Para um pós-Natal com Jesus

Compreender o Natal é saber de Jesus, sua trilha no mundo, seu convite para uma vida ética que alivia o sofrimento dos homens

Pedro Fernando Sahium Pedro Fernando Sahium -
Para um pós-Natal com Jesus
(Foto: Captura de Tela/YouTube)

Neste Natal eu vi, e ouvi: cantatas nas igrejas da cidade – esse é um gênero musical tradicional, surgido há mais de 400 anos, conta com muitas vozes, algum solista, alguns instrumentos e belas togas coloridas; nos púlpitos das denominações cristãs as pregações sobre o nascimento do Menino Deus, sua origem humilde e seus pais dedicados, e, em especial sua mãe, um exemplo de virtudes que precisa ser seguido; pessoas trocando presentes em animado “amigo secreto”; jantares festivos e novíssimos “magos” de filhos e netos distribuindo presentes.

Do ponto de vista mais público, na praça central e em meio a uma iluminação especial e colorida, o povo circulou junto a trenós puxados por renas, animal símbolo do natal, típico de regiões muito frias como Rússia e Alasca, mas bem parecido com o nosso veado campeiro ou o cervo do pantanal. Circulou nas ruas até o Papai Noel, figura lendária da cultura ocidental cristã e personagem garantido nos finais de ano. Bem pouco fitness, é claro

O padrão da festa, com algumas variações, se repete todo ano. Mas hoje tenho dificuldade em ver o Natal apenas como festa religiosa. A religião responde a necessidades humanas; é um fenômeno cultural, relacional e social; organiza os grupos de sentido e socializa as almas; regula comportamentos, dentre outras coisas. Estudiosos dizem até que os homens têm predisposições psicológicas à crença religiosa.

Considero a importância da religião, mas pondero que o Natal deveria incluir reflexões sobre o Jesus que cresceu. Este, o Jesus crescido, não nos pediu para amar a “nossa religião”; também não pediu para amar as nossas igrejas (instituições), doutrinas e bíblias; Ele nos pediu para amar as pessoas, e até, causando escândalo, que “orássemos e nos esforçássemos para amar os inimigos”. Jesus não pediu para ter medo dos diferentes e nem desprezo pelos fracos, e não pediu que rejeitássemos o iluminismo ou fizéssemos “culto à tradição”. Ele não pediu adoração, mas pediu que o seguíssemos espontaneamente, e amássemos o nosso próximo sem exceção de classe, gênero, raça ou credo.

O Natal passou, mas não importa, pois o natal não se faz por datações e sim por compreensões. Compreender o Natal é saber de Jesus, sua trilha no mundo, seu convite para uma vida ética que alivia o sofrimento dos homens, que cura gente ferida, que ajuda o fraco e o fracassado. Afinal, de que adianta estar com a boca cheia de versículos bíblicos e o coração cheio de ódio? Acredito que, o acreditar é menos importante do que o bom tratamento que devemos dar a todas as pessoas.

Um homem, caído na beira da estrada, jazia à beira da morte. Um representante oficial da Igreja, um profissional do sagrado, passava pela estrada e viu o desvalido, mas evitou a ‘beira’; outro representante das tradições humanas, preocupado com o “bom andamento” da moral humana, desconfiava da ‘beira’, e se alguém lá estava caído era por “boas” razões. Um terceiro, que não vê escândalo na ‘beira’, porque sabe que à ‘beira” estamos todos, socorreu o necessitado. Ele intuíra, há muito tempo, que “no banquete de Deus não tem lista de convidados, nem normas de honra ou código de pureza e que se admite até gente desconhecida”. Todos, em especial os que sofrem, devem ser auxiliados.

Numa aproximação histórica de Jesus, aprendi com o teólogo católico José A. Pagola que, no Reino de Deus, “existe uma mesa aberta a todos sem condições: homens e mulheres, puros e impuros, bons e maus; uma festa na qual Deus ver-se-á rodeado de gente pobre e indesejável, sem dignidade nem honra alguma”. Jesus participou de jantares e refeições com aqueles que a sociedade desprezava e marginalizava, que não foram convidados por ninguém, mas que no Reino de Deus sentar-se-ão com Ele. (*)

Viver o Natal durante todos os dias do ano é viver uma espiritualidade centrada no amor do próximo, que o considera na sua alteridade e o ajuda na sua necessidade.

* PAGOLA, José Antônio. Jesus, aproximação histórica. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.

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