Nova onda de frio ameaça campo e pode elevar preço de café, frutas e hortaliças

"O fenômeno aumenta exponencialmente o desafio dos produtores rurais em manter o nível de produtividade no campo e o planejamento de negociação dos alimentos", aponta nota da Faesp

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Nova onda de frio ameaça campo e pode elevar preço de café, frutas e hortaliças
*ARQUIVO* CANARANA, MT, BRASIL 04.04.2017 Colheita de soja em Canarana (MT) (Foto: Mauro Zafalon/Folhapress)

Leonardo Vieceli e Katna Baran – A previsão de uma nova onda de frio intenso nesta semana ameaça tanto plantações quanto o bolso de consumidores no país. É que a temperatura em queda livre, acompanhada de geada, pode causar estragos no campo e, assim, tende a pressionar preços de produtos cultivados em parte do Sul e do Sudeste.

Café, hortaliças e frutas integram a lista de mercadorias que podem ficar mais caras em caso de novos prejuízos nas plantações.

A Metsul Meteorologia informou nesta segunda (26) que o ar polar começa a ingressar no Rio Grande do Sul nesta terça (27) e deve atingir o Centro-Oeste e o Sudeste nesta quarta (28). Conforme a previsão, a bolha de ar gelado será responsável por “acentuado resfriamento em diversos estados”.

“O fenômeno aumenta exponencialmente o desafio dos produtores rurais em manter o nível de produtividade no campo e o planejamento de negociação dos alimentos. Culturas como café, milho, cana-de-açúcar, trigo, banana e mandioca podem ser as mais prejudicadas com a chegada dessa frente fria”, aponta nota divulgada nesta segunda-feira pela Faesp (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo).

O pesquisador Felippe Serigati, do centro de estudos FGV Agro, também ressalta que as temperaturas em queda trazem preocupação para o campo. Caso haja perda em lavouras, o impacto certamente chegará aos consumidores, diz o especialista.

“Esse efeito nos preços não chega às prateleiras dos supermercados imediatamente, mas chega. O impacto tende a ser mais rápido naqueles produtos de ciclo mais curto, como hortifrúti.”

Serigati lembra que plantações de café já foram prejudicadas por geadas neste mês em Minas Gerais. Em meio aos prejuízos, as cotações do produto passaram a subir no mercado internacional. O Brasil é o maior produtor mundial de café.

Os contratos futuros do grão arábica avançaram quase 10% nesta segunda, depois de uma alta de quase 20% na semana passada. Com a previsão da nova onda de frio, agricultores mineiros continuam em alerta.

“O cenário é preocupante. Já houve uma geada no dia 20, que atingiu municípios produtores de café em Minas e São Paulo. O alerta segue ligado”, diz Ana Carolina Alves Gomes, analista de Agronegócios do Sistema Faemg (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais).

A entidade ainda contabiliza os estragos da onda anterior de frio. Segundo a Faemg, também houve registros de perdas em outras lavouras mineiras, incluindo cana, citrus, grãos, pastagem para pecuária, frutas e hortaliças.

Conforme a Metsul, Rio Grande do Sul e Santa Catarina podem enfrentar de seis a sete dias seguidos com mínimas abaixo de 0ºC a partir desta semana. Além da geada, há possibilidade de neve em áreas de maior altitude do Sul.

A Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), vinculada ao governo catarinense, é uma das instituições que alertam para o risco de prejuízos no campo.

O coordenador de fruticultura da Epagri, Sergio Neres da Veiga, diz que a ocorrência de geada pode causar danos a plantações de frutas que estão em fase mais avançada de brotação, como o pêssego, em Santa Catarina.

“Muitas plantas já estão florescendo. Então, o frio e a geada podem prejudicar”, diz.

Veiga ressalta que o cultivo de hortaliças também pode ser abalado pelas temperaturas em queda. “[A situação] pode impactar os preços, inclusive a curto prazo. Alface e repolho, por exemplo, podem ser queimados pela geada. Isso diminuiria a oferta por uns 15, 20 dias”, ressalta.

No Paraná, as lavouras de milho, já impactadas pelas geadas do último mês, podem sofrer mais com a nova frente fria, reduzindo a expectativa de colheita em até metade no estado. Como o plantio da cultura já ocorreu com atraso diante da falta de chuva e do retardamento na produção anterior, de soja, o prejuízo deve pesar no bolso do produtor.

“Os preços otimistas do milho fizeram com que o produtor arriscasse, aumentando as áreas de plantio em 7% no estado, mas parte não conseguiu cobertura de seguro, já que estava fora do calendário. E, agora, além da escassez hídrica e de pragas, temos a geada para atravessar”, aponta Salatiel Turra, chefe do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e do Abastecimento do Paraná.

Assim, a estimativa de colheita de 14 milhões de toneladas do grão deve ser reduzida para até 7 milhões. O impacto na safra também deve chegar ao consumidor, já que o milho paranaense é destinado principalmente para consumo interno e alimento para animais.

“Houve uma crescente na produção de proteína animal, ninguém esperava o plantio atrasado e essa geada. Então, o preço deve ser puxado para cima e, consequentemente, na prateleira, o consumidor é quem paga”, afirma o produtor Diogo Sezar de Mattia, de São Miguel do Iguaçu, extremo oeste do Paraná. A região é uma das mais impactadas pelas perdas.

O trigo paranaense também tem sofrido com o impacto do clima, segundo Turra, já que, na semana passada, cerca de 9% das plantações ainda estavam em fase de floração, mais suscetíveis a danos com geadas. Ele aponta que o número deve ter crescido nos últimos dias. O impacto pode ser ainda maior sobre essa cultura.

O Rio Grande do Sul não deve ter prejuízo com o milho porque essa colheita já está praticamente finalizada, já que no estado os agricultores conseguiram plantar a cultura na época correta. A preocupação ocorre sobre parte das lavouras de trigo, caso sejam expostas à geada forte a partir de agosto ou setembro. É que, em julho, essa cultura ainda está em fase vegetativa no estado, o que reduz riscos de danos.

“O frio não é um problema agora”, pontua Alencar Rugeri, diretor técnico da Emater-RS, que acompanha a agricultura gaúcha.

Em Santa Catarina, acostumados com o frio intenso nesta época, produtores também investem nas culturas de inverno, principalmente de cereais. Mesmo assim, como aponta Alexandre Alvadi Di Domenico, presidente da Aprosoja-SC (Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Santa Catarina), as perdas não estão descartadas.

“Com certeza vai ter algum estrago, principalmente sobre trigo, cevada e aveia, mas nada comparado ao Paraná.”
No Centro-Oeste, a Aprosoja-MS diz que as previsões de nova onda de frio não preocupam produtores, porque lavouras de milho já foram impactadas com geadas entre os dias 28 de junho e 1º de julho. A entidade afirma que a produção também foi abalada pela seca.

A estiagem no Brasil já reduziu as perspectivas para várias safras, incluindo café, açúcar e milho segunda safra. A corretora de commodities Marex Spectrum disse nesta segunda-feira que algumas fazendas de cana-de-açúcar no país tiveram até 35% das lavouras danificadas por geadas, embora o impacto geral tenha sido menor. As estimativas para a produção de açúcar do Brasil provavelmente cairão, acrescentou a análise.

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