Diplomata e sócio de Bolsonaro: conheça Zigmund Cohen, que se passava por diversos personagens em Caldas Novas
Suspeito já havia sido investigado por crimes de falsificação anteriormente, mas foi autuado e preso somente agora


Zigmund Cohen, de 56 anos, um falso empresário e médico que se passava por israelense foi preso na segunda-feira (28), com divulgação na noite de terça-feira (29), em Caldas Novas. Ele é suspeito de fraudar documentos públicos e privados, como diplomas de Medicina, passaportes e entidades eclesiásticas.
Durante as investigações, comandadas pelo Grupo Especial de Investigações Criminais (Geic) de Caldas Novas, foi descoberto que, na verdade, Zigmund era brasileiro, nascido no Rio de Janeiro e se chamava Roberto Cohen.
Conforme apontado pelo inquérito, o suspeito possuía uma organização social em Caldas Novas, na qual ele se apresentava, por meio de placas fixadas na frente do estabelecimento, com informações inconsistentes.
Ao Portal 6, o delegado Tiago Ferrão explicou que, além de Goiás, o investigado comandava uma série de outras companhias nas quais ele praticava os crimes.
“Ele tem um monte de ONG, ele chama de ‘conselho’, ‘ordem beneficente’ e no dia 30/09/2024 ele abriu uma aqui em Caldas Novas, onde foram identificadas várias inconsistências nas próprias placas que estavam no local, chamando atenção [da polícia]”, pontuou o delegado, em entrevista à reportagem.
Ao abrir um inquérito para apurar esta suposta empresa, o delegado encontrou uma série de reportagens datadas dos anos de 2021 e 2022 que já falavam sobre os crimes de Cohen, o que serviu de pontapé para aprofundar as investigações.
Dentre as várias ‘personalidades’ do falso israelense descobertas pela Polícia Civil (PC) estavam o de neurocirurgião robótico, monge, padre e até de agente da ONU, sendo que ele colecionava vários documentos, também falsos, que, em tese, comprovavam essas qualificações.
Apesar de ainda sem respostas concretas, o delegado afirmou que o inquérito busca apontar quais os fins destas ONGs comandadas pelo golpista.
“A gente está investigando isso, mas nós acreditamos que ele possa oferecer supostos cursos, todos falsos sem reconhecimento do Ministério da Educação ou de Haward, como ele apresentava. Ele também pode ser autuado por estelionato por supostamente captar doações, que ele dizia ser para missões religiosas, e também há a hipótese de que ele praticava o exercício ilegal da Medicina”, explicou.
Ao realizar busca no estabelecimento de Caldas Novas, onde Cohen também morava, a PC encontrou uma série de diplomas de faculdades brasileiras e internacionais, incluindo um de pós-doutorado (PhD) em áreas como psicologia, farmácia, fisioterapia, direito, administração, física quântica e astrofísica.
Ele também se passava por médico, portando vários certificados no campo da Medicina, sendo eles de neurocirurgia robótica, genética, medicina molecular e medicina preventiva, além de também ter emblemas da Agência de Inteligência dos EUA, para cursos de contraterrorismo e inteligência internacional.

Foram apreendidos vários documentos falsos. (Foto: Divulgação/PC)
Não o bastante, o falso empresário ainda possuía crachás, carteiras, identidades funcionais supostamente de autarquias federais, embaixadas, agências nacionais e internacionais, entidades eclesiásticas, fardamentos, e insígnias de missões de paz da ONU.
Cohen também colecionava uma série de passaportes falsos, sendo que alguns estavam em português, em inglês e até mesmo em hebraico, com variações dos nomes Roberto ou Zigmund Cohen. A PC chegou a encontrar um passaporte diplomático, assim como menções de escritórios localizados nos Estados Unidos.
Segundo o delegado, também foi localizada uma suposta empresa registrada no exterior, onde o então presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), em 2021, aparecia ao lado do vice-presidente, Hamilton Mourão (Republicanos), como sócios de Cohen.
“Nós chegamos a perguntar pra ele sobre essa empresa e sobre a sociedade com o ex-presidente e com o Hamilton Mourão, mas ele disse que ‘já foram, mas não era mais sócio’, mas não chegou a confessar que se tratava de uma empresa falsa”, disse Tiago Ferrão.
“Na época o Hamilton Mourão chegou a comentar sobre o assunto, disse que não tinha conhecimento dessa empresa, então acreditamos que possa ser mais uma falsa também”, pontuou o delegado.

Cohen possuía fardamentos, armas de fogo e equipamentos médicos. (Foto: Divulgação/PC)
De acordo com o delegado, estas notícias que já veiculavam apontavam uma série de irregularidades, mas nenhuma delas chegou a autuar Cohen pelos crimes, sendo que isso ocorreu somente agora, por meio da PC de Caldas Novas.
Com base nas investigações, a prisão do suspeito que foi realizada, sendo que ele foi encontrado em flagrante. Agora, o inquérito deve seguir junto a delegacia, que deve dar continuidade na ocorrência.
A divulgação da identidade e imagem do investigado foi feita mediante despacho do delegado responsável, com respaldo na Lei 13.869/2019, Portaria Normativa 547/2021/DGPC, tendo em vista o interesse público em se identificar possíveis outras vítimas.
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