Má recebida por alunos e aprovada por professores: lei que proíbe celulares em escolas divide opiniões em Goiás

Presidência da República sancionou legislação que veda uso dos aparelhos em escolas públicas e particulares

Paulo Roberto Belém Paulo Roberto Belém -
Má recebida por alunos e aprovada por professores: lei que proíbe celulares em escolas divide opiniões em Goiás
Foto: LBeddoe/Shutterstock

Sancionada pela Presidência da República em meados de janeiro, a lei federal que proíbe o uso de celular e outros aparelhos eletrônicos portáteis em escolas públicas e particulares está efetivamente valendo. A norma vale, inclusive, no recreio e intervalo entre as aulas, e é voltada para a educação infantil e os ensinos fundamental e médio.

Para avaliar a aplicação da legislação, o Portal 6 falou com personagens que estão expostos à questão no dia a dia, para entender se a medida tem sido aplicada nas redes de ensino e como tem sido recebida por pais, alunos e professores.

Momento conveniente

Lecionando para alunos entre o 6º e o 8º ano do ensino fundamental, na rede municipal de Aparecida de Goiânia, a professora Eurene Parreira convive diariamente com pré-adolescentes a partir dos 11 anos de idade. Segundo ela, o respaldo federal veio em um momento conveniente.

“Em uma sala cheia, com 35 alunos, em média, muitos se dispersavam com redes sociais, fazendo dancinhas, gravações indevidas e até ‘lives’. Eles não conseguem filtrar, tornando o estudo sem importância”, considerou.

A educadora disse estar usando da lei, de fato, e que os alunos reagiram mal, inicialmente. “Entretanto, houve uma melhora excepcional porque desafiavam as nossas orientações de não uso. Estão acostumando”, ressaltou.

Confirmou o trabalho

Já o professor Hugo de Oliveira, que dá aulas de sociologia e filosofia para alunos do 9º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio em um colégio estadual de Goiânia, disse que a proibição integral existe antes da lei federal.

Ele explicou porque já praticavam a ideia. “Sempre foi um problema, seja na concentração, outros com fone de ouvido, sem prestar atenção, olhando para baixo e estando perdidos no conteúdo”, resumiu.

A proibição antecipada, segundo o docente, foi com base na lei estadual. “Uma luta porque sempre se debatia essa conscientização, tentando colocar regras com os próprios. Só que em umas duas semanas se respeitava e depois enfraquecia”.

Sobre como é proibir, ele citou o método mais eficaz de se fazer o controle. “A gente disponibiliza caixas que os alunos depositam os aparelhos ao chegarem na escola”, explicou.

Em relação à lei federal, o profissional cita a importância: “foi bom porque confirmou o trabalho que já estava sendo feito”.

Sempre existiu

Outro professor da rede particular que leciona para o ensino médio, atuando em Goiânia e Anápolis, disse à reportagem que a proibição em escolas particulares sempre existiu. “Os alunos sempre foram ‘podados’ de usar o celular”, disparou.

O profissional, que pediu para não ser identificado, ainda detalhou como ocorre, em caso de descoberta do uso.

“Quando se usa o celular, o aluno é repreendido, pede-se para guardar e se repetir o ato, sai de sala e vai para a coordenação e direção”, explicou.

“Então, mesmo com a lei, continuou praticamente da mesma maneira”, arrematou.

Positiva, mas nada fácil

O tema é bastante sensível para a autônoma Tatiane Brito. Ela, que é mãe de Giovanna, de 15 anos, Isadora, de 10, e de Thomas, de 05, disse que a questão envolve, por enquanto, a filha mais velha.

“A Giovanna começou a levar o celular para escola a partir do 6º ano e a escola conseguia controlar. Entendo que, agora, do 9º para o ensino médio, o uso é mais constante e sem moderação”, avalia.

A autônoma defende a interação que deve haver no ambiente escolar e que a adolescente concorda com a ideia. “Fugir dessa chuva de notificações, de ansiedade e poder estar em convívio com os colegas”, entende.

Tatiane ainda comenta a resistência que existe de alguns pais e responsáveis, que defendem o uso para questão de comunicação com os seus filhos. “Acho que esse contato deve haver com a coordenação. É um método a ser aplicado em qualquer instituição”, define.

Sobre a aplicação da lei, ela acredita ser algo positivo, mas nada fácil. ”Somente a lei não vai adiantar muita coisa. Deve ter colaboração dos alunos, pais, coordenadores. Só vai valer se houver uma união de esforços”, conclui.

Paulo Roberto Belém

Paulo Roberto Belém

Jornalista profissional, com passagem por veículos radiofônicos e impressos. Também possui experiência em assessoria de comunicação. Atualmente, dedica-se à cobertura do cotidiano de Goiás, sempre buscando aprofundar os temas com responsabilidade, sensibilidade e apuração rigorosa.

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