Conheça história de barco ‘atracado’ na Ricardo Paranhos e que virou point da vida noturna nos anos 90
Ao Portal 6, um dos empreendedores relembra funcionamento e o que aconteceu com embarcação
Se hoje a Avenida Ricardo Paranhos, em Goiânia, é tomada por condomínios, prédios de luxo e estabelecimentos comerciais de variados tipos, há 33 anos, quem por ali passava se deparava com uma estrutura que fugia da normalidade e do cotidiano. Simplesmente, um barco ‘atracado’.
Mas a embarcação, que ali impressionava pelos aproximados 5 mil metros quadrados, não tinha como finalidade ser usada para uma futura navegação e funcionava como um bar, chamado Cais.
Inaugurado em abril de 1991, o comércio marcava a efervescência da vida noturna na capital e era composto por 03 andares, quadra de areia e oferecia um menu vasto de frutos-do-mar. O funcionamento era de terça a domingo, das 16h até às 04h.
Ao Portal 6, um dos ex-proprietários do local, Fausto Noleto, de 58 anos, relembra que o comércio tinha capacidade de receber até 1 mil pessoas e atraia clientes de dentro e fora do estado, que procuravam o ponto tanto pela inovação quanto pelos atributos.
“Todos que trabalhavam no bar se vestiam como marinheiros e nós, os proprietários, éramos os capitães. Lá tinha uns 5 mil metros quadrados, fizemos um campo de vôlei de praia e quiosques de sorvete e tínhamos uma piscina. […] Fizemos também o cartão-postal produzido para receber estrangeiro”, diz.
A fama de ‘point’ da cidade teve motivo e, segundo ele, se deve, principalmente, pelas apresentações ao vivo que ‘agitavam’ a clientela.
Falando em shows, Fausto relembra que eles aconteciam de forma simultânea tanto no ambiente interno do barco quanto na área de fora, que era uma extensão do restaurante. Outro atrativo era a presença de caranguejos que, vira e mexe, apareciam no ambiente e ampliavam a sensação de alto mar.
“Nós tínhamos a banda Cais. Era o único bar que tinha dois shows ao vivo. Um era dentro do bar, na whiskeria, onde tínhamos um telão que era novidade na época, e também tinha show de Chorinho na parte externa. […] Às vezes, quando os casais estavam namorando, por exemplo, também apareciam caranguejos, que foram morrendo com o tempo, que vinham nas mesas ou se escondiam nas frestas, mas os clientes gostavam bastante”, explica.
A ideia para criação do Cais surgiu durante uma conversa de Fausto com um tio sobre possibilidade de montar empreendimentos que fugissem do padrão, como algo “futurista”, tipo nave espacial. Até que, no decorrer do diálogo, o assunto do barco acabou sendo tocado e o agradou.
Mas tirar a proposta do papel e colocar em prática esteve longe de ser um processo ágil e rápido e teve o respectivo tempo: cerca de 1 ano.
A explicação é que a embarcação foi comprada em Belém (PA) e necessitava de uma série de reparos, uma vez que o barco estava em desuso há mais de 50 anos. Para se ter uma ideia, de acordo com ele, 80% do artefato teve que ser mexido antes da abertura.
“Levou um ano para que ele chegasse até aqui. A gente teve que voltar umas três vezes para ver como estava o serviço. 80% do barco teve que ser mexido e fizemos toda a reforma, nós praticamente reconstruímos ele. Depois de pronto ele foi içado e colocado em cima de um caminhão e levou praticamente 30 dias para chegar aqui”, reforça.
Fim de um sonho…
Administrado por outros quatro sócios, além de Fausto, todos da mesma família, o restaurante esteve sob a gestão deles durante cerca de seis meses, meados do fim de 1991, até ser vendido para novos donos.
“Vendemos devido a fase inflacionária. O Fernando Collor tinha acabado de assumir, a inflação estava mais de 200% ao mês, isso nos impossibilitou e foi só virando uma bola de neve no final”, resumiu.
Mesmo com a venda, Fausto recorda que o barco ainda continuou servindo como um bar, mas que ganhou uma nova faceta e teve até um pesque e pague acrescentado.
No entanto, não durou muito até que a embarcação fosse vendida novamente e, posteriormente, abandonada.
No fim, conforme lembra o profissional, o barco foi sendo depredado por moradores de rua, que tiravam a madeira para fazer fogueira, decretando o fim do que um dia havia sido um dos estabelecimentos mais agitados da capital.