Goiás tem sotaque? Veja como a gente fala diferente do resto do Brasil
Com entonação arrastada, expressões únicas e ritmo próprio, o goiano fala com alma

Você já ouviu um goiano falando? Talvez nem tenha percebido, e é justamente aí que mora o mistério. O sotaque de Goiás é daqueles que não grita, não canta, não força. Ele se insinua. Vai aparecendo nas dobrinhas das palavras, na cadência do “sô”, na preguiça boa com que as sílabas vão se arrastando. E quando a gente percebe, já está encantado com aquele jeito tranquilo, direto e cheio de personalidade de dizer as coisas.
Enquanto o Nordeste é famoso pelo seu ritmo cantado, o Sul pelos “tu” e “bah”, e o Rio de Janeiro pela entonação marcada no fim das frases, o sotaque goiano passa muitas vezes despercebido fora do estado. Mas quem é de Goiás, ou convive com um goiano raiz, sabe: tem sotaque sim, e dos bons.
Goiás tem sotaque? Veja como a gente fala diferente do resto do Brasil
A formação desse modo particular de falar é resultado de um caldeirão histórico-cultural. A ocupação da região se intensificou no século XVIII, com a chegada dos bandeirantes paulistas em busca de ouro. Eles se misturaram a povos indígenas e populações negras escravizadas, dando origem a um povo miscigenado, forte, com modos e falares próprios.
Mas foi no isolamento geográfico do Cerrado que esse sotaque ganhou forma. Por muito tempo, Goiás ficou distante dos grandes centros urbanos do país. As cidades cresceram em ritmo próprio, com pouca interferência externa, o que permitiu a conservação de traços muito particulares da fala. O resultado? Um sotaque que carrega marcas do português antigo, com palavras como “arredar”, e também expressões que só fazem sentido no coração do Brasil.
O “r” mais leve e quase sumido em algumas palavras, o “s” mais suave no fim das frases e a musicalidade arrastada compõem esse falar típico. É comum ouvir o goiano transformar “eu não aguento” em “num guento”, ou “é bom demais” em “é bão demais da conta”. Há ainda o uso do diminutivo com frequência carinhosa: “trenzim”, “coisinha”, “caminhozinho”. Tudo soa mais próximo, mais íntimo, mais nosso.
E tem também o “sô”, que ninguém explica direito, mas todo mundo entende. Ele pode indicar surpresa, admiração, impaciência ou só servir como uma vírgula falada. “Ô trem bão, sô!” é um clássico, e revela muito mais do que parece: mostra afeto, pertencimento e o orgulho de um jeito de viver.
Portanto, sim: Goiás tem sotaque. E mais do que isso, tem uma maneira de falar que traduz o espírito do seu povo: simples, acolhedor e cheio de histórias. Pode ser que ele não salte aos ouvidos logo de cara, mas basta uma conversa à sombra de um pequi ou uma prosa na porta de casa para entender.
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