Advogado que levou tapa da ex durante audiência do TJGO fala pela primeira vez: “queria ter uma vida tranquila, de paz”
Alan Araújo Dias quebra o silêncio sobre o caso que viralizou no país e revela os bastidores de um relacionamento que ele descreve como abusivo e violento

O episódio durou poucos segundos, mas foi suficiente para gerar ampla repercussão nacional. Durante uma audiência judicial remota do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), o advogado criminalista Alan Araújo Dias, de 34 anos, foi surpreendido por um incidente envolvendo uma mulher que aparecia parcialmente na tela.
A cena, que rapidamente se espalhou pelas redes sociais, levantou um debate nacional sobre conflitos domésticos e questionou estereótipos sobre quem pode ser vítima de situações abusivas.
Agora, pela primeira vez desde que o caso ganhou repercussão nacional, Alan Araújo decide quebrar o silêncio.
Em entrevista exclusiva ao Portal 6, o advogado revela detalhes de um relacionamento que ele descreve como problemático e conta como sua vida profissional e pessoal foi impactada pela exposição.
“Eu só queria, na verdade, ter uma vida tranquila, de paz, onde eu possa criar minha filha”, desabafa.
O homem por trás do episódio viral
Natural de Palmas, Tocantins, Alan chegou a Goiânia em 2017 em busca de novas oportunidades profissionais. Formado em Direito, especializou-se na área criminal e construiu uma carreira sólida ao longo de seis anos de advocacia. Era um profissional respeitado, com uma rotina de trabalho intensa e a perspectiva de um futuro promissor na capital goiana.
Foi no ambiente profissional que conheceu aquela que viria a se tornar sua ex-esposa.
“Conheci minha ex trabalhando comigo e foi minha estagiária”, relembra Alan. O que começou como uma relação de trabalho evoluiu para algo pessoal. “Logo depois me envolvi e começamos o relacionamento”, conta.
No entanto, segundo o advogado, os sinais de que algo não estava certo apareceram cedo. “Logo depois ela foi demonstrando um comportamento agressivo e começou as agressões”, afirma. Alan descreve um padrão de comportamento que, segundo ele, se intensificou com o tempo, culminando no episódio que se tornaria público de forma tão dramática.
O dia que mudou tudo
A audiência judicial que mudaria para sempre a vida de Alan Araújo aconteceu em uma manhã como qualquer outra. Como muitos profissionais do Direito, ele participava de sessões remotas de sua residência. Era um procedimento rotineiro, transmitido ao vivo e gravado, como determina o protocolo do Poder Judiciário.
“A audiência que sofri a agressão foi minha ex esposa. Ela sabia da audiência”, revela Alan. A informação é crucial para entender a dimensão do ocorrido: não se tratou de um momento de descontrole ou uma discussão que escalou inesperadamente.
Segundo o advogado, sua ex-companheira tinha pleno conhecimento de que ele estava em uma sessão oficial, sendo transmitida e gravada.
O incidente, capturado pelas câmeras e posteriormente compartilhado milhares de vezes nas redes sociais e repercutido por sites de notícias e emissoras de televisão, representa apenas a ponta do iceberg de uma situação que, segundo Alan, vinha se deteriorando há tempo.
“Todas as agressões partiram dela”, afirma categoricamente o advogado.
Um debate nacional sobre conflitos domésticos
O vídeo do incidente durante a audiência judicial rapidamente ultrapassou as fronteiras de Goiás e se espalhou por todo o país. Nas redes sociais, milhões de pessoas compartilharam, comentaram e debateram o caso. O que chamou atenção não foi apenas a situação em si, mas o fato de ter sido protagonizada por uma mulher contra um homem, em um contexto que subverteu narrativas tradicionais sobre conflitos domésticos.
O caso Alan Araújo trouxe à tona uma discussão que muitas vezes permanece nas sombras: os conflitos domésticos quando a vítima é do sexo masculino. Especialistas em direitos humanos e estudiosos das relações de gênero passaram a usar o episódio como exemplo de como os conflitos podem ter múltiplas faces e não respeita estereótipos de gênero.
Para Alan, no entanto, a repercussão trouxe mais dor do que alívio.
“A minha vida profissional foi totalmente atacada. Primeiro que eu tive uma exposição muito ruim, referente a tudo que ela causou, que ela gerou, que ela sempre me colocou como um cara violento, sendo que eu não sou”, desabafa.
As marcas dos conflitos
Além do episódio que viralizou, o Portal 6 teve acesso a imagens que mostram sinais de conflitos físicos envolvendo Alan Araújo. Fotografias evidenciam marcas que, segundo o advogado, são resultado de outras situações sofridas. “As imagens de hematomas foram delas também”, confirma.
“Nunca bati nela, todas as vias de fatos [como empurrões] foram para repelir as injustas agressões dela”, afirma o advogado, descrevendo suas ações como legítima defesa.
A documentação fotográfica dos conflitos levanta questões importantes sobre como a sociedade lida com homens vítimas de situações domésticas abusivas.
Estudos mostram que homens em situação de conflitos domésticos enfrentam barreiras adicionais para denunciar ou buscar ajuda, incluindo estigma social e o descrédito por parte das autoridades.
O silêncio que custou caro
Uma das decisões que mais impactaram a vida de Alan foi a escolha de não registrar formalmente os incidentes que diz ter sofrido.
