Profissionais do sistema prisional estão com saúde boa, mas se sentem exaustos, diz pesquisa

Pesquisadores notaram que indivíduos que consideram sua saúde física ruim foram mais vezes ao médico para fazer exames e responderam que fazem atividades físicas "poucas vezes"

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Profissionais do sistema prisional estão com saúde boa, mas se sentem exaustos, diz pesquisa
(Foto: Tiago Ciccarini/Divulgação/Sejusp-MG)

GIULIA PERUZZO – SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma pesquisa realizada pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) em parceria com a Senappen (Secretaria Nacional de Políticas Penais) no âmbito do Projeto Valoriza: Saúde em Foco, observou a saúde física e mental de profissionais do sistema penitenciário brasileiro. Segundo o levantamento, a saúde física foi avaliada como “boa” por 66% dos participantes e “ruim” ou “péssimo” por 24,6%.

Os pesquisadores notaram que indivíduos que consideram sua saúde física ruim foram mais vezes ao médico para fazer exames e responderam que fazem atividades físicas “poucas vezes”, “nunca”, “apenas nas férias” ou “uma ou duas vezes ao mês”.

Em relação à saúde mental, embora 75% dos servidores a avaliaram como “boa” ou “ótima”, quase metade dos respondentes (44,6%) sentiram-se exaustos ou com pouca energia “muitas vezes” ou “todo o tempo”. Além disso, cerca de 25% dos servidores afirmou sentir-se “no limite” com frequência. Em relação à diagnósticos, 20,6% dos respondentes afirmaram ter diagnóstico de transtorno de ansiedade e 10,7% relataram ter diagnóstico de depressão.

O questionário aplicado analisou cinco dimensões: promoção de saúde, saúde do corpo, saúde mental, promoção de saúde no trabalho e aspectos gerais do trabalho.

Realizada em duas etapas, a pesquisa primeiro levantou dados qualitativos de 89 servidores, que serviram para guiar os aspectos que seriam analisados na etapa quantitativa. Esta segunda etapa entrevistou 22.752 pessoas em todo o país, entre policiais, gestores, profissionais da assistência, da saúde e administrativos. É um contingente que representa 19,3% do total de servidores penitenciários no Brasil.

O secretário nacional de Políticas Penais, André Garcia, diz que a avaliação faz parte de um conjunto de ações da Senappen para resolver a crise do sistema carcerário e acompanha o plano estratégico nacional Pena Justa, elaborado pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) em parceria com o Ministério da Justiça, lançado em fevereiro de 2025.

Outro dado da pesquisa é a percepção de falta de reconhecimento que os profissionais sentem. Um índice de 83,7% dos servidores sente que seu trabalho é reconhecido pela sociedade “poucas vezes” ou “nunca”. Além disso, mais de 70% dos respondentes avaliaram negativamente as políticas institucionais de valorização do servidor e de comunicação à sociedade sobre a importância do trabalho.

Segundo o relatório, o reconhecimento social é um fator importante para a promoção do sentido do trabalho, o que, por sua vez, coopera para a manutenção e promoção de saúde física e mental do trabalhador. Os pesquisadores da Fiocruz consideram que tanto a pesquisa quanto as ações do Projeto Valorize estão atendendo esse lugar da necessidade de reconhecimento que, segundo eles, é um indicador de saúde primordial no trabalho.

Garcia acredita que a criação da profissão de policial penal, em 2019, que substitui a de agente penitenciário, pode contribuir para o senso de valorização do trabalho deste profissional. “Isso pode mudar a imagem da profissão paulatinamente e os policiais vão se sentir mais respeitados. A nossa missão como gestores é fazer com que a sociedade compreenda que esse trabalho é complexo e importante.”

Garcia diz que uma das ações desenvolvidas para a saúde mental dos profissionais é a criação do programa “Escuta Susp”, que oferece atendimento psicológico especializado para profissionais do Susp (Sistema Único de Segurança Pública), incluindo trabalhadores do sistema penitenciário.

Segundo o psicólogo André Guerrero, coordenador do Nusmad (Núcleo de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas) da Fiocruz Brasília e um dos responsáveis pela pesquisa, ela foi realizada com o intuito de perceber evidências científicas que pudessem ajudar o sistema penitenciário a ter ações mais positivas, afirmativas e eficazes dentro da perspectiva da saúde integral do servidor. Dessa forma, o grupo elaborou orientações e recomendações para o desenvolvimento de políticas públicas.

“O trabalho é um lugar que também necessita de prevenção e promoção de saúde mental, além de perspectivas relacionadas ao cuidado”, destaca Jaqueline Tavares de Assis, também pesquisadora do Nusmad, envolvida no estudo.

“Precisamos lembrar que nós não estamos falando de um sistema todo adoecido, mas existem sintomas que precisamos ter atenção para poder fazer uma melhor prevenção e promoção da saúde no trabalho.”

Os resultados também mostraram uma correlação significativa entre a satisfação com o trabalho (44,7% dos entrevistados responderam que se sentem realizados com o trabalho, ao passo que 35,8% se sentem pouco realizados) e os aspectos do ambiente físico do trabalho, como ” boa luminosidade”, “espaço para alimentação”, “espaço para descanso”, “ventilação”.

O secretário de políticas penais relata que, a partir dos dados, iniciativas estão sendo realizadas, principalmente na polícia penal federal, para realizar mudanças em espaços de convívio, refeitórios e alojamentos para os policiais de plantão. “Com os estados, o estímulo é o mesmo”, afirma.

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