Rússia e Otan trocam ameaças após dano a gasoduto no Báltico

Uma nova crise sob as águas ganha corpo entre Rússia e Otan após um gasoduto ser atingido e ter de ser desativado

Folhapress Folhapress -

IGOR GIELOW

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Enquanto as preocupações globais são direcionadas à guerra entre Israel e o Hamas, uma nova crise ganha corpo entre a Rússia e a Otan na nova fronteira de atrito entre Moscou e aliança militar liderada pelos EUA: o mar Báltico.

Foi sob suas águas que um gasoduto ligando os membros da Otan Estônia e Finlândia, este um país que aderiu ao clube devido à invasão russa da Ucrânia, sofreu danos e teve de ser desativado há duas semanas. Uma linha de transmissão de dados que corria em paralelo também foi cortada.

Helsinque diz que o sistema Balticconector foi alvo de sabotagem, e pediu explicações tanto à China quanto à Rússia acerca da presença de navios seus na região. Diferentemente do que ocorreu nos dutos russos Nord Stream, no ano passado, não houve explosão submarina: os investigadores localizaram uma peça grande e pesada próxima da área afetada, sugerindo que ela foi jogada de uma embarcação.

Na sexta (20), o presidente da Letônia, Edgars Rinkevics, disse que a Otan deveria fechar as rotas marítimas russas no mar Báltico se for provada sua participação no incidente. O ato equivaleria a uma declaração de guerra. O pequeno Estado Báltico é vizinho da igualmente ex-república soviética da Estônia e também membro da aliança militar.

O Kremlin reagiu nesta segunda (23). “Eu repito mais uma vez: a Rússia não teve nada a ver com isso. Qualquer ameaça tem de ser levada a sério, não importa de quem venha. Qualquer ameaça à Federação Russa é inaceitável”, disse o porta-voz Dmitri Peskov.

Ele voltou a acusar os EUA e seus aliados pela explosão de 3 dos 4 ramais do sistema Nord Stream, que era a principal ligação entre a Rússia e a Alemanha antes da crise que levou à Guerra da Ucrânia — partir de quando os países europeus buscaram reduzir ao máximo a dependência de gás natural de Moscou, hoje em cerca de 15% de seu consumo, ironicamente passando por dutos no território de Kiev.

Washington nega envolvimento, e as investigações seguem na Suécia, Dinamarca e Alemanha. “Sobre isso, o senhor presidente [da Letônia] decidiu ficar quieto e não falar”, disse Peskov.

A crise na Ucrânia levou ao aumento generalizado da tensão na Europa, e o Báltico emergiu como um dos principais focos. Caças, bombardeiros e aviões-patrulha ocidentais e russos se interceptam mutuamente na região com grande frequência, e a entrada da Finlândia na Otan dobrou a fronteira terrestre entre a aliança e seus rivais históricos.

A Suécia, outro país nórdico com considerável musculatura militar e ação extensa no Báltico, ainda aguarda seu pedido de admissão ser aceito pela Turquia e pela Hungria, que estão segurando o pedido por motivos políticos diversos. Para aderir ao clube, todos os 31 membros têm de ratificar a ideia em seus Parlamentos.

A região já era um ponto complexo nas relações do Ocidente por abrigar três Estados ex-soviéticos: Estônia, Letônia e Lituânia. Em 2004, os três aderiram tanto à Otan quanto à União Europeia, consolidando o que Putin viu como uma crescente ameaça às fronteiras russas no pós-Guerra Fria.

Dez anos depois, ele anexaria a Crimeia após a derrubada de um governo simpático ao Kremlin em Kiev justamente para evitar a entrada da Ucrânia na Otan –processo que culminou na invasão de fevereiro de 2022.

Na Ucrânia, os russos prosseguem com sua tentativa de capturar Avdiika, cidade de Donetsk cuja queda é vista como prenúncio da tomada de toda a região no leste ucraniano. Até aqui, não tiveram sucesso, mas conseguiram no processo tirar tração da já claudicante contraofensiva de Volodimir Zelenski, que não logrou nenhum sucesso decisivo.

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