Idosa de 83 anos surpreende ao recusar a cidade e viver isolada há décadas nas montanhas de Guizhou
Última moradora de um vale esquecido na China mantém a rotina rural há mais de 50 anos, entre trilhas íngremes, agricultura reduzida e longas caminhadas até o mercado

A história dessa idosa de 83 anos começa muito antes das imagens aéreas que hoje revelam o vale escondido entre as montanhas de Guizhou, no sudoeste da China.
A região, cercada por encostas altas e acessível apenas por uma trilha estreita tomada por vegetação, já foi o lar de diversas famílias rurais. Hoje, porém, só resta uma: a família Dai — e ela é o elo mais antigo dessa permanência.
Um vale que se esvaziou com o tempo
Décadas atrás, várias casas ocupavam o fundo do vale. No entanto, conforme vizinhos migraram para áreas urbanas, especialmente para o Condado de Huishui, o cenário mudou. As antigas construções foram se deteriorando, e a maioria dos moradores aceitou políticas públicas que ofereciam novas residências na cidade, com acesso facilitado a serviços e infraestrutura.
A casa da idosa, porém, resistiu. Construída há quase meio século, mistura madeira reforçada, muros de pedra e anexos improvisados que ela e a família mantiveram ao longo dos anos com recursos tirados das próprias montanhas.
Entre a cidade e o campo, a decisão foi permanecer

(Foto: Reprodução)
Em um dos programas de reassentamento do governo chinês, ela chegou a mudar para Huishui com os filhos. Lá, teria moradia mais moderna, proximidade de hospitais e maior conforto. Mas a adaptação não durou.
Os filhos não queriam viver em definitivo na cidade. A casa rural, que nunca foi demolida, continuou sendo um ponto de retorno possível. Assim, a família decidiu voltar ao vale. Hoje, os filhos vivem espalhados — um deles em Diji, com netos já adultos — enquanto o mais novo permanece com a mãe, cuidando da rotina diária.
Rotina marcada por longas caminhadas e agricultura reduzida
Mesmo aos 83 anos, ela continua realizando atividades que exigem esforço físico. Para comprar itens básicos, percorre com o filho um trajeto de mais de uma hora a pé, enfrentando trechos escorregadios e subidas íngremes.
A água não vem de um riacho próximo, mas de um sistema simples de tubulações conectadas a uma fonte distante, substituindo as antigas caminhadas até um poço atrás da montanha.
Na produção agrícola, ela se ajusta ao próprio limite. Já chegou a colher milhares de quilos de milho e vender o excedente. Em anos seguintes, preferiu plantar menos e comprar arroz e vegetais na cidade. Hoje, cultiva apenas pequenas áreas de milho, sorgo, trigo, abóbora e hortaliças, mantendo o que chama de “autonomia possível”.
Proteção do pouco que resta e adaptação ao envelhecer
Com a agricultura reduzida, também diminuiu a criação de animais. Como considera o pastoreio pesado demais na idade em que está, desistiu de ter gado. Para proteger as plantações remanescentes de vacas e ovelhas que circulam pela região, ergueu cercas simples ao redor do quintal.
Na secagem dos alimentos, mantém métodos tradicionais: espalha milho, ervilhas e pimentas ao sol, sobre estruturas improvisadas no terreiro.
Clima ameno, silêncio absoluto e sentimento de pertencimento
Segundo ela, o vale tem um clima mais suave do que outras áreas de Guizhou. Isso elimina a necessidade de aquecedores ou ar condicionado, reduz gastos e torna a vida no campo mais confortável do que poderia parecer.
A rotina é silenciosa, sem trânsito, sem vizinhos e sem ruído urbano. Tudo gira em torno da manutenção da casa, do preparo dos alimentos e das idas esporádicas ao mercado.
Apesar do isolamento, a idosa não descreve sua vida como solidão, mas como continuidade. O vale, onde criou os filhos e trabalhou por décadas, permanece sendo o lugar que ela considera lar — mesmo que quase todos tenham partido.
A presença do filho mais novo ao seu lado garante companhia e apoio. Entre conveniência urbana e a memória do campo, pesa mais o vínculo afetivo com o lugar onde passou praticamente toda a vida.
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