Entre criação tradicional e a vida moderna: especialista explica como lidar com dilemas dos novos pais
Ausentes e ameaçadores já não são o modelo ideal de paternidade, destaca educadora parental
Frente aos ensinamentos passados de geração a geração, muitos novos pais se encontram com um dilema: entre o que aprenderam ao longo da vida e a nova realidade. Agora, notam que frases típicas como “homem não chora”, “isso é coisa de menina” e “vira homem” não os prepararam para as novas exigências da paternidade no século XXI, com crianças mais conscientes e métodos mais positivos.
A educadora parental e pós-graduada em neurociência, Kate Amaral, aponta que a dificuldade em romper com padrões antigos e reconstruir a figura paterna é um desafio comumente relatado entre os novos pais ao questionarem o formato de criação dos filhos.
Esse homem precisa, hoje, não só desenvolver as habilidades emocionais das ‘crias’, como também tratar as próprias feridas, já que muitos não foram ensinados a ter repertório emocional, explicou a especialista ao Portal 6.
“Eles querem que os filhos sejam muito bem-sucedidos e que as filhas sejam seguras, mas, ao messo tempo, foram ensinados e continuam acreditando que o papel deles é castigar, ser a pressão dentro de casa. Que eles são o personagem da ameaça, quando eles devem ser a figura de segurança”, disse.
“Antigamente, a figura do pai não era uma figura muito presente. A criação ficava muito mais para as mães. Mas, agora, os pais têm se tornado mais presentes, mais cientes de que a criação de filhos é uma responsabilidade dividida”, destaca Victor Hugo Dias da Silva, de 36 anos, à reportagem.
Pai da Alana, de quatro anos, o goiano se viu perante uma série de desafios que não imaginava enfrentar antes da paternidade. “Minha filha faz perguntas que eu teria feito aos seis anos. Ela consegue ter níveis de diálogos que uma criança de quatro anos, há duas décadas, não teria”, relatou.
Diante disso, Victor Hugo se empenhou em aprender a se comunicar com a filha, que tem um mundo inteiro na palma da mão por meio das telas – incipientes na época em que ele mesmo era criança. Enquanto, antigamente, o ‘não’ já bastava, o pai se esforça para explicar as decisões e o ‘tsunami’ de informações.
“O mundo está muito acelerado hoje. Minha função é desacelerar para dar atenção a ela e não deixar ela se tornar ansiosa“, disse. Para conseguir se desenvolver como pai, Victor Hugo explica que conta com conselhos de pessoas mais experientes e tem hábito de leituras constantes sobre paternidade.
Para além de manter uma comunicação aberta e calma, o homem ainda firma compromissos para ser referência de segurança para a filha. “Se eu falo que vou pegar ela às 18h30 na creche, às 18h30 ela pode ter a certeza que vou estar lá”.
Papel do pai em números
Uma pesquisa conduzida por Samuel Vichinski, do Departamento de Desenvolvimento Humano e Ciências da Família da Universidade de Óregon (EUA), identificou que as chances de um adolescente se envolver em condutas criminais quando cresce com a presença tanto do pai quanto da mãe são reduzidas pela metade.
Outro estudo, no National Bureau of Economic Research dos Estados Unidos, apontou que a presença do pai ultrapassa o nível individual, sendo que, com ela, o filho tem maior facilidade em alcançar um padrão socioeconômico mais alto. Além disso, afeta o nível coletivo, fazendo com que a criança tenha mais chances de um bem-estar social.
“Uma refeição em família por dia diminui o uso de drogas, gravidez na adolescência e obesidade. A figura masculina tem um papel muito forte, que nem sempre é reconhecido pelas próprias figuras. É preciso pequenas mudanças para uma paternidade mais consciente”, finaliza.