O silêncio que grita, quando a dor das crianças nos pede humanidade

Uma sociedade só é verdadeiramente grande quando faz da dor dos seus pequenos, a sua própria causa

José Fernandes José Fernandes -
O silêncio que grita, quando a dor das crianças nos pede humanidade
(Foto: Ilustração/Freepik)

Outubro é o mês em que celebramos o Dia das Crianças, uma data que costuma ser marcada por presentes, sorrisos e festas. Mas, enquanto muitos pequenos correm livres pelos parques e se encantam com brinquedos novos, outras crianças travam batalhas diárias pela sobrevivência, enfrentando dores e limitações até mesmo em cadeira de rodas.

Foi impossível não me comover ontem (02) diante de duas histórias recentes. Um menino de apenas 5 anos, com neurofibromatose e deformidade congênita na perna, ainda sem falar nenhuma palavra. O sonho de sua família é vê-lo fora da cadeira de rodas e andando com as próprias pernas. A outra história é de uma criança de 8 anos, com sequelas de paralisia cerebral, cadeirante, abandonada pelo pai. Sua mãe perdeu a visão há poucos meses e, desde então, os avós maternos se desdobram para cuidar dele, em meio a dificuldades.

Esses casos, mais do que diagnósticos médicos, são testemunhos da resistência humana. Para os profissionais de saúde, lidar com tais realidades é viver o choque diário entre a ciência e a sensibilidade. Não tratamos apenas doenças, mas histórias de vida, famílias fragilizadas e sonhos interrompidos. É um chamado constante à empatia. É sentir a dor do seu próximo.

Mas a responsabilidade não pode recair apenas sobre os ombros da família e da equipe médica. O Estado precisa assumir seu papel, criando políticas públicas efetivas para o cuidado integral de crianças com doenças raras, deficiências severas e limitações motoras. Isso inclui assistência multidisciplinar, acesso a tratamentos adequados, suporte financeiro e programas sociais que garantam dignidade a essas famílias.

Neste mês em que exaltamos a infância, é fundamental lembrarmos que ser criança é um direito universal, não um privilégio de poucos. E que cada menino e cada menina, independentemente de sua condição, merece o direito de sonhar, brincar e ser amado com dignidade, até mesmo em cadeira de rodas.

Porque, no fim, não é sobre presentes embrulhados em laços coloridos, mas sobre vidas que pedem por laços de humanidade.

Se outubro é o mês das crianças, que ele também seja o mês em que olhamos para aquelas que mais precisam.

Uma sociedade só é verdadeiramente grande quando faz da dor dos seus pequenos, a sua própria causa.

José Fernandes

José Fernandes

José Fernandes é médico (ortopedista e legista) e bacharel em direito. Atualmente vereador em Anápolis pelo MDB. Escreve todas as sextas-feiras.

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