Suspeito de golpe milionário com compositores sertanejos é preso após roubar e usar IA para afetar mais de 400 canções

Estima-se que o prejuízo do golpe para os artistas ultrapassou os R$ 6 milhões

Natália Sezil Natália Sezil -
Suspeito de golpe milionário com compositores sertanejos é preso após roubar e usar IA para afetar mais de 400 canções
Os golpistas também geravam reproduções artificialmente nos aplicativos de streaming. (Foto: Divulgação/MPGO e MPRS)

O Ministério Público de Goiás (MPGO) deflagrou esta semana uma operação com o objetivo de desarticular um esquema de crimes cibernéticos praticados contra compositores de músicas sertanejas, a maioria residente no Estado de Goiás.

A Operação Desafino contou com atuação do CyberGaeco e com auxílio dos Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaecos) do MP de Pernambuco e do Rio Grande do Sul. A articulação fez uso de técnicas de investigação próprias de crimes cibernéticos, e contou com diversos agentes, como servidores públicos, policiais civis e militares.

Foram cumpridos um mandado de busca e apreensão em Recife (PE) e um mandado de prisão preventiva em Passo Fundo (RS), além da 1ª Vara das Garantias da Comarca de Goiânia ter deferido a apreensão de veículos, criptomoedas e o sequestro e bloqueio de bens móveis e imóveis dos suspeitos em um valor que chega a R$ 2,3 milhões.

De acordo com apuração do UOL, o Gaeco também apreendeu e irá periciar dezenas de notebooks encontrados no imóvel em que o suspeito era procurado em Recife. Esses aparelhos continham programas que realizavam, artificialmente, a reprodução de músicas em streaming, aumentando de forma nada orgânica o lucro dos golpistas.

Entenda o caso

A investigação teve início a partir de uma reportagem do UOL, em abril, quando diversos compositores de música sertaneja denunciaram o roubo de composições inéditas – cujas amostras, chamadas de “guias”, deviam ser compartilhadas com artistas e empresários em grupos de WhatsApp, mas eram desviadas por golpistas e publicadas em plataformas de streaming sob perfis falsos, com endereços de e-mail fictícios.

Devido à boa qualidade, as músicas eram ouvidas diversas vezes pelos usuários, o que gerava lucros destinados a uma conta bancária ligada a um investigado.

Ao todo, foram encontrados mais de 200 artistas falsos e mais de 400 canções afetadas, cujas reproduções se aproximavam da marca de 30 milhões. Além desse alto número, outro detalhe que chamou a atenção durante a investigação foi o uso de inteligência artificial em músicas com voz feminina e, especialmente, na criação de capas, que muitas vezes se repetiam em músicas diferentes publicadas por artistas falsos diferentes.

De acordo com o CyberGaeco, o esquema chegou ao ponto de postar guias de composições de artistas renomados sob nome de um compositor falso, mas usando a voz de artistas nacionalmente conhecidos.

São apurados a prática de violações qualificadas de direitos autorais, e os crimes de falsa identidade e de estelionato contra agregadora de música. As investigações seguem em sigilo, e o MPGO espera finalizar as apurações em breve.

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