Má recebida por alunos e aprovada por professores: lei que proíbe celulares em escolas divide opiniões em Goiás
Presidência da República sancionou legislação que veda uso dos aparelhos em escolas públicas e particulares
Sancionada pela Presidência da República em meados de janeiro, a lei federal que proíbe o uso de celular e outros aparelhos eletrônicos portáteis em escolas públicas e particulares está efetivamente valendo. A norma vale, inclusive, no recreio e intervalo entre as aulas, e é voltada para a educação infantil e os ensinos fundamentai e médio.
Para avaliar a aplicação da legislação, o Portal 6 falou com personagens que estão expostos à questão no dia a dia, para entender se a medida tem sido aplicada nas redes de ensino e como tem sido recebida por pais, alunos e professores.
Momento conveniente
Lecionando para alunos entre o 6º e o 8º ano do ensino fundamental, na rede municipal de Aparecida de Goiânia, a professora Eurene Parreira convive diariamente com pré-adolescentes a partir dos 11 anos de idade. Segundo ela, o respaldo federal veio em um momento conveniente.
“Em uma sala cheia, com 35 alunos, em média, muitos se dispersavam com redes sociais, fazendo dancinhas, gravações indevidas e até ‘lives’. Eles não conseguem filtrar, tornando o estudo sem importância”, considerou.
A educadora disse estar usando da lei, de fato, e que os alunos reagiram mal, inicialmente. “Entretanto, houve uma melhora excepcional porque desafiavam as nossas orientações de não uso. Estão acostumando”, ressaltou.
Confirmou o trabalho
Já o professor Hugo de Oliveira, que dá aulas de sociologia e filosofia para alunos do 9º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio em um colégio estadual de Goiânia, disse que a proibição integral existe antes da lei federal.
Ele explicou porque já praticavam a ideia. “Sempre foi um problema, seja na concentração, outros com fone de ouvido, sem prestar atenção, olhando para baixo e estando perdidos no conteúdo”, resumiu.
A proibição antecipada, segundo o docente, foi com base na lei estadual. “Uma luta porque sempre se debatia essa conscientização, tentando colocar regras com os próprios. Só que em umas duas semanas se respeitava e depois enfraquecia”.
Sobre como é proibir, ele citou o método mais eficaz de se fazer o controle. “A gente disponibiliza caixas que os alunos depositam os aparelhos ao chegarem na escola”, explicou.
Em relação à lei federal, o profissional cita a importância: “foi bom porque confirmou o trabalho que já estava sendo feito”.
Sempre existiu
Outro professor da rede particular que leciona para o ensino médio, atuando em Goiânia e Anápolis, disse à reportagem que a proibição em escolas particulares sempre existiu. “Os alunos sempre foram ‘podados’ de usar o celular”, disparou.
O profissional, que pediu para não ser identificado, ainda detalhou como ocorre, em caso de descoberta do uso.
“Quando se usa o celular, o aluno é repreendido, pede-se para guardar e se repetir o ato, sai de sala e vai para a coordenação e direção”, explicou.
“Então, mesmo com a lei, continuou praticamente da mesma maneira”, arrematou.
Positiva, mas nada fácil
O tema é bastante sensível para a autônoma Tatiane Brito. Ela, que é mãe de Giovanna, de 15 anos, Isadora, de 10, e de Thomaz, de 05, disse que a questão envolve, por enquanto, a filha mais velha.
“A Giovanna começou a levar o celular para escola com uns 06, 07 anos, e a escola conseguia controlar. Entendo que, agora, do 9º para o ensino médio, o uso é mais constante e sem moderação”, avalia.
A autônoma defende a interação que deve haver no ambiente escolar e que a adolescente concorda com a ideia. “Fugir dessa chuva de notificações, de ansiedade e poder estar em convívio com os colegas”, entende.
Tatiane ainda comenta a resistência que existe de alguns pais e responsáveis, que defendem o uso para questão de comunicação com os seus filhos. “Acho que esse contato deve haver com a coordenação. É um método a ser aplicado em qualquer instituição”, define.
Sobre a aplicação da lei, ela acredita ser algo positivo, mas nada fácil. ”Somente a lei não vai adiantar muita coisa. Deve ter colaboração dos alunos, pais, coordenadores. Só vai valer se houver uma união de esforços”, conclui.