Em Gramado, dois filmes abordam a morte de formas radicalmente diferentes

Seis longas-metragens estão na competição de ficção do 53º Festival de Cinema de Gramado.

Folhapress Folhapress -
Em Gramado, dois filmes abordam a morte de formas radicalmente diferentes
Festival de Cinema ocorre em Gramado (Foto: Reprodução)

IVAN FINOTTI – A coprodução brasileira, portuguesa e espanhola “Sonhar com Leões”, do português Paolo Marinou-Blanco, foi o quarto filme a ser exibido, na noite desta quarta (20), entre os seis da competição de longas-metragens de ficção no 53º Festival de Cinema de Gramado.

Estrelada por Denise Fraga, estamos diante de uma tragicomédia sobre a eutanásia e o suicídio assistido. Ela faz o papel de Gilda, uma imigrante brasileira vivendo em Lisboa e que chegou ao fim da linha. Com uma doença terminal e apenas um ano de vida pela frente, seu único desejo é morrer enquanto ainda é ela mesma, ainda tem sua dignidade e sem dor.

O filme trabalha no tom do humor negro e com quebra da quarta parede, com Denise constantemente saindo de seu papel para conversar direto com o espectador. E não se furta a exibir diversas tentativas de suicídio da personagem, com arma de fogo, com faca, com remédios etc.

“Quando eu li o roteiro”, disse Denise, na entrevista coletiva na manhã desta quinta. “falei ‘gente, quem é essa pessoa que escreve isso?’ Eu quis logo conversar com o Paulo, eu tinha a questão toda do direito de morrer. Eu também tinha minha mãe em decadência física. Minha mãe sempre falou que as pessoas deveriam ter o direito de ter a dignidade no fim.”

“Minha inspiração veio de um momento familiar muito difícil, que foi a morte do meu pai”, afirmou Paolo Marinou-Blanco, que escreveu o roteiro e dirigiu a obra. “Acho que eu não estava pronto para falar aprofundar e mergulhar nessa dor para tirar alguma coisa de positivo e de inspirador para os outros. Então, a abordagem foi meramente cômica só. Ignorei o lado trágico da coisa.”

Diferentemente das coproduções que apenas utilizam dinheiro de vários lugares para fechar o orçamento, essa de fato usa atores dos três países e viaja entre Portugal e Espanha para as locações. O ator português João Nunes Monteiro, por exemplo, é o par de Denise na maior parte da história.

O título do filme remete a uma passagem do livro “O Velho e o Mar”, de Ernest Hemingway, no qual o velho sente seus poucos momentos de paz quando lembra de um grupo de leões que viu na infância.

Já na noite de terça, a vez foi de outro competidor, “A Natureza das Coisas Invisíveis”, da estreante Rafaela Camelo. É um filme sobre morte mas, curiosamente, levado por duas atrizes mirins, Serena e Laura Brandão.

Elas interpretam meninas de 10 anos que se conhecem num hospital de Brasília. Glória está lá porque está em tratamento e também porque entrou em férias e sua mãe, que trabalha no hospital, não tem com quem deixá-la.

Já Sofia tem a bisavó, que está em vias de sofrer das consequências do mal de Alzheimer, internada após sofrer uma queda. O elenco é completado por Larissa Mauro, Camila Márdila e Aline Marta Maia.

Na metade do filme, a mudança para uma chácara no interior de Goiás será o estopim para o envolvimento de benzedeiras e a revelação de um segredo sobre a morte do irmão de Sofia.

“Era um desejo meu fazer um filme que fosse sobre morte, mas também que fosse sobre amor. Justamente para não ter um tom muito duro. Então, foi muito importante para mim falar sobre uma amizade, uma amizade de meninas nascendo”, disse a diretora, na entrevista coletiva na manhã desta quarta.

O desafio de trabalhar com crianças já era esperado por Rafaela Camelo. “Deu muito trabalho para poder chegar num nível de simplicidade que parece genuíno mesmo, de crianças se conhecendo”, afirmou.

Já as meninas divertiram os jornalistas sobre os problemas que enfrentaram no set. “Pode falar a verdade?”, perguntou Serena. “Aconteceram muitas brigas entre eu e a Laura. Só um detalhe. Por exemplo, quem ia ficar com o quartzo mais bonito. Ela ficou”, revelou a atriz.

Laura Brandão deu mais detalhes sobre esses momentos difíceis: “Era tipo ‘ai, eu quero brincar de ter uma casinha’. Aí ela dizia ‘eu quero brincar de ser vampira’. Aí a gente tinha um conflito, ali, gigante por conta de casinha ou vampira. Então, a minha relação com a Serena sempre foi assim, daquelas irmãs que brigam, mas no fundo se ama, sabe?”

Rafaela Camelo também comentou sobre o fato de “A Natureza das Coisas Invisíveis” ser o segundo filme do festival a possuir um elenco apenas feminino -ainda que, em “Nó”, os homens eram nefastos e sequer apareciam na tela, enquanto aqui, dois homens aparecem de forma positiva, emanando amor.

“Eu me considero feminista, mas entendo que o feminismo não pode descartar que a forma com que o patriarcado nos assola, ele assola os homens. É cruel em muitos momentos.”

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