Joseph Safra se tornou o homem mais rico do Brasil e símbolo da era dos grandes banqueiros
Fortuna do magnata ultrapassa os R$ 110 bilhões
Oscar Pilagallo, de SP – Discreto por natureza e por exigência da atividade profissional, o banqueiro Joseph Safra ocupou a contragosto o noticiário de um dos desdobramentos da crise econômica mundial iniciada em 2008.
Na época, o banco Safra tinha US$ 300 milhões de clientes aplicados com o norte-americano Bernard Madoff, notório por não ter honrado seus compromissos depois que desabou seu esquema ilegal de pirâmide financeira.
A crise não afetou Safra. Ao contrário, o empresário dobrou o patrimônio pessoal, em relação a 2007, para cerca de US$ 16 bilhões, ficando em segundo lugar no ranking das maiores fortunas brasileiras. Em 2020, como um patrimônio de R$ 119,08 bilhões, passou a ocupar o primeiro lugar da lista da revista Forbes.
O banqueiro Joseph Safra morreu nesta quinta-feira (10) aos 82 anos, em São Paulo. Segundo comunicado enviado pelo banco Safra, de causas naturais.
Aquele momento na crise foi emblemático. O problema era a imagem da instituição, algo central na atividade banqueira. Preocupado que tivesse sido arranhada, Safra, então com 70 anos, suspendeu o processão de sucessão e retomou o comando do banco. Só quando a tempestade passou, o empresário transferiu o bastão aos filhos.
O episódio mostra o estilo centralizador de um empresário que tinha certeza de que o êxito dos negócios dependia da confiança nele depositada. Com a sucessão cuidadosamente planejada, ele acreditava ter transmitido tal reputação à terceira geração de banqueiros da família.
Nascido no Líbano, em 1938, Safra chegou ao Brasil em meados dos anos 50. Em 1957, a família judaica criou o banco no país, dando continuidade ao ramo a que se dedicava desde 1920, quando Jacob, o patriarca, fundou em Beirute sua primeira instituição financeira.
Com perfil ágil e conservador, o Safra cresceu até se tornar um dos dez maiores bancos brasileiros.
Depois da morte de seu irmão mais velho, Edmond, num incêndio em seu apartamento em Mônaco, em 1999, Joseph disputou com outro irmão, Moise, o controle do banco. O processo, desgastante para as relações familiares, terminou em 2006, quando Joseph comprou a parte do irmão por estimados R$ 5 bilhões.
Mais conhecido como “seu José”, Safra vivia num bunker no Morumbi, cercado por obras de arte. Diariamente, ia de helicóptero para a sede do banco, na avenida Paulista. Costumava almoçar com os executivos do banco, no restaurante da empresa, que tem cardápio kasher, preparado segundo as tradições judaicas.
Mesmo sofrendo do mal de Parkinson, não deixava de fazer exercícios físicos e gostava de nadar. Dos lazeres, um dos preferidos era assistir aos jogos do seu Corinthians, inclusive nos estádios, onde ia com os netos e cercado de seguranças, em geral ex-agentes da Mossad, o serviço secreto de Israel.
Considerado bom negociador e dominando várias línguas, como inglês, francês, espanhol, árabe e hebraico, Safra, depois de “aposentado”, dedicou-se, em 2011, a uma última grande aventura empresarial: a compra do Sarasin, o prestigiado “private banking” do holandês Rabobank, que ampliou sua projeção internacional.
Casado com Vicky, Joseph Safra deixa os filhos Jacob, Esther, Alberto e David.