Por que os cupinzeiros do Parque das Emas brilham no escuro? Ciência explica

Um espetáculo noturno no coração do Cerrado que intriga cientistas

Anna Júlia Steckelberg Anna Júlia Steckelberg -
Por que os cupinzeiros do Parque das Emas brilham no escuro? Ciência explica
(Foto: Coverno de Goiás)

Imagine-se caminhando pelo Cerrado ao anoitecer, quando um elemento milenar da paisagem, os cupinzeiros, se acende como se guardassem segredos de outros mundos. Esse fenômeno ancestral, que testemunha a força da natureza e da evolução, é exatamente o que acontece nas noites quentes e úmidas do Parque Nacional das Emas, em Goiás.

O brilho não é dos cupins, mas de larvas de besouros bioluminescentes, da espécie Pyrearinus termitilluminans, depositadas por vagalumes fertilizados na base dos cupinzeiros, geralmente aqueles que já foram abandonados por suas colônias, condição importante para a sobrevivência da prole.

Quando eclodem, as larvas cavam túneis de até 5 cm sob a superfície do cupinzeiro e posicionam suas cabeças e mandíbulas, abertas em até 180 graus, para fora, sob o manto noturno do Cerrado.

Durante as noites ideais, quentes, úmidas, sem luar e logo após as primeiras chuvas da estação, essas larvas ativam sua capacidade de emitir luz esverdeada. É a bioluminescência em ação: um recurso químico que envolve luciferina e luciferase, transformando energia em luz fria visível.

Por que os cupinzeiros do Parque das Emas brilham no escuro? Ciência explica

A luz funciona como armadilha viva: atrai insetos voadores, principalmente os cupins alados (aleluias), que deixam o cupinzeiro para acasalar. Ao se aproximarem, são presas das vorazes larvas, que mordem e regurgitam enzimas para predigestão.

Enquanto esse balé luminoso acontece, é comum ver ao longe vaga-lumes adultos também brilhando em padrões ritmados, uma dança paralela, possivelmente para acasalamento, que enriquece ainda mais o espetáculo natural.

Onde e quando ver esse fenômeno

O Parque Nacional das Emas, com cerca de 132 mil hectares entre Goiás e Mato Grosso do Sul, é um dos mais bem preservados remanescentes do Cerrado, reconhecido como Patrimônio Natural da Humanidade.

Nas primaveras do Cerrado, entre outubro e dezembro, sobretudo logo após as chuvas, o fenômeno ganha força. É nas noites quentes, úmidas e sem luar que as larvas se tornam verdadeiros pontos de luz nas estruturas de barro.

Apesar de haver dezenas de milhões de cupinzeiros no parque, estima-se em torno de 25 milhões, apenas alguns exibem o brilho mágico, dependendo da presença das larvas, das condições climáticas e da conservação da área.

Esse cenário sublime, que já viralizou em redes sociais e inspirou curiosidade mundo afora, também esconde um alerta: a expansão da agropecuária, queimadas frequentes e turismo predatório ameaçam o fenômeno, reduzindo seu alcance e intensidade.

Assim, no Parque Nacional das Emas, os cupinzeiros que brilham à noite são muito mais que curiosidade: são exemplos vivos de adaptação evolutiva, dança entre luz, caça e preservação. Nesse encontro de ciência, beleza e fragilidade, emerge um convite claro para valorizar e proteger nossa biodiversidade, porque espetáculo natural também pede responsabilidade.

Siga o Portal 6 no Instagram: @portal6noticias e fique por dentro das últimas notícias de Goiás.

Anna Júlia Steckelberg

Anna Júlia Steckelberg

Jornalista formada pela Universidade Federal de Goiás. Colabora com Portal 6 desde 2021.

Você tem WhatsApp ou Telegram? É só entrar em um dos grupos do Portal 6 para receber, em primeira mão, nossas principais notícias e reportagens. Basta clicar aqui e escolher.

PublicidadePublicidade