Cidade brasileira já foi maior que muitas capitais e hoje quase ninguém lembra
Um passado surpreendente que desafia os olhares para além dos grandes centros

Quando se pensa em cidades de destaque no Brasil do século XIX, as habituais lembranças são Rio de Janeiro, Salvador e Recife.
Mas havia no Norte Fluminense, naquele tempo, uma verdadeira metrópole da produção açucareira: Campos dos Goytacazes. Em 1873, seu recenseamento urbano registrou 19.520 habitantes e rural 69.305, totalizando 88.825 pessoas — o que o coloca como um dos maiores municípios do país na época.
No cenário imperial, fugindo à lógica de desenvolvimento que vigorava mais tarde, Campos despontava. Isso porque, segundo estudos, ela “ficava no nível dos grandes centros nacionais … classificada como 4.º município brasileiro em população” no período imperial, à frente de muitos que hoje são vultos urbanos.
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O motor dessa ascensão foi o açúcar. A região reunia centenas de engenhos — em 1875 contabilizavam-se 245 em torno de Campos — e utilizava intensamente a mão de obra escrava. A engenhosa localização junto ao Rio Paraíba do Sul e ao litoral favorecia a exportação direta para Europa e Estados Unidos.
Ali, a aristocracia agrária impunha poder e infraestrutura: ferrovias, iluminação pública e até sistema de água tratado — raridades para o Brasil daquele século.
Mas o que mudou?
Com o fim da escravidão em 1888 e a intensificação de produção em outras regiões, o ciclo açucareiro entrou em declínio. A concorrência nacional e os custos elevados de produção alteraram a centralidade de Campos.
Ao longo do século XX, a cidade deixou de figurar entre os gigantes urbanos, sendo superada por megalópoles que se desenvolveram em torno do café, da indústria e dos grandes fluxos migratórios.
Hoje, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Campos dos Goytacazes tem cerca de 483.551 habitantes, o que o coloca como quinta cidade mais populosa do estado do Rio de Janeiro — e a maior em extensão territorial no estado, com mais de 4.000 km².
No entanto, o brilho de outrora ficou no passado — raramente a cidade aparece entre as grandes narrativas de urbanização brasileira, embora sua relevância histórica tenha sido imensa.
Reconhecer essa trajetória é mais do que um exercício de memória: é perceber como os padrões econômicos, sociais e territoriais mudaram no Brasil. Campos dos Goytacazes foi, por décadas, um epicentro agrário-exportador, poderoso do Império brasileiro. Hoje, ela segue ativa — universitária, industrial, com fatia no petróleo da Bacia de Campos —, mas sem o protagonismo nacional dos séculos passados.
Em um país cuja história urbana frequentemente se concentra nos mesmos centros, vale lembrar que há cidades que lideraram a nação em seus dias áureos. E Campos é uma delas — com seu passado de engenhos, navios-vapor, eletricidade pioneira e população que já rivalizava capitais.
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