intérprete de pontos de jongo. No álbum, constam dois raps e três pontos de jongo, de composição autoral. Dentre as produções, a canção “Papo de Pai pra Filho” recebe até a interpretação em libras, em um vídeo no Youtube.

O projeto, que representa o lançamento oficial do artista no cenário goiano, conta com recursos da Lei Paulo Gustavo do Governo Federal, com apoio da Prefeitura de Anápolis, por meio da Secretaria Municipal de Integração.

2- Reinaldo de Souza

Conhecido como Rei, Reinaldo de Souza é cineasta, fotógrafo e escritor. (Foto: Acervo Pessoal)

Filho de dois nordestinos que viajavam o Brasil por conta da empresa onde o pai trabalhava, que era dessas que abrem estradas, Reinaldo de Souza acabou vindo parar em Anápolis em 1989. Aproveitando um momento de invasão, a família e ocupou um terreno na Vila Jaiara, e por lá ele cresceu, descobrindo o mundo das artes – especialmente a escrita, fotografia e o cinema.

“Era um lugar muito precário na época. Estudei em colégio publico a vida toda, mas ouvir rap e me envolver com a cultura negra me fez perceber que algo estava errado. E aí entrei para o movimento negro pelo Hip Hop, e até tive grupo de rap”, contou.

Apesar do início na música, a vida adulta chegou e ele passou a sonhar em cursar a faculdade de artes na Federal, mas não conseguia bancar os gastos necessários. Então, chegou a se mudar para Goiânia para tentar seguir a vida por lá, o que não deu certo. Quando voltou para Anápolis, conheceu a companheira, que o apoiou, e passou a se dedicar ao mundo das artes por meio da internet.

“Eu sou um artista de periferia que deu muita sorte por aprender a usar a internet quando ela ainda tava se consolidando, a partir das lan houses da vida. Eu passava muito tempo investigando possibilidades, vendo aulas, descobrindo como usar as ferramentas. Fui ter um computador meu mesmo quando tinha 29 anos”, relatou

“Hoje me considero um multi artista porque tudo que aprendi foi na internet, escrever, desenhar, fazer música, fotografar, fazer cinema. Cinema é a minha atividade principal, onde desenvolvo minha pesquisa no total. Aprendi a observar melhor a vida na periferia graças ao cinema e por isso retiro muito dos meus temas daqui. Faz parte de mim”, concluiu.

3- Izildinha Poeta

Poeta Izildinha. (Foto: Acervo Pessoal)

“Eu me chamo Izildinha Aparecida Almeida Porto, tenho 66 anos, graduada em Pedagogia e Letras – Português e Inglês e suas Literaturas. Paulista de nascimento, casada com um goiano. Sou professora aposentada, atualmente escritora, revisora e palestrante”, se apresentou.

Izildinha começou a escrever ainda jovem, entretanto, foi tomada pela profissão, atuando como professora, e também pelos trabalhos maternos, gerando uma ocupação em tempo integral. Portanto, ela só publicou o primeiro livro solo, chamado Quase um Repente, em 2016.

“Sou filha de mãe mineira e pai pernambucano, repentista. Fui muito influenciada pela Literatura de Cordel. Ao ingressar na UEG para fazer a minha segunda graduação em Letras, redescobri meu lado poeta e a “sarna” de escrever me pegou e não parei mais.”, explicou, revelando a raiz nordestina presente na escrita dela.

Recentemente lançou o livro Tangendo Versos, publicado por meio da Lei Aldyr Blanc, em 2022. É um livro de poemas que traz justamente reflexões sobre a negritude, a vida, saudades da infância, a goianidade e alguns cordéis. Atualmente, ela se consolidou como membro da União Literária Anapolina (ULA), da Academia de Letras de Anápolis, na cadeira de número 9.

Além disso, também faz parte da Academia de Letras do Brasil, seccional Anápolis, na cadeira de número 30. No âmbito local, ela ainda é conselheira no Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (COMPIR), e tem como bandeira conscientizar a população acerca do racismo estrutural e da importância do letramento racial.

