Mãe coloca grade em casa na luta para cuidar do filho esquizofrênico, em Abadiânia: “choro todos os dias”

Sandra precisa se desdobrar para cuidar das crises da doença do filho e abriu uma vaquinha para ajuda com remédios

Thiago Alonso Thiago Alonso -
Mãe coloca grade em casa na luta para cuidar do filho esquizofrênico, em Abadiânia: “choro todos os dias”
João Paulo vive atrás das grades no quarto. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Um sonho de uma mãe que ficou para trás, um cadeado que ficou perdido”. Assim Sandra Martins da Silva definiu a vida que leva, ao cuidar do filho João Paulo Martins, de 28 anos, que convive com esquizofrenia refratária, uma condição em que os sintomas da doença persistem mesmo após o tratamento.

Ao Portal 6, a mulher que mora na zona rural de Abadiânia, a 35 km de Anápolis, contou que o filho foi diagnosticado aos 11 anos e desde então, a luta nunca mais parou.

“Quando ele está em crise, fica muito violento, avança nas pessoas, morde, bate, tem muita força. Já fui ao hospital várias vezes por causa dele, a gente tenta acalmá-lo, mas pode se machucar também”, explicou, em entrevista à reportagem.

João Paulo e a mãe quando eram mais novos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Recentemente Sandra viralizou ao colocar uma grade no quarto do filho, para, segundo ela, proteger a todos, inclusive o próprio, das agressões oriundas das crises de esquizofrenia.

“A gente tem que tomar muito cuidado, ele tem muita força e pode pegar qualquer coisa e bater. É uma luta para levá-lo ao quarto sem machucá-lo”, disse.

De acordo com a mãe, João Paulo não consegue se controlar, sendo que em algumas situações já colocou a mão dentro de panelas quentes e até já usou pedaços de madeira para machucar outras pessoas.

Grades para proteção

Foi em uma destas ocasiões que surgiu a ideia de colocar as grades, em um momento em que a mãe afirmou “não aguentar mais”, aos 17 anos do jovem.

“Ele estava na rua brincando e agrediu uma senhora, que se machucou. O filho dela quis bater nele, mas eu expliquei que ele não sabia o que estava fazendo. A partir daí eu resolvi colocar as grades no quarto dele para protegê-lo, porque ele já tinha muita força e poderia machucar alguém ou até a ele mesmo”, relembrou.

João Paulo tem 28 anos e com 11 anos foi diagnosticado. (Foto: Arquivo Pessoal)

Tentando resolver as questões de João Paulo, Sandra chegou a submeter o filho a duas cirurgias neurológicas, mas os efeitos não duraram mais que 15 dias.

Hoje, a mulher contou que não leva o filho mais ao hospital, visto que os tratamentos não surtem mais efeito. Os cuidados são realizados somente em casa, tomando cerca de três remédios por dia.

“Quando ele é internado, às vezes tem que ser amarrado, porque ele avança nos enfermeiros, rasga colchões, sempre foi uma luta”, explicou a mãe.

Retaliações

Julgada pelos métodos, principalmente após colocar a grade, Sandra relembra que quase já foi presa, quando a polícia chegou a algemá-la.

“Eu fiquei muito brava dentro do hospital, falei em quebrar tudo, mas eles me algemaram como se eu fosse uma bandida. Isso me machucou muito, porque também tenho depressão. Isso me feriu por vários anos”, relembrou.

“Fiquei me perguntando se eu estava bem: ‘Meu Deus, só quero proteger meu filho, por que eles me algemaram?’ Hoje isso ficou para trás, ficou no esquecimento, mas quando eu me lembro, na minha mente dói”, continuou.

Mãe precisou trancar o filho em grades para protegê-lo. (Foto: Arquivo Pessoal)

Atualmente a mãe vive sozinha com o filho na zona rural, mas constantemente pede ajuda dos outros filhos para cuidar de João Paulo, principalmente durante as crises mais intensas.

“Tentei até me matar, mas Deus não deixou, estou aqui porque Deus precisava de mim para cuidar do João Paulo, hoje estou bem controlada, porque também tomo remédio, se eu não tomar meu remédio, eu choro o tempo todo”, disse.

Pedido de ajuda

Sem poder trabalhar, a mulher decidiu divulgar o caso nas redes sociais, criando o perfil Sandra e João Paulo (@sandra_e_joaopaulo), de forma que pudesse angariar algum dinheiro para se sustentar, além de custear os remédios e os cuidados com a esquizofrenia refratária.

Para auxiliar nos custos, hoje Sandra vive por meio de doações e ajudas pelo Pix telefone (62) 99196-8955.

“Se foram os sonhos… sonhos de uma mãe que ficou trancada, ficou trancada em um cadeado que eu não consigo mais achar. O meu maior sonho é poder ter condição de correr com ele, ser livre”, finalizou.

 

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