Insatisfação contra democracia é desafio do nosso tempo, diz Biden em abertura de cúpula

Presidente anunciou que os EUA planejam estimular a transparência e o acompanhamento público das ações do governo

Folhapress Folhapress -

RAFAEL BALAGO
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – As dificuldades enfrentadas pela democracia atualmente são o desafio definidor do nosso tempo, disse Joe Biden, presidente dos EUA, ao dar início à primeira Cúpula da Democracia, evento organizado pelo governo americano que pretende buscar novas formas de garantir a participação popular na política.

Em sua fala, Biden citou autocratas que tentam ampliar seu poder à força e o aumento da polarização política. “Estamos muito preocupados com toda a crescente insatisfação das pessoas pelo mundo com governos democráticos. Elas sentem que [os líderes] estão falhando em atender suas necessidades. Na minha visão, este é o desafio definidor do nosso tempo”, disse o democrata, na manhã desta quinta (9).

O líder americano estava em uma mesa, em frente a um telão que reunia videochamadas dos mais de 100 líderes estrangeiros participantes. O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PL), era um dos espectadores.

“A democracia precisa de defensores. Quis organizar esta cúpula aqui nos Estados Unidos porque sabemos que renovar nossa democracia e fortalecer nossas instituições democráticas requerem esforço constante. A democracia na América está em uma luta contínua para manter nossos ideais elevados e curar nossas divisões”, disse Biden. “A democracia não acontece por acidente. Precisamos renová-la a cada geração”.

Biden anunciou que os EUA planejam gastar US$ 224 milhões no ano que vem para estimular a transparência e o acompanhamento público das ações do governo. Sobre liberdade de imprensa, que o democrata chamou de “pedra fundamental da democracia”, será criado um fundo internacional para ajudar meios de comunicação independentes.

Haverá também outro fundo para ajudar jornalistas investigativos que sejam alvo de processos ao fazerem seu trabalho.

Novos anúncios de programas devem ser feitos ao longo do evento. A cúpula tem como eixos o combate ao autoritarismo, luta contra a corrupção e ampliação do respeito aos direitos humanos.

Cerca de 110 países foram convidados para o evento, que terá a maior parte das conversas feita de modo virtual.

Bolívia, China, Hungria e Rússia são alguns dos governos que ficaram de fora. A China tem feito ataques ao evento e diz que os EUA não podem se considerar a instância global que determina unilateralmente quem é, ou não, democrático.

Biden tem reconhecido que os EUA também enfrentam desafios com a democracia em seu próprio território e dito que os americanos buscam criar um encontro de troca de experiências entre vários países, sem imposições.

Após a fala do presidente, teve início uma reunião virtual prevista para durar duas horas entre os líderes dos países, a portas fechadas. A primeira hora será liderada pelo presidente americano, e a segunda, por Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, o braço executivo da União Europeia.

Depois, haverá debates abertos ao público sobre como reforçar a democracia, recuperar instituições após a pandemia e combater a corrupção. As discussões terão participação de governantes, especialistas e outros representantes da sociedade.

Na sexta (10), as atividades começam às 6h (8h em Brasília), com discurso de António Guterres, secretário-geral da ONU. Em seguida, haverá debates sobre proteção aos direitos humanos, combate ao autoritarismo e uso da tecnologia. Às 13h30 (15h30), Biden fará a fala de encerramento da cúpula.

Ao longo dos dois dias, serão exibidos, via internet, vídeos gravados com discursos dos líderes mundiais, nos quais eles devem dizer seus compromissos para reforçar a democracia. O vídeo com a fala de Bolsonaro não foi incluído na relação do material a ser exibido nesta quinta, e a programação de sexta ainda não foi divulgada.

No documento que formaliza os compromissos do Brasil, enviado aos organizadores da cúpula antes do evento, o governo brasileiro acusa a mídia tradicional de desinformação e pede liberdade de expressão na internet para vozes de diferentes ideologias.

Como na Cúpula do Clima, realizada em abril, a ideia é que os países façam um monitoramento conjunto dos avanços uns dos outros, sem que esteja claro quais seriam as punições em caso de retrocessos.

Apenas uma brasileira foi chamada para participar dos debates públicos oficiais do encontro. Na quarta (8), a ativista Patricia Zanella esteve em uma sessão sobre como ampliar a participação feminina na política. As apresentações da cúpula podem ser assistidas no site do evento, que oferece tradução em português.

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