Mesmo com deslizes, filme “Polícia Federal: A Lei é para Todos” merece atenção
Ele consegue prender o público na tela, que está ansioso para entender de forma sintetizada tudo que está acontecendo no Brasil
Há quase um mês estreava nas salas de cinema de todo país o primeiro filme da trilogia Polícia Federal: A Lei é para Todos. O longa chegou com um claro objetivo de resgatar a moral da Operação Lava Jato e se desvencilhar das eventuais críticas que a força tarefa sofreu.
O que torna o filme polêmico é a estratégia por trás dele: foi lançado a pouco menos de um ano das eleições. Foi 100% financiado por empresas privadas e suas identidades não foram reveladas. Foi feito para influenciar, para contar uma história na lente da PF, onde os personagens são representados como verdadeiros heróis.
As atuações oscilam. Ora caem num clichê que lembra uma imitação de CSI, ora merecem destaque – como Marcelo Serrado, que consegue representar bem as feições e o modo de falar do juiz Sérgio Moro. Bruce Gomlevsky,que interpreta o policial Julio Cesar, é praticamente o protagonista. Seu personagem é o responsável por trazer uma imagem humanizada da equipe, mostrando a rotina familiar, a saúde e crises emocionais.
O filme consegue prender o público na tela, que está ansioso para entender de forma sintetizada tudo que está acontecendo no Brasil. As cenas de perseguição são convincentes, mas a usam um helicóptero é dolorosa de assistir, pois o efeito especial usadao é muito mal feito.
A presença de um narrador, feita pelo personagem Ivan Romano, ajuda a situar o espectador na história e a enfatizar a mensagem que o longa pretende passar.
É interessante notar:
– Fatos, nome e registros verídicos se misturam a ficção – os nomes dos policiais são fictícios, assim como o dos procuradores Deltan Dallagnol e Lima. Porém, os nomes dos investigados e cenas das delações e dos protestos de rua são reais.
– Sérgio Moro é apresentado como um juiz imparcial – Numa das cenas iniciais, Moro afirma que primeiro irá ler o processo antes de autorizar a ação dos policiais Ivan e Beatriz. Isso aconteceu porque diferente de Marcelo Bretas (juiz da Lavajato no RJ), Moro sofreu críticas por ter “aparecido demais”. Deu palestras em universidades pelo mundo, aceitou receber um prêmio do jornal O Globo e, principalmente, divulgou o áudio da conversa entre Lula e Dilma, que deveria ser remetidos ao STF. O filme não cita essa importante questão. Foi um erro de Moro acobertado na obra.
– Novamente, Moro é “omitido” – A Operação Banestado é citada por duas vezes no filme como um infeliz momento onde Alberto Youssef escapou das mãos da PF. O que o filme não conta é que o juiz responsável por julgar essa operação era justamente Moro, que na época foi acusado de atos abusivos e de excessos.
– O filme resgata a imagem da Polícia Federal – vários são os trechos onde isso ocorre. Ivan (Antonio Calloni) é o porta-voz do discurso. Em certo momento declara que a operação “(…) não vai mudar o Brasil, mas uma coisa ou outra a gente faz”. Em outro momento, o filme defende que as operações terem eclodido no período eleitoral foi algo necessário. No fim, Ivan faz uma reflexão: talvez a PF seja, sem perceber, massa de manobra para ajudar algum outro espectro político a emergir.
– “E o Aécio?” – todos já ouvimos essa frase em algum momento. E o filme deixa para a cena final parte das denúncias que o atingiram. Vai ficar para o segundo da trilogia, assim como o impeachment.
– O filme é didático – tenta explicar ao espectador comum como e quando se deu os esquemas de corrupção principais. A primeira parte narra justamente como a operação nasceu e tem como ápice a condução coercitiva de Lula – a cereja do bolo.
– A representação do ex-presidente – O filme quer mostrar que o que se tem contra Lula é mais do que um triplex e um sítio. Supostamente existiu um esquema no qual Lula visitava países como Cuba e Angola para palestrar (bancado por empreiteiras). Meses depois, tal empreiteira começava uma grande obra no país, financiada com dinheiro do BNDES. E mais: no filme, os policiais temem o que a condução coercitiva pode causar, até mesmo questionam se é algo necessário. Fazem de tudo para não causar alarde. Enquanto a militância petista é bélica.
No primeiro contato, parece que Lula é retratado de uma forma caricata. Porém quando comparamos o personagem de Ary Fontoura com o Lula atual, vemos que está próxima da realidade. Declarações como “a jararaca está viva” ou suas ameaças aos delatores, policiais federais e ao próprio juiz Sérgio Moro mostrar que o filme foi bem fiel ao que vislumbramos atualmente.
– O filme é fiel a detalhes – as cenas procuraram relatar episódio que de fato aconteceram como Lula perguntando sobre o japonês da federal ou o ex-diretor da Petrobras Renato Duque exclamando “que país é esse?” ao ser preso em 2014
Thales Moura é mestrando em Comunicação – Mídia e Cidadania na Universidade Federal de Goiás