“Após as agressões terminei o relacionamento e não registrei nada contra ela”, revela. Essa decisão, que pode parecer contraditória para quem observa de fora, é comum entre vítimas de conflitos domésticos, independentemente do gênero.
“Fui totalmente atingido na minha vida profissional”, lamenta Alan.
A escolha pelo silêncio, motivada talvez pela esperança de que a situação se resolvesse naturalmente com o fim do relacionamento, acabou se voltando contra ele quando a situação se tornou pública de forma tão dramática.
O advogado relata que sua ex-companheira “me perseguiu e registrou uma medida protetiva injustamente junto com sua advogada e vive me atacando e com ameaças de forjar descumprimento de medida protetiva”. A inversão de papéis – onde a suposta agressora obtém proteção legal contra a suposta vítima – ilustra a complexidade de casos de conflitos domésticos e os desafios enfrentados pelo sistema de justiça.
O preço profissional
As consequências profissionais do caso foram significativas para Alan Araújo. “No tribunal de ética da OAB, entrou contra a minha pessoa”, revela. Um processo ético pode resultar em sanções que vão desde advertência até a cassação da licença para exercer a advocacia, representando uma ameaça existencial para qualquer profissional do Direito.
A exposição negativa gerada pelo caso criou um ambiente hostil para o exercício da profissão.
“Isso afetou minha vida profissional”, afirma Alan, que vê sua reputação construída ao longo de seis anos de carreira sendo questionada por um episódio que ele insiste ter sido vítima, não agressor.
A situação ilustra como casos de conflitos domésticos podem ter ramificações que vão muito além do âmbito pessoal, afetando carreiras, reputações e meios de subsistência. Para profissionais liberais como advogados, cuja credibilidade é fundamental para o exercício da profissão, as consequências podem ser particularmente severas.
Uma filha a caminho e no centro da tempestade
Por trás de toda a controvérsia e exposição midiática, há uma criança que precisa ser protegida e cuidada. A ex-companheira de Alan está grávida e é pensando nela que o advogado diz encontrar forças para seguir em frente.
“Eu só queria, na verdade, era ter uma vida tranquila, de paz, onde eu possa criar minha filha, ter o contato com a minha filha, ajudar ela no que for preciso na criação da minha filha”, desabafa Alan. O desejo de ser um pai presente e participativo esbarra nas complicações legais e pessoais decorrentes do relacionamento conturbado com a mãe da criança.
A situação da filha adiciona uma camada extra de complexidade ao caso. Crianças expostas a conflitos entre os pais, especialmente quando envolvem situações tensas, podem sofrer traumas duradouros. A busca por uma solução que proteja o bem-estar da menor se torna, portanto, uma prioridade que transcende as disputas entre os adultos.
Vivendo sob pressão constante
Atualmente, Alan Araújo vive sob o peso de uma medida protetiva que ele considera injusta e sob a constante ameaça de novas complicações legais.
“Vive me atacando e com ameaças de forjar descumprimento de medida protetiva”, denuncia, referindo-se à sua ex-companheira.
A situação cria um estado de tensão permanente, onde qualquer movimento pode ser interpretado como violação das determinações judiciais.
“Uma ameaça a todo momento que pode me prender e me colocar na cadeia”, descreve Alan, evidenciando o clima de insegurança jurídica em que vive.
Essa realidade ilustra como medidas protetivas, embora essenciais para proteger vítimas de situações abusivas, podem ser utilizadas de forma inadequada, criando situações de vulnerabilidade para aqueles que deveriam ser protegidos pelo sistema de Justiça.
O desejo de recomeçar
Apesar de todas as adversidades, Alan Araújo mantém a esperança de poder reconstruir sua vida. “Financeiramente sem ter uma medida protetiva, sem ter uma confusão, sem ter uma retaliação ou uma discussão”, enumera os elementos que considera essenciais para um recomeço.
O advogado sonha com um futuro onde possa exercer sua profissão sem o peso da controvérsia, criar sua filha em um ambiente saudável e viver sem o medo constante de novas complicações legais. “Então basicamente é isso”, conclui, com a simplicidade de quem apenas deseja o que deveria ser direito de qualquer pessoa: paz.
Reflexões sobre um caso complexo
O caso de Alan Araújo levanta questões importantes sobre como a sociedade brasileira lida com conflitos domésticos, especialmente quando as vítimas são homens.
Estudos do Ministério da Saúde reconhecem que, embora as mulheres sejam as principais vítimas de situações domésticas abusivas, homens também sofrem em relacionamentos íntimos, muitas vezes em silêncio.
A dificuldade de homens em denunciar conflitos domésticos está relacionada a fatores culturais, sociais e institucionais. O estigma associado à ideia de um homem sendo agredido por uma mulher, a descrença por parte das autoridades e o medo de não serem levados a sério são barreiras significativas.
O caso também evidencia como as redes sociais podem amplificar situações pessoais, transformando dramas privados em espetáculos públicos.
A viralização do vídeo, embora tenha gerado um debate importante sobre relações de gênero, também expôs Alan a um nível de escrutínio público que poucos estão preparados para enfrentar.
Um futuro incerto
Enquanto aguarda os desdobramentos dos processos judiciais e éticos que enfrenta, Alan Araújo diz que tenta reconstruir a vida e a carreira.
O caminho à frente é incerto, mas ele parece estar determinado em reconstruir a própria imagem e seguir com a vida pessoal e profissional sem tantos sobressaltos.