“Você espera que acabe logo e torce para não morrer”, diz modelo que denunciou delegado por estupro

Jade Fernandes realizou coletiva de imprensa e revelou os detalhes de como tudo teria acontecido

Maria Luiza Valeriano Maria Luiza Valeriano -
“Você espera que acabe logo e torce para não morrer”, diz modelo que denunciou delegado por estupro
Jade Fernandes afirmou que já foi vítima em outras ocasiões, mas trata-se da primeira vez que denuncia (Foto: Maria Luiza Valeriano/Portal 6)

“Eu literalmente apaguei”. Assim começa o relato da modelo trans, Jade Fernandes, de 23 anos, que denunciou ter sido vítima de estupro na última sexta-feira (05), em Goiânia.

Em meio às falhas de consciência, se recordando apenas de “vultos e muito sangue”, a goiana veio a público explicar o que teria ocorrido após o suspeito, o delegado Kleyton Manoel Dias, ter oferecido uma carona a ela.

Em coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira (08), Jade se abriu e revelou que tudo começou ao ser convidada para o aniversário de um jornalista, por meio de uma amiga em comum.

A modelo, que também é Miss Distrito Federal, afirma que não conhecia nenhuma das pessoas presentes no local, tendo tido contato apenas com o aniversariante para a realização de um podcast no futuro.

A intenção de Jade seria conhecer as pessoas e divulgar o trabalho como miss. Em determinado momento da noite, o delegado teria se apresentado e a elogiado.

Já na madrugada, ela afirma que havia se aproximado de uma mulher e os três teriam decidido continuar a festa em outro bar.

A modelo frisou que estavam indo entre amigos, mas sentiu o clima mudar dentro do carro ao ser perguntada se era “menina ou menino” e responder que seria “boneca”.

“Quando eu falei, ele já mudou o jeito e falou que era melhor a gente ir para casa”, declarou a miss. Ela então teria dito que pediria uma viagem por aplicativo, mas o suspeito garantiu que as levariam em segurança.

Relato do crime

A miss conta que, após deixar a primeira mulher em casa, o delegado teria estacionado o carro em uma região erma e questionado sobre onde iriam, já com o órgão genital exposto. Ela reafirmou que iria para própria casa.

“Eu insisti que não, e a partir daí começou a ficar um pouco mais agressivo”, relembrou. Foi nesse momento que vítima teria sido arrastada para o porta malas, mas temendo pela vida, não gritou por socorro.

“Depois que você é abusada várias vezes, a única coisa que você espera é que acabe logo e torce para não morrer. Eu lembro dele olhar para mim, me sacudir e dizer que eu estava sangrando”, relembrou.

Posteriormente, ela foi deixada em casa, com a meia calça rasgada e despida do vestido. Jade desceu do carro suja de sangue e em estado de choque.

Os vultos de memórias, segundo a vítima, se explicam pela possibilidade dela ter sido dopada.

“Acredito que ninguém faz algum tipo de relação sexual e joga alguém na carroceria ensanguentado. […] Ninguém deixa alguém daquele jeito em uma relação sexual”, disse.

 

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Denúncia

Jade confidenciou que é a sexta vez que sofre violência sexual, sendo que a primeira foi aos 09 anos. Contudo, é o primeiro caso que formaliza uma denúncia.

Questionada sobre o que a levou a buscar justiça, Jade respondeu ao Portal 6 que precisava de uma transformação de vida.

“Eu precisava fazer uma transformação, anulando tudo e não deixando passar mais qualquer tipo de preconceito ou qualquer tipo de violência”, disse

“No início, eu não ia denunciar, eu só queria tomar o analgésico como fazia das outras vezes, e dormir. Mas, depois, olhei para mim mesma e falei que chega”, completou.

Delegado se pronunciou

No sábado (06), logo após o caso ser tornado público, o delegado apontado como suspeito emitiu uma nota em que se afirma inocente e garantindo que irá provar a própria inocência.

Até o momento, somente duas testemunhas foram ouvidas, de acordo com a advogada da vítima, Kezia Oliveira Souza. Enquanto isso, o homem foi afastado das funções.

Veja na íntegra a nota de Kleyton Manoel

De início, repudia veementemente as acusações e se coloca à inteira disposição das autoridades nas investigações que apuram o caso.

Informa que ainda não foi ouvido no inquérito que investiga o suposto estupro.

Irá provar a sua inocência e neste momento está muito abalado com o ocorrido, cuidando de sua familia, esposa e filho.

Por fim, pede encarecidamente a todos cautela nas conclusões precipitadas, que aguardem as conclusões das investigações no esclarecimento dos fatos, que ao final irá demonstrar a sua inocência.

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