A hora do desapego e da sabedoria do PSDB de Anápolis
A prática da Política apresenta algumas características inegáveis para qualquer integrante de seu cotidiano. Uma delas, concernente ao próprio ser humano, é saber que sempre haverá um debate que irá esbarrar na vaidade de seus protagonistas. Por mais que discutam-se projetos e planos coletivos com interesses voltados para as massas, haverá sempre um momento em que seus agentes públicos colocarão suas vontades pessoais em patamar de igual ou superior importância ao tema principal.
Isto, longe de ser exclusividade da política, pertence ao humano. Em todos os setores de atuação que demandem a reunião de diversos atores para determinada função, é mais que natural que tenhamos um jogo de vaidades. A diferença entre o sucesso e o fracasso de um projeto, seja ele político, empresarial ou de quaisquer outras naturezas, é justamente saber o quanto se permite entrar de vaidade na mesa de decisões.
Outro ponto característico e bastante presente na lide política é a sabedoria do aprendizado com o passado. Principalmente sobre os erros e fracassos do passado. É realmente questionável compreender lições e obter sabedoria na vitória. No êxito, apenas comemora-se. No entanto, é no momento de revés que se pode ter a chance de compreender os movimentos em falso, os equívocos de estratégia e, aí sim, aplicar seus ensinamentos em projetos futuros.
O PSDB na cidade de Anápolis pode ser um bom exemplo destes dois fatores que, muitas vezes, são preponderantes para fazer a diferença entre obter a vitória ou amargar a derrota nas urnas. Em 2000, quando fui candidato a prefeito, obtendo a vitória depois de ser considerado um azarão, pude contemplar a capacidade de comprometimento de um projeto por intermédio da vaidade.
Lançando minha candidatura em um partido pequeno, furei a fila e me tornei o candidato dos eleitores que naturalmente seriam do PSDB. E isto deu-se entre outros fatores, pela inoperância da legenda, paralisada por seus quadros. O jogo da vaidade envolvido acabou por consumir todo a perspectiva de poder do partido. A possibilidade real de vencer as eleições fez com que nomes fortes como Maurity Escobar, Pedro Canedo, Edward Jr e José Lopes se perdessem em uma infrutífera disputa interna que acabou por tornar-se mais importante que a disputa principal, ou seja, a corrida eleitoral daquele ano. O jogo de vaidades paralisou e prejudicou a campanha.
Disto isto, vem a segunda observação: a capacidade de observar os erros do passado e tentar realizar diferente. É o momento do PSDB municipal praticar o desapego e por fim – ou ao menos um limite – ao jogo de vaidades e se unir em torno de um único nome. Um quadro que possa de fato representar o que pensa a legenda e que tenha um canal de diálogo permanente com a cidade.
Ter um nome de consenso é adiantar o processo e lidar com a maturidade de quem quer vencer as eleições. Neste cenário, o PSDB de Anápolis hoje tem um quadro consistente, com valores ligados à cidade e aos setores tradicionais do município. Trata-se do chefe de gabinete do governador, o ex-deputado e ex-conselheiro do TCE, Frederico Jayme.
Jayme tem habilidade como gestor, foi presidente da Assembleia Legislativa e do Tribunal de Contas do Estado. Além disto, tem uma passagem importante como titular da Secretaria de Segurança Pública, tema que hoje está em voga e é item decisivo na cabeça do eleitor. Mesmo sendo a Segurança um compromisso do Estado, é fundamental às prefeituras que contribuam no combate à galopante violência. Quando prefeito, criei uma série de ações, dentre elas o inédito Banco de Horas, que reaproveitava as horas de folga dos militares em ações de monitoramento nas ruas.
Como um reconhecido anapolino, tem bases sólidas na cidade, tem uma folha de serviços prestados e é um exímio negociador da política, sabendo lidar com egos, vaidades, grupos e interesses diversos, naturais de todas as legendas. Além disto, o fato de possuir intimidade e confiança com o poder máximo do Estado, emanado do Palácio das Esmeraldas, pode atuar como um facilitador ainda maior das ações do Governo na cidade.
No entanto, tudo depende da capacidade do PSDB em identificar, acatar e aplicar as lições do passado e deixar para bem longe as disputas de ego e vaidade. Se novamente seus quadros lutarem pela perspectiva de vitória, ao invés de tentar alcançá-la, dificilmente o resultado será diferente do que todos vem obtendo desde 2000 para cá.
Ernani de Paula é ex-prefeito de Anápolis e empresário.