Por que somente flores não bastam

Dê os parabéns, ofereça flores mas também ajude nas tarefas domésticas, denuncie violência e não reproduza preconceito contra as mulheres

Carlos Henrique Carlos Henrique -
Por que somente flores não bastam

O Dia 08 de março vem a cada ano ganhando mais espaço na mídia, nos calendários escolares e nas ações de empresas e órgãos públicos. Entretanto é preciso nunca esquecer que esta data não nasceu como uma data comemorativa comercial como o Dia dos Namorados ou o Dia das Crianças, mas sim como uma forma de homenagear a luta ferrenha e aguerrida de mulheres por direitos fundamentais.

Este dia foi o primeiro Dia Internacional da Mulher foi celebrado em 28 de fevereiro de 1909 nos Estados Unidos e Na Rússia, as comemorações do Dia Internacional da Mulher foram o estopim da Revolução russa de 1917. Nos países ocidentais, o Dia Internacional da Mulher foi comemorado no início do século, até a década de 1920, tendo sido esquecido por longo tempo e somente recuperado pelo movimento feminista na década de 1960. Na atualidade, a celebração do Dia Internacional da Mulher perdeu parcialmente o seu sentido original, adquirindo um caráter festivo e comercial.

É óbvio que no campo dos direitos fundamentais e da igualdade legal já se avançou muito nos 98 anos desde a primeira comemoração do 08/03, mas o caminho é longo e ainda há muito o que conquistar como equidade nas relações de gênero, divisão de tarefas domésticas , igualdade entre postos políticos e cargos de chefia em organizações públicas e privadas.

Para se ter uma ideia do quanto ainda é preciso ampliar a liderança e a participação das mulheres na sociedade brasileira basta mencionar que embora sejamos maioria entre os que votam temos apenas 10% de deputadas, 14% de senadoras e 11% de prefeitas em nosso país hoje. E não para por aí: embora as mulheres sejam maioria em muitos cursos superiores e já estejam atingindo 50% de participação em cursos tradicionalmente considerados masculinos  elas ocupam apenas 19% dos cargos de chefia nas empresas de médio e grande porte e acordo com a pesquisa International Business Report (IBR) – Women in Business, realizada em 36 países pela empresa Grant Thornton, empresa de auditoria, consultoria e outsourcing.

Além da realidade fora de casa tem a questão do excesso de trabalho dentro de casa! Com a propagação do mito que a mulher consegue fazer tudo ao mesmo tempo e que isso é sinal de que ela é maravilhosa existe a continuidade da sobrecarga de trabalho nos ombros das donas de casa e em mais de 50% dos lares as mulheres são responsáveis por todas as tarefas domésticas. Não, mulheres não tem um dom para serem multi-tarefas, acredite mas elas estão é literalmente sobrecarregadas.

Como se não bastasse ainda tem a questão da violência específica contra a mulher, já que o Brasil está infelizmente entre os 5 países aonde acontecem mais feminicídios no mundo.  Segundo os dados da Secretaria de Políticas para as Mulheres e Pesquisa Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, o Brasil tem mais de 5.550 municípios e apenas 497 delegacias especializadas de atendimento à mulher e 160 núcleos especializados dentro de distritos policiais comuns a incrível e minúscula quantidade de apenas 91 juizados/varas especializadas em violência contra a mulher, 59 núcleos especializados da Defensoria Pública, 9 núcleos especializados do Ministério Público.

Por isso, embora eu ame flores e bombons e goste de recebê-los eu acredito que é necessário nunca deixar de dizer que eles não são suficientes. Dê os parabéns, ofereça flores mas também ajude nas tarefas domésticas, denuncie violência e não reproduza preconceito contra as mulheres.

E os parabéns nesta data não devem ser exclusivamente das mulheres, mas sim de todos os que lutam e constroem uma sociedade mais justa e humana  onde todos os gêneros tenham os mesmos direitos, deveres  e oportunidades.

Então amigos, agradecemos as flores e as homenagens desejando que elas venham acompanhadas de apoio para a construção de um mundo mais igualitário.

Eva Cordeiro é economista, professora universitária e diretora de Indústria e Comércio do município de Anápolis.

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