Trilhando o caminho do amor próprio

Carlos Henrique Carlos Henrique -
Trilhando o caminho do amor próprio

Amar o próximo como a si mesmo é algo primordial pra se ter saúde emocional e psicológica. Experimentar o relacionamento amoroso se encaixa nesse contexto, dando o despertar da consciência diante de tantos desapontamentos decorrentes da convivência. A questão é que a maioria confunde as prioridades, abre mão de princípios, esquece conceitos que os preservam de abusos alheios e se jogam em aventuras das quais vão custar muitas lágrimas e frustrações.

Percebo que muitos acostumam com os abusos, abraçam as palavras lançadas como sementes em seus corações e a deixam germinar, acreditando ser uma verdade necessária a ser vivida. Se a pessoa perde a capacidade de discernir o que lhe tem feito mal e de decidir não mais se sujeitar às dores advindas de um relacionamento doentio, tal pessoa está nas mãos de outrem e se estiver entregue ao sabor das pulsões, compulsões e paixões já não é amor.

Não consigo absorver a ideia de alguém se sujeitar a abusos físicos e verbais como se fosse o ar indispensável pra respirar. Não compreendo a ideia de abrir mão de si mesmo pra se entregar a qualquer custo à alguém que não o valoriza, não cuida, não respeita e lógico – não ama. Se amor é atitudes, como poderia ser ele uma expressão rude, embrutecida e horrenda?

A verdade é que a pessoa acredita que em se “doando” ela está praticando um amor incondicional. Impossível amar o outro, sem fazer a escola do amor em si mesmo. A ausência de amor próprio deturpa qualquer tentativa de amar alguém. Perceba que amor só é verdadeiro ao outro quando primeiro eu sei me amar, e se me amo, não aceito nada daquilo que me prejudique e me diminua quanto ser humano. Sem o amor próprio é anulada a reciprocidade sadia do amor verdadeiro.

A pessoa que se ama se valoriza, se cuida, não se permite ouvir palavras que a rebaixam ou xingamentos, não se dilui para que o outro seja inteiro em suas covardias, não se entrega às humilhações para não se sentir sozinha – isso é uma ilusão, pois má companhia é estar só e entregue ao inferno que é viver ao lado de quem não te ama.

Amor é algo puro, sublime, só tem prazer no que é bom, nunca se alegra com a injustiça, se sofrer sofre junto, se doer, dói junto, cresce dia após dia na lida – nunca é apenas um em detrimento do outro. O amor não exige do outro perfeição, afinal ninguém alcançaria tal intento, mas requer coerência, o que é justo e fonte do bem e claro a reciprocidade, caso contrário é puro engano.

As pessoas estão tão carentes que se entregam a pseudo-amores fingidos, egoístas, malandros, maliciosos, mentirosos, abusivos e traiçoeiros, faz-se de tudo para não estar sozinho no ambiente – mas emocionalmente nada disso compensa.

Vejo tantos esfacelados, faltando pedaços e discernimento para resolver-se; pessoas que não conseguem mais estar de pé depois de tantas rasteiras, outros com corações empedernidos, mentalidade engessada depois de tanto sofrimento. Diz em seu discurso ter amado tanto e nunca foi amado.

Na verdade nunca amou, no máximo gostou de algo que a atraiu num primeiro momento acalentado pelas fantasias mas que mais tarde trouxe terrível desgosto. Nunca amou pois o amor verdadeiro exige de mim que eu me ame primeiro. O amor tem caráter e sendo assim, requer muito de mim e do outro. Se nos permitimos ser abusados de todas as formas em “nome do amor”, essa é a maior mentira que contamos a nós mesmos.

A questão é que muitos são infantis demais, querem algo que não corresponde com a realidade, desejam contos de fadas com monstros de filmes de terror, com pessoas que não amam e não se permitem serem amadas.

O dia que amarmos a nós mesmos de verdade, seremos centelhas do bem que se unem a tantas outras centelhas iguais até iluminar as trevas que encobre por todo lado. E quando isso acontecer, amaremos e seremos amados naturalmente, sem a mania de controle, sem implorar e sofregar ao outro o que ele não tem pra oferecer, e se nada tem a oferecer de amor, não me obrigo a estar próximo do próximo que nada tem. Carinho é tão bom, qual a necessidade de viver sempre recebendo a indiferença e a insensatez do outro?

Falta coragem pra muitos de encarar o chão da vida sem o medo e a impressão de ficar sozinho. Desamarre-se, se liberte dessa dependência e do costume do que é ruim, siga em liberdade, com coração leve, perdoe e fique livre das correntes da amargura.

Ame-se, encontre o equilíbrio para exercer esse discernimento para que possas ser capaz de fugir das paixões mascaradas de amor e da cobiça que a carência gera no coração.

Deniza L. Zucchetti é escritora nas horas vagas e mãe em período integral

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