Mentira sobre Anápolis levou PF a investigar ONG que movimentou R$ 74 milhões

Entidade afirmou ter atendido quase 9 vezes a população total da cidade para justificar captação milionária de emendas parlamentares

Samuel Leão Samuel Leão -
Mentira sobre Anápolis levou PF a investigar ONG que movimentou R$ 74 milhões
Vista aérea de Anápolis. (Foto: Paulo de Tarso/Prefeitura de Anápolis)

Uma declaração absurdamente falsa acendeu o alerta para um esquema milionário. A Associação Moriá afirmou ao Ministério do Esporte que havia atendido 3,5 milhões de jovens em Anápolis, município que, segundo o Censo 2022 do IBGE, tem 398.817 habitantes.

A mentira serviu como “comprovante” de capacidade técnica e abriu caminho para que a entidade firmasse convênios e recebesse R$ 74,5 milhões em recursos públicos via emendas parlamentares. O dinheiro seria usado para montar salas gamers e oferecer aulas de eSports, mas nada foi entregue.

A Controladoria-Geral da União (CGU) identificou fraudes como empresas de fachada, contratos direcionados e falsas contratações, e alertou a Polícia Federal (PF).

Nesta terça (29), foi deflagrada a Operação Korban, com bloqueio de contas, sequestro de bens e mandados de busca e apreensão. A ONG, que nem sede real possui, é investigada por desvio de até R$ 25 milhões.

Esteticista e motorista estavam no comando da entidade

A cúpula da Associação Moriá era formada por nomes sem qualquer experiência técnica ou histórico em gestão pública. O presidente da ONG é um ex-cabo do Exército, o diretor financeiro um motorista, e a diretora operacional uma esteticista.

A PF investiga se eles atuavam como laranjas, dando respaldo documental a um esquema orquestrado por outras pessoas que usavam a estrutura da entidade para captar e movimentar recursos públicos.

Deputados e senadores destinaram mais de R$ 70 milhões à entidade

A Moriá foi turbinada com emendas parlamentares individuais e de bancada entre 2023 e 2024. Os principais nomes e valores envolvidos são:

Fred Linhares (Republicanos-DF): R$ 32,5 milhões
Izalci Lucas (PL-DF): R$ 15,5 milhões
Perpétua Almeida (PCdoB-AC): R$ 9,8 milhões
Rose de Freitas (MDB-ES): R$ 5 milhões
Pedro Augusto (PP-RJ): R$ 4,7 milhões
Gilvan Maximo (Republicanos-DF): R$ 1,9 milhão
Bia Kicis (PL-DF): R$ 1,5 milhão
Julio Cesar (Republicanos-DF): R$ 800 mil
Paula Belmonte (Cidadania-DF): R$ 500 mil
Rodrigo Cunha (Podemos-AL): R$ 400 mil
Reginaldo Veras (PV-DF): R$ 400 mil

Desses valores, R$ 8 milhões já foram pagos. Após as denúncias ganharem repercussão, alguns parlamentares anunciaram o cancelamento dos repasses e tentaram responsabilizar o Ministério do Esporte pela falta de fiscalização.

CGU aponta superfaturamento, conluio e empresas de fachada

A investigação da CGU revelou um padrão de irregularidades nos convênios firmados com a Moriá. Os auditores identificaram contratações direcionadas, cotações fraudulentas e o uso de empresas de fachada para justificar a execução dos projetos.

Segundo a CGU, os desvios podem ter gerado prejuízos diretos de R$ 13,2 milhões, mas o bloqueio determinado pela Justiça foi de até R$ 25 milhões para evitar mais danos ao erário.

Nota 10

Para o portal Metrópoles, que revelou o caso e trouxe à tona todos os elementos que embasaram a investigação da CGU e PF.

A apuração minuciosa, publicada na coluna Grande Angular, é assinada pelas jornalistas Lilian Tahan e Isadora Teixeira, responsáveis por desmontar, passo a passo, a farsa que começou com uma mentira sobre Anápolis e terminou em operação federal.

Nota Zero

Para os parlamentares que despejaram milhões de reais em uma ONG sem estrutura, sem sede e comandada por pessoas sem qualquer qualificação. Faltou o mínimo: checar, investigar e exigir responsabilidade com o dinheiro público.

Você tem WhatsApp ou Telegram? É só entrar em um dos grupos do Portal 6 para receber, em primeira mão, nossas principais notícias e reportagens. Basta clicar aqui e escolher.

PublicidadePublicidade