Adolescentes goianos estão deixando de usar camisinha e as consequências já podem ser observadas
Número de pessoas de 15 a 19 anos com HIV disparou nos últimos sete anos no estado. Médico infectologista Marcelo Daher faz alerta
O uso de camisinha entre adolescentes goianos caiu de 71,1% em 2009 para 64,4% em 2019, conforme Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em estudantes da capital que estão entrando no ensino médio.
Os responsáveis pela queda, segundo o estudo, foram os meninos. Na última relação, a redução na proteção entre eles foi superior a 12%, saindo de 72,2% para 59,4%. Em contrapartida, quanto às meninas, a utilização de preservativos quase dobrou: foi de 46,6% para 81,6% em dez anos.
Ao mesmo tempo, de 2009 para 2019, o percentual de adolescentes que já tiveram relações sexuais passou de 26,7% em 2009 para 19,9% em 2019. Para os alunos do sexo masculino, a proporção caiu de 38% para 25,9% no período, enquanto para as meninas, a proporção reduziu de 15,9% para 13,5%.
A pesquisa ainda aponta como os adolescentes tiveram acesso ao preservativo. O tópico compras na farmácia, mercado ou loja lidera a lista com 42,8%. Em seguida, 22,1% conseguiu com o parceiro sexual, 18% no serviço de saúde e 11,5% com pais ou responsáveis. Também foram citados como fonte de obtenção das camisinhas a escola (2%) e amigos ou colegas (1,1%).
HIV dispara
Enquanto o uso de preservativo entre os mais jovens caiu, o número de pessoas de 15 a 19 anos com HIV disparou em Goiás nos últimos sete anos.
Segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES), o primeiro caso registrado na faixa etária ocorreu em 2016. De lá para cá, os índices tiveram uma progressiva: foram dois em 2017, depois três em 2018, 15 em 2019 e 21 em 2020. No ano passado, 38 pessoas entre 15 e 19 anos tiveram HVI no estado.
Ao Portal 6, o médico infectologista Marcelo Daher diz que faltam campanhas de conscientização sobre o assunto. “Antigamente víamos muito, mas hoje está em falta. A doença é combatida com preservativo e o medicamento PrEP [Profilaxia Pré-Exposição], mas informação é o principal para reduzir esses índices”, enfatiza.
Segundo Daher, o público tem subestimado a doença. “Por um lado, o estigma deixou de existir e, por outro lado, passaram a considerar menos grave por ter tratamento. No entanto, a condição é muito séria, pode matar e dura o resto da vida, com a pessoa sempre tomando remédio”, enfatiza.
A conversa deve ser iniciada, inclusive, com os pré-adolescentes. “Quando a pessoa entra na puberdade, já temos que falar, de uma forma ou de outra. Não adianta achar que o jovem não sabe de nada”, afirma.