Ala do PT quer que Lula convide Marta Suplicy para voltar à sigla e ser vice de Boulos

Ex-prefeita virou persona non grata de petistas ao migrar para o MDB e votar em 2016 pelo impeachment de Dilma Rousseff

Folhapress Folhapress -
Marta Suplicy
Marta Suplicy. (Foto: Divulgação)

JOELMIR TAVARES E CAROLINA LINHARES

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma ala do PT, que inclui deputados das bancadas federal e estadual, passou a cogitar um convite para a ex-prefeita Marta Suplicy, que foi filiada à sigla por 33 anos, retornar ao partido e ser apresentada como opção para vice de Guilherme Boulos (PSOL) na eleição para a Prefeitura de São Paulo em 2024.

A hipótese circula sob ressalvas de diferentes lados. Marta virou persona non grata de petistas ao migrar para o MDB e votar em 2016 pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT), o que dificulta uma reaproximação. Pessoas a par da ideia, no entanto, dizem que um pedido do presidente Lula (PT) seria decisivo para convencê-la a voltar para a legenda.

Outro obstáculo é o fato de que Marta é secretária municipal de Relações Internacionais na gestão Ricardo Nunes (MDB), principal adversário de Boulos, e sempre manifestou apoio à reeleição do prefeito.

Ela também foi cotada para compor chapa com Nunes, o principal adversário de Boulos. A costura tinha o apoio do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, mas não teve o aval do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem o prefeito busca apoio na eleição.

Marta, que se engajou na campanha de Bruno Covas (PSDB) em 2020, saiu naquele ano do Solidariedade e desde então está sem partido.

Tanto líderes petistas quanto o próprio Boulos têm afirmado que a discussão sobre vice será feita apenas em 2024. Pelo acordo firmado entre as duas legendas, o PSOL cederá a posição ao PT e a vaga ficará preferencialmente com uma mulher, mas não existe hoje um nome que desponte como favorito –Ana Estela Haddad é uma alternativa bem vista, mas até agora ela não indicou querer o posto.

A hipótese de atrair Marta oito anos após sua desfiliação foi confirmada à reportagem por parlamentares do PT, alguns deles sob a condição de anonimato. Embora a secretária não tenha recebido uma sondagem formal, a expectativa é que ela possa ser convencida a pelo menos ouvir a proposta.

Procurada pela reportagem, a assessoria da secretária afirmou que ela não iria comentar as especulações.

A tese já chegou a interlocutores de Marta, que não descartam de imediato essa possibilidade, embora considerem que a tendência é a de que ela continue firme em seu compromisso com a gestão e a reeleição de Nunes. O que pesaria em sentido contrário seria justamente um pedido pessoal de Lula.

Para deputados que defendem o convite, o arranjo só teria chance de dar certo se fosse operado pelo presidente, com quem Marta mantém uma boa relação. Parlamentares chegam a dizer que, em caso de derrota do psolista, ela poderia ter como consolação algum cargo no governo federal.

A ideia é a de que Lula se envolva pessoalmente na articulação política na capital para auxiliar Boulos. Além do potencial eleitoral, o nome de Marta funcionaria como um aceno ao centro –ela representaria para Boulos o que Geraldo Alckmin (PSB) foi para Lula, dando o simbolismo de uma frente eleitoral ampla.

Mesmo após a saída conturbada do PT, Marta nunca rompeu com Lula e foi entusiasta da união de diferentes forças para elegê-lo em 2022. Em dezembro passado, ela participou com o então presidente eleito de um evento com catadores de materiais recicláveis na capital paulista.

Em 2020, Marta foi considerada para a vice do PT quando se discutia lançar a candidatura do ex-prefeito Fernando Haddad (PT), hoje ministro da Fazenda. No ano anterior, Lula chegou a falar que, se quisesse, a ex-petista poderia voltar para a legenda.

Sem Haddad na disputa, ela tomou outro rumo e acabou com Covas. O petista Jilmar Tatto terminou aquele pleito com 8%, pior resultado da história do partido na cidade.

Desta vez, o nome de Marta passou a ser mencionado mais como um desejo de quadros do partido do que como uma possibilidade concreta. Se, por um lado, todos calculam que ela agregaria votos da periferia a Boulos, por outro se admite que seria improvável ela deixar a gestão Nunes.

“Isso [a possibilidade de ser Marta] está andando, mas acho difícil, praticamente impossível. Ela está enraizada com o prefeito Ricardo Nunes”, afirma o deputado estadual Reis (PT). Para ele, muitos petistas “sentem saudade da Marta” e “prospectam o assunto”.

Na semana passada, o diretório municipal do PT se reuniu para tratar da vaga de vice na chapa de Boulos. O colegiado reforçou as diretrizes definidas no congresso dos diretórios zonais da capital, em agosto, quando a sigla formalizou o apoio a Boulos.

O partido estabeleceu que o nome para compor a chapa será escolhido no primeiro bimestre do ano que vem e que preferencialmente será uma mulher.

Entre os políticos ventilados para o posto, no entanto, há mais homens que mulheres –Juliana Cardoso, Rui Falcão e Eduardo Suplicy, todos deputados. Também é lembrada a presidente do Instituto Lula, Ivone Silva.

Líderes petistas avaliam que a eventual presença de Marta na chapa fortaleceria o nome de Boulos e serviria de contraponto à imagem de radical explorada por rivais do deputado federal. Será a primeira vez desde a redemocratização que o PT ficará sem candidato próprio na cidade.

Marta –figura importante do PT ao longo de três décadas, como deputada, senadora e ministra– tem sua passagem pela prefeitura (2001-2004) lembrada por marcas como a construção de CEUs (Centros Educacionais Unificados) e de corredores de ônibus, além da criação do Bilhete Único. Até hoje, parte da população acha que ela está ligada ao petismo.

Ela concorreu à prefeitura pelo MDB em 2016 e ficou em quarto lugar, com 10% dos votos válidos.

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