Na caverna da existência
Observe como pessoas que supostamente são muito seguras de si mesmos e tem a avaliação distorcida e pervertida em relação àqueles que julgam menores, são as mais propensas a se esconderem quando se dão conta de que excederam o limite da mediocridade e da suspensão da realidade.
Viver com sabedoria é antes de tudo reconhecer-se falho de antemão, sujeito a quedas e fracassos, mas; não é assim que muitos encaram seu caminho existencial. Todos nós debaixo desse céu estamos expostos às surpresas e aos reveses, de fato não temos controle nenhum, e muitas vezes nem mesmo de nossas reações – o que revela nossa verdadeira face.
Pessoas que vivem se iludindo com suas convicções e conceitos tortos a respeito de si mesmo, aqueles que a todo custo até mesmo sacrifica sua paz interior, passa uma imagem de perfeito a todos quais compram essa propaganda, mas por dentro é um lixo de hipocrisia, mentira, dissimulação, arrogância e indiferença.
A maldade acaba por se esconder debaixo das “anáguas” de perfeição para acobertar seus reais valores interiores. Muita gente se utiliza desse disfarce para velar sua própria maldade e dureza interior sob a máscara de suas convicções e dogmas, mantos de virtudes e moralidade.
Isso se desenvolve no ser, pois os padrões de princípios morais e éticos são falsos, por isso ficam sempre sob o disfarce da perfeição comportamental, enquanto isso estão presos na armadilha de aparentar uma vida que está sempre além da possibilidade do erro. Ora, é óbvio que a pessoa fica muito mais vulnerável quando jamais se admite errado – se esconde atrás de máscaras de suas tendências questionáveis e compensa suas incoerências vivendo-as nos bastidores.
O problema é que isso vai de tornando um ciclo vicioso, pois tal pessoa sempre se sente na obrigação de mascarar sua realidade tornando-se um hipócrita ignorante, nunca assume o que é e jamais admite pra si mesmo suas fraquezas. A questão é que gente assim acaba tropeçando nos próprios pés e caindo diante de todos.
Essas pessoas quando percebem que foram descobertas e sua nudez interior exposta, corre para sua caverna e fica ali escondido por medo da vergonha geral e do peso do julgamento que a tantos outros pesou, apontou, difamou e sentenciou.
A complexibilidade dessa situação é que indivíduos assim vão se transformando em mestres de disfarces e vão desenvolvendo várias facetas de internas maldades em sua alma. A maior mentira não é a que se diz com os lábios, mas aquela que se vive, com o ser penalizado e aprisionado em grilhões.
De nada adianta correr pra caverna e se esconder dos outros, pois a si mesmo estará sempre exposto. Criou-se tanto o hábito na ousadia de apontar que sem perceber estava caminhando a passos largos em direção à covardia de encarar e enxergar a si mesmo.
A fórmula de se ver livre dessa mazela, é assumir as próprias impossibilidades, lançar mão das máscaras, enxergar-se com humildade e sinceridade e recuperar o senso de interioridade. Nada faz adoecer mais do que uma versão errada a respeito de si mesmo.
Não é fácil assumir a angústia, a tortura e as lágrimas que resulta de uma leitura sincera e honesta ao senso próprio de existência, o preço da verdade do coração é sacrificial e dolorida; fazer o caminho inverso é de certa forma apavorante, mas é a única forma de assumir-se diferente daquela imagem de fachada que sempre sustentou.
É de extrema necessidade e a única forma saudável para o ser aprender a ser diferente e sincero começando pelo coração, assumindo os pés na verdade para ser você mesmo, livrando-se das maldades acobertadas e ninadas, sem falsa aparência, mas apenas sua identificação genuína na existência.
Deniza L. Zucchetti é escritora nas horas vagas e mãe em período integral. Escreve todas as segundas-feiras