4- Gaijin OG

Rapper anapolino Gaijin, também conhecido como Driller. (Foto: Divulgação)

Valdomiro Silva, de 30 anos, usa o vulgo Gaijin OG para se apresentar como rapper. O nome, que significa estrangeiro em japonês, o acompanha desde que ele teve que deixar Anápolis e morar em várias regiões do país, passando a se sentir um forasteiro. Apesar da trajetória, hoje ele fomenta a cultura negra novamente na cidade de nascença.

“Comecei minha caminhada nas batalhas de rima da cidade por volta de 2012, e passei a fazer a organização delas também por muito tempo. Minha primeira música foi lançada em 2015 e, desde então, nunca mais parei, vendo mantendo a constância”, explicou.

Atualmente, conta com 2 EP’s lançados nas plataformas digitais, com clipes gravados em espaços de Anápolis, como a Praça do Ancião, e diversas participações em trabalhos de outros artistas. Apesar de fazer rap, ele ainda ressalta que se identifica mais com o Drill, vertente do mesmo estilo que surgiu no Reino Unido e cresce pelo mundo, passando também a se chamar por Driller.

“Vejo cenário anapolino com crescimento gigante, uma safra muito boa de artistas novos. Isso é satisfatório, alguns anos atrás a cidade não tinha esse volume, creio que estamos no caminho certo”, concluiu.

5- Mestre Tuísca

Mestre Tuísca, que ministra rodas de Jongo e Capoeira Angola. (Foto: Reprodução)

“Eu nasci em Morrinhos, vivo em Anápolis há mais de 40 anos. Iniciou no mundo da Capoeira com o Mestre de Menor, em 1970, na 15 de Dezembro. Depois disso, iniciei minha pesquisa sobre o Jongo há 11 anos. É muito importante para mim que sou preto e também para toda a comunidade conhecer”, contou o mestre.

Carlos Antônio dos Reis é o fundador e líder do Jongo Iracema, um grupo cultural dedicado à preservação e divulgação do jongo, uma tradicional manifestação cultural afro-brasileira. Já completou 49 anos de capoeira, e conta que aprendeu em Anápolis a dança/esporte, que se constitui como uma das principais artes negras.

“Nessas aulas, sigo preservando e salvando muita gente, por meio da cultura e da capoeira. Salvando da criminalidade, do álcool, das drogas, dando uma direção mais saudável”, contou.

Atualmente, realiza rodas em diversos pontos da cidade com o grupo Flor da Gente, criando novos capoeiristas e jogadores de jongo, além de colaborar com outros artistas emergentes de Anápolis, como é o caso do Neblina.

6- João Gabriel Ferré

João Ferré é um artista plástico que trabalha especialmente utilizando colagens. (Foto: Divulgação)

João Ferré, de 25 anos, é um artista visual comprometido em resgatar e celebrar as raízes da cultura afro-brasileira por meio de técnicas inovadoras, como colagens de modo virtual e manual. Formado pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) em História, começou a ganhar notoriedade com o projeto “Mídia Resist”, no qual cria colagens que abordam críticas sociais e prestam homenagens a figuras históricas de resistência, conectando passado e presente em narrativas visuais poderosas.

Ao longo de sua carreira, João já realizou uma exposição no Museu de Artes Plásticas de Anápolis (MAPA), promovida pelo Mostra Entremeios I, e participou recentemente de uma exposição coletiva na Câmara dos Deputados, em Brasília. João também foi aprovado em um concurso com obras de alusão à figura de Antonieta de Barros, pela Câmara Legislativa de Santa Catarina.

“Ambas as exposições compartilhavam a missão de revelar os heróis e heroínas da nossa identidade nacional, homenageando a cultura afro-brasileira e periférica. É essa a minha direção no mundo da arte”, concluiu.

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