Vício e emoção: anapolinos contam como quase perderam tudo em apostas online
Apesar de jogos virtuais estarem sendo cada vez mais fiscalizados, foram diversas as pessoas lesadas em valores inacreditáveis nesse meio tempo
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Cassinos online têm caminhado, ao longo dos últimos anos, em direção a uma regulamentação total para atuarem no Brasil, sob uma legislação bem mais rigorosa do que aquela que estava em vigor.
Tudo isso em meio a diversos casos de pessoas que perderam montantes expressivos, por vezes frutos de toda uma vida, ao surfarem na onda dos jogos online com promessas de dinheiro rápido e fácil.
O Portal 6 reuniu histórias de anapolinos que mostram como o vício em jogos pode impactar vidas. Para preservar identidades, serão usados nomes fictícios.
O primeiro caso ocorreu ainda quando os cassinos estavam em ascensão no país. O anapolino Pedro Marques, de 22 anos, viu diversos amigos começarem a ganhar quantias significativas nas apostas.
“Quis entrar também, bem naquela roleta do Tigrinho. Falando agora parece burrice, mas, na época, realmente não se falava muito sobre isso ainda. E com tanta gente ganhando, você achava que ia ter sorte também”, comentou.
Ele lembra que estreou com um jogo de R$ 10. Ao final de algumas rodadas, havia perdido R$ 50. Depositou o valor novamente com o intuito de recuperar, iniciando um ciclo repleto de altos e baixos.
À reportagem, o jovem contou que, certa vez, chegou a ganhar R$ 2,5 mil em apenas uma jogada, o que o motivou a apostar valores cada vez mais elevados. A situação chegou ao ponto de Pedro receber o salário do mês e perdê-lo em apenas um dia.
“Eu cheguei a ter que pedir dinheiro emprestado, ficar com vontade de comer algo, sair para algum lugar e não ter nada”, relembrou.
Foram cerca de quatro meses nessa espiral de decadência, com mais de R$ 10 mil em saldo negativo. Até hoje ele luta para se recuperar financeiramente.
Pedro compara o vício nas apostas a substâncias como o cigarro e o álcool, afirmando que não se trata apenas de uma decisão consciente para se libertar, tamanha é a dependência.
Empresário
Outro caso marcante aconteceu com Francisco Vieira, de 49 anos. Ao contrário de Pedro, Francisco já possuía estabilidade financeira antes de se aventurar nos cassinos e acreditava que, por administrar uma empresa, teria um controle maior sobre o fluxo monetário.
“Sabia que existiam golpes, fraudes e por aí vai. Mas, com relação ao jogo [Tigrinho], é puramente sorte e saber quando parar e como recuperar. Quando eu entrei, sabia que, às vezes, se ganhava e, às vezes, se perdia. Mas, ainda assim, achava que de algum jeito eu era, de certa forma, mais preparado que os outros. Agora, acho que todo mundo que entra pensa assim”, relembrou.
O anapolino também começou com valores modestos, em pequenos aportes que variavam entre R$ 50 e R$ 200. Ele chegou a anotar cada vitória e derrota, bem como se havia alguma relação com a quantia apostada, até que, após muitas tentativas, acreditou ter “desvendado” o jogo.
Francisco revelou que sabia que, no final das contas, o cassino sempre sairia lucrando. O segredo seria o jogador parar de apostar assim que estivesse com o saldo positivo. Então, aguardou uma sequência de derrotas com valores pequenos para ‘dobrar a aposta’, em uma espécie de ‘all in” – quando uma vitória seria capaz de “balancear” o saldo.
E assim, entre a suposta razão e a forte emoção, confiou cerca de R$ 6 mil na teoria que tinha elaborado. Enquanto os números e símbolos giravam na tela, seu coração também apertava o compasso. Porém, ao final, todo o esforço posto em prática provou-se ineficaz, com mais uma derrota para compor os prejuízos.
“Daí para frente, só para trás. Não queria nem mais lucro, só queria voltar ao neutro ou tentar diminuir o que tinha perdido. Foi coisa rápida, nem um mês tinha passado, mas aí já tinha piorado bastante”, lamentou.
Ao final do mês, com quase R$ 70 mil perdidos, Francisco teve de vender o único carro que possuía para conseguir pagar os funcionários e fornecedores da empresa. De lá para cá, garantiu que nunca mais apostou e considera o que aconteceu como uma lição de vida.