“Quero Justiça”: o relato da mãe que encontrou a filha nua e machucada em motel de Anápolis

Em entrevista ao Portal 6, ela conta que a filha foi levada ao local por um motorista de aplicativo e que não conseguiu prestar depoimento no dia porque havia sido dopada por ele

Denilson Boaventura Denilson Boaventura -
“Quero Justiça”: o relato da mãe que encontrou a filha nua e machucada em motel de Anápolis

A mãe que encontrou a filha nua e machucada em um motel de Anápolis no último domingo (23) quer Justiça.

A audiência de custódia com o motorista de aplicativo, de 22 anos, que foi preso em flagrante pela prática de violação sexual mediante fraude está marcada para a manhã desta terça-feira (25).

Em entrevista ao Portal 6, a mulher sustenta que em nenhum momento houve consentimento e que a filha teria sido dopada com um comprimido durante o trajeto da corrida — razão de não ter conseguido prestar depoimento na hora denúncia.

Narra que chegou primeiro que a polícia no motel para salvar a filha e que o motorista de aplicativo ainda teria tentado fugir. Conta que pela situação encontrada no quarto achou que a jovem estava morta.

Revela ainda que a filha, que faz 21 anos hoje (24), aguarda ser ouvida na Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM). Para preservar a jovem, a identidade dela e da mãe não serão reveladas.

Leia a íntegra do relato:

“No dia ela me disse que queria sair. Principalmente nessa pandemia, estamos o tempo todo dentro de casa. Como ela queria comemorar o aniversário dela, que é hoje, e não estou fazendo nada em casa para não aglomerar, acabei deixando.

Ela foi em um bar e me garantiu que lá não está tendo aglomeração por causa dos decretos, que todos usam máscaras. Ela estudou no colégio militar, estava com uns amigos, um primo e meu filho. Dentro desse bar ela disse que não aconteceu nada.

Ela não tem costume de beber e brigou com o irmão porque soube por ele que meu sobrinho foi embora de lá porque ela tinha bebido. Meu filho tem 17 anos, estava acompanhando ela e chamou um Uber para virem embora. Mas ela disse que não ia com ele e chamou outro.

Os dois carros chegaram juntos, meu filho disse que ia com ela sim, mas o carro que ela estava arrancou quando meu filho se afastou para dispensar o outro. AÍ meu filho já ligou pro meu marido contando que uma coisa estranha estava acontecendo.

Meu marido foi lá buscar ele e ela não chegava em casa. Nisso eu ligando pra ela. O celular dela tava online e não respondia, recusava todas as chamada. Ela nunca fez isso e eu estranhei pois senti nesse momento que o telefone não estava com ela.

Aí mandei mensagem pedindo pra atender, falando que o pai estava atrás dela, que tinha câmera e já sabia qual Uber ela tinha pego. Enquanto isso meu menino ficou ligando pra ela aí esse rapaz [o motorista de aplicativo] atendeu o telefone.

Meu filho colocou no viva voz, perguntou onde estavam e esse rapaz disse que se falasse onde estavam, íamos querer bater nele. Eu falei que não estava interessado nele, que queria minha filha. Ele me fez prometer que não ia chamar polícia e disse que estava no motel.

Peguei meu telefone, liguei no motel, contei da situação e falei pra mulher que tinha chamado a polícia, mas não tinha chamado ainda. Ela me perguntou o quarto e disse que não ia deixar ele sair. Cheguei primeiro que a polícia.

Quando cheguei, o carro dele não estava na garagem, estava rente ao portão pra sair. Aí meu marido já viu a cena. Eu achei que ela estava morta, estava toda machucada, eu tentando acordar ela e não acordava, achei preservativo, foi aquela tristeza.

Fomos pra delegacia, IML e os PMs viram tudo. Um deles até pegou água e dava na boca dela pra ver se ela fazia xixi para o exame toxicológico, mas ela estava mais morta que viva. Aí o policial, com toda paciência, a levou no Hospital Municipal pra passar sonda para colher.

No Municipal chegou um pessoal dele [motorista de aplicativo], não sei se amigo ou parente, falando que o cara foi besta, que tinha pegado vagabunda e levado pra motel.  Disseram também que a outra vagabunda da mãe, que sou eu, ainda deu queixa.

Na delegacia, ficaram fazendo chacota, falando que ele ia sair da cadeia primeiro que a gente.  Minha menina não tinha condição de dar depoimento. Como uma pessoa dopada dá depoimento? Eu ainda forcei ela, ela só falava do bar, do irmão, só essa lembrança ela tinha.

Ela não estava respondendo por si. Estava com perna ferida, roupa rasgada, galo na cabeça e dopada. A gente chegou em casa por volta de 14h. Estava desde 02h45 da manhã na luta com ela. Estava anestesiada, não sentia nada.

Em casa, ela dormiu até perto das 20h e então começou a lembrar. Reclamou de dor no corpo, na cabeça. Ela lembra que chegou no motel e disse que quando viu que não estava em casa, disse queria ir embora e ele não quis deixar sair. Falou que estava fraca e que apanhou.

Ela contou ainda que estava com duas gim tônica na mão quando entrou no carro e uma estava aberta. Ele ofereceu balinha e, no momento que aceitou a balinha, colocou a gim aberta no porta copo do carro e depois não viu mais nada.

A gente voltou lá ontem à noite, ela queria dar o depoimento. A escrivã disse que o caso estava no 2º DP, ligamos lá hoje o rapaz responsável não tinha chegado, dai encaminharam pra DEAM, aí não podia dar depoimento hoje e marcou pra quarta-feira.

Queria saber que boletim é esse que ele disse que minha filha arrumou relacionamento no caminho? Como assim não foi estupro? E quem bateu nela? Soube que uma audiência custódia está marcada para amanhã. Quero Justiça. É um absurdo ele sair.”

Com a palavra, a Uber

A Uber considera inaceitável e repudia qualquer ato de violência contra mulheres. A empresa acredita na importância de combater, coibir e denunciar casos dessa natureza às autoridades competentes. Ao que tudo indica pelas informações apresentadas, o caso não teria ocorrido durante viagem com o aplicativo. De qualquer forma, a conta do motorista parceiro foi desativada assim que tomamos conhecimento do episódio e a empresa está à disposição para colaborar com as investigações, na forma da lei.

A Uber defende que as mulheres têm o direito de ir e vir da maneira que quiserem e têm o direito de fazer isso em um ambiente seguro. Todas as viagens com a plataforma são registradas por GPS. Isso permite que em caso de incidentes nossa equipe especializada possa dar o suporte necessário, sabendo quem foi o motorista parceiro e o usuário, seus históricos e qual o trajeto realizado.

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