Precisamos estabelecer um novo marco de investimentos na educação
Viralizou nas redes sociais no último final de semana o vídeo da professora de Língua Portuguesa Flor Pinto, que trabalha em uma escola pública de Canaã dos Carajás, interior do Pará, comemorando a aprovação de seus alunos no vestibular da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa). A professora pula, ri e chora de alegria, mas também se permite um desabafo para a colega que a filmava. “Ai, amiga, meus alunos estão passando na Unifesspa. Escola pública, amiga. Só a gente sabe…”, lamenta Flor.
Sim, a professora paraense está certa. Só quem conhece a realidade das escolas públicas do País sabe o quanto a situação é difícil na maioria dos casos. A realidade brasileira é de estruturas inadequadas e precarização da mão de obra, o que se soma à situação socioeconômica desfavorável dos alunos, que acabam praticamente expelidos da vida estudantil para buscarem o sustento em empregos que exigem menor qualificação (e, consequentemente, têm menor remuneração). Tive a oportunidade de ser professor da rede pública de ensino quando estava iniciando minha carreira como odontólogo e vi um cenário de profissionais abnegados se esforçando para superar a precarização do sistema educacional. Já faz quase 20 anos, mas a realidade ainda é muito parecida.
Segundo a 11ª edição do Mapa do Ensino Superior no Brasil, divulgado pelo Semesp em junho do ano passado, apenas 18,1% dos jovens de 18 a 24 anos estão matriculados no ensino superior e somente 17,4% das pessoas de 25 anos ou mais concluíram um curso. A meta do Plano Nacional de Educação (PNE) era o Brasil chegar em 2024 com pelo menos 33% dessa faixa etária ao menos ingressando na universidade. Não será possível alcançar, evidentemente.
Em 2019, o IBGE mostrou que somente 36% dos alunos da rede pública entram na faculdade. Já no caso dos egressos da rede particular de ensino, esse índice salta para 79,2%. Vejam a discrepância. Sem contar que muitos dos alunos mais humildes acabam sendo empurrados para a rede privada de ensino superior, mais fácil de entrar e com horários às vezes mais flexíveis, mas acabam largando o curso pela dificuldade de pagar as mensalidades.
A pandemia, que levou à adoção de aulas à distância para estudantes que muitas vezes não têm equipamento adequado e nem acesso a uma internet de qualidade para acompanhar os professores, foi aquela gota d’água que fez transbordar um oceano de mazelas. Acredito que a educação pública brasileira precisa ser repensada pelos gestores de uma forma que nunca ocorreu antes.
A tecnologia terá que entrar de vez nas escolas não somente na transmissão de aulas à distância, que é o básico, mas através de plataformas e aplicativos que sirvam realmente para aprimorar e testar o conhecimento dos estudantes. É preciso também trazer, de fato, o ensino tecnológico para dentro da grade curricular. Os investimentos em educação terão que ser potencializados nos próximos anos, sob pena do Brasil não conseguir formar o ambiente para alcançar um crescimento econômico sustentado, que é a meta que deveria nortear todo governante.
Márcio Corrêa é empresário e odontólogo. Preside o Diretório Municipal do MDB em Anápolis. Escreve todas as segundas-feiras. Siga-o no Instagram.
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