Mães que salvam vidas: uma homenagem a profissionais goianas no Dia das Mães

Em entrevista ao Portal 6, elas detalhem momentos que marcaram a carreira e atributos da rotina

Gabriella Pinheiro Gabriella Pinheiro -
Mães que salvam vidas: uma homenagem a profissionais goianas no Dia das Mães
Sílvia Letícia e filha. (Foto: Arquivo Pessoal)

Por trás de uma farda, de um uniforme ou jaleco, há uma mãe. Mulheres cujas vidas se repartem entre desempenhar os papéis de cuidar da casa e dos filhos e de atuarem na linha de frente de profissões que exigem técnica, sagacidade, determinação com objetivo de salvar vidas.

Atuando como bombeiras, enfermeiras e policiais militares, elas ocupam cargos de liderança e conciliam uma dupla jornada, que exige atenção, cuidado e determinação. Uma delas, que serve de inspiração, é a 2ª sargent0 do Corpo de Bombeiros Estadual, com sede em Anápolis, Sílvia Letícia, de 47 anos.

Silvia Leticia e filha (Foto: Arquivo Pessoal)

Silvia Leticia e filha (Foto: Arquivo Pessoal)

Com 21 anos de vivência na corporação, a carreira teve início aos 24 anos, após ser aprovada em um concurso público e ingressar no Corpo de Bombeiros. A inspiração para embarcar na área vem da família. De acordo com a profissional, o pai, que era policial militar (PM), tinha o hábito de levá-la à corporação quando ela ainda era criança – que serviu como incentivo para seguir esse caminho.

Após 15 anos, uma nova etapa surgiu na vida: em 2017, Sílvia deu à luz  Isadora, que atualmente está com 7 anos. Mesmo gestante, ela seguiu atuante na profissão, acompanhando casos e ajudando a salvar vidas.

“Eu, grávida, trabalhava à noite, atendendo no telefone 193, e era muita coisa pesada. Fazia desengasgamento (auxiliando), porque eram muitas crianças e bebês engasgados, e as mães ligavam para a gente. Eu não dormia. […] Gravidez não é fácil, a gente que é mulher fica em casa e o tempo inteiro está fazendo alguma coisa e cuidando de filho. Nós carregamos esse fardo. Depois que tive a Isadora, passei a reivindicar meus direitos. […] Sou muito assombrada com doenças porque lido com a morte de perto. Depois que tive ela, quando atendo ocorrências com crianças, penso nela”, reflete ela em entrevista ao Portal 6.

Se por um lado a maternidade trouxe um olhar mais cuidadoso, também serviu como incentivo e empenho para que cada vez mais vidas sejam salvas. Um deles, que ela relembra, foi quando salvou uma criança atacada por um cachorro.

“A criança havia sido mordida no rosto por um cachorro e fomos atender. A gente chegou ao hospital municipal, e estava lá a tia dela. Quando peguei a criança e vi o rosto praticamente rasgado, com o olho em estado grave, pedi ao médico para levá-la à urgência. Fui avisando por telefone sobre o caso. Chegamos lá e a USA do SAMU já a transferiu para o Hugol, em Goiânia. Cheguei em casa assombrada — a menina tinha 1 ano e 2 meses. Ela passou por um tratamento e realmente foi salva”, ressalta.

A comandante da 5ª Companhia Independente da Polícia Militar de Goiás, localizada em Nerópolis, Daiene Holanda Ferreira, que anteriormente comandava o Batalhão Maria da Penha, em Anápolis, também compartilha uma experiência semelhante. Mãe de duas crianças, uma de 9 e outra de 6 anos, ela reflete que conciliar as duas jornadas não é algo difícil e que, inclusive, o trabalho já é admirado pelos filhos, que até possuem suas próprias “fardinhas”.

Daiene Holanda Ferreira. (Foto: Arquivo Pessoal)

Um dos momentos mais marcantes da vida profissional ocorreu durante a segunda gravidez, em 2016, quando houve a inauguração da Patrulha Maria da Penha. “Foi mágico, porque criamos uma causa que está gigante, e foi muito importante, pois eu estava grávida e pensando em outras mães que poderia ajudar a salvar. Costumo dizer que a gente tem amor. Na PM, a gente precisa ter amor e coragem — damos a vida, se preciso, pelo próximo, para servir e proteger a sociedade. […] Eu não tenho nenhuma dificuldade, porque, para fazer o melhor, estou sempre preocupada com o futuro deles”, destaca.

A enfermeira e professora da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) e da UniGoiás, Hilana Melo, de 43 anos, é também mais um exemplo. Mãe de dois filhos — uma de 12 anos e outro de 6 —, ela se define como alguém que sempre gostou de servir e ajudar os outros desde criança, o que a motivou a escolher a enfermagem.

Hilana Melo. (Foto: Arquivo Pessoal)

Durante 15 anos, atuou no Hospital Santa Helena, em Goiânia, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Em 2012, deu à luz sua primeira filha, Milena, mas seguiu trabalhando em plantões. Enquanto o dia era dedicado à filha, a noite era voltada para a prestação de serviços noturnos e o vai e vem da unidade de saúde.

“Eu ficava destruída. Trabalhava, chegava em casa e ela com aquele sorrisão. Mesmo muito cansada, eu não queria que ninguém cuidasse dela. Eu chegava de um plantão e ia cuidar dela. Tinha o auxílio do meu marido, que sempre foi muito importante e me deu o suporte necessário para lidar com as duas coisas. Nossa rede era a gente mesmo. Foi algo bem desafiador”, salienta.

Hoje, com o segundo filho e atuando como docente em práticas em diferentes hospitais da cidade, ela revela que optou por lecionar na área e reflete que os casos vistos dentro da UTI a fizeram valorizar ainda mais o tempo com a família.

Uma situação específica que a marcou foi quando foi ao pronto-socorro e, dentro da UTI, havia uma mulher no puerpério que havia dado à luz de forma prematura. Apesar da primeira hipótese ter sido o desenvolvimento de uma eclâmpsia, o diagnóstico foi de uma leucemia em estado avançado, que a levou a óbito.

“Foi muito difícil e não havia muito o que fazer. Eu, que estava gestante, tive que processar isso de forma forte. Nós, profissionais, temos que ser fortes para os outros. […] Mas o tempo não acabou. Sempre valorizei muito o tempo com minha família, sou muito atuante na igreja, ajudo em projetos infantis, então trabalho com crianças e gosto muito disso. Agora, quero ter mais tempo para minha família”, destacou.

Você tem WhatsApp ou Telegram? É só entrar em um dos grupos do Portal 6 para receber, em primeira mão, nossas principais notícias e reportagens. Basta clicar aqui e escolher.

PublicidadePublicidade