Costumes natalinos que parecem naturais para alguns brasileiros, mas estão totalmente fora da realidade da maioria
Quando certas tradições que parecem “normais” para alguns escondem um nível de privilégio que muitos nunca experimentaram
Você já rolou o feed nas redes sociais em dezembro e teve a sensação de que todo mundo parece estar vivendo um Natal de filme: viagens de luxo, ensaios sofisticados, presentes luxuosos?
Para muitas famílias, essas imagens vendidas como “tradições normais de fim de ano” são, na verdade, um universo à parte, distante da realidade financeira da maior parte da população brasileira.
Embora estas práticas sejam celebradas em postagens brilhantes e cheias de likes, para muitos brasileiros elas não passam de aspirações distantes.
A pesquisa de final de ano da CDL Porto Alegre (2024) revela que quase metade dos entrevistados (47,6%) afirma que o motivo para não comprar presentes é financeiro, e que o gasto médio por pessoa no Natal gira em torno de R$ 700 — sendo R$ 1.083 na classe alta, contra R$ 566 na classe média.
Tradições caras disfarçadas de comum
1. Calendários do advento de luxo
O clássico “advento com chocolate” agora ganhou versões ultraprivilegiadas: marcas de beleza como a Dior vendem calendários com 24 gavetas cheias de itens miniatura ou de edição limitada. A Dior, por exemplo, lançou uma versão por US$ 750.
Há até trunk de madeira por US$ 4.400, uma peça de colecionador que pouco tem a ver com o que muitos associam às tradicionais janelas de chocolate.
2. Ensaios profissionais para cartões de Natal
Em determinados círculos, reservar um fotógrafo para capturar a família em fotos coordenadas para os cartões de Natal é uma prática rotineira, sem contar figurino ou impressões personalizadas.
Para muitas famílias brasileiras, usar o temporizador do celular ou simplesmente não enviar cartões já é suficiente e realista.
3. Férias invernais com orçamento de viagem de alto luxo
Há famílias que veem o Natal como sinônimo de esquiar nos Alpes ou curtir resorts exclusivos nas férias de fim de ano — experiências consideradas comuns em seus círculos, mas inacessíveis para a maioria.
Planejadores financeiros estimam que, para algumas famílias abastadas, mais da metade de seus gastos anuais em viagens está diretamente ligada a essas escapadas tradicionais.
4. Produção exagerada de “Elfo na Prateleira”
O elfo, que começava como uma brincadeira infantil simples, virou um espetáculo.
Algumas famílias gastam dezenas a centenas de dólares em kits temáticos elaborados, decorações cenográficas e até fotógrafos para registrar as peripécias mágicas do boneco durante dezembro.
5. Experiências natalinas em vez de presentes
Presentear com experiências pode parecer sofisticado e consciente — mas, para alguns, isso inclui jantares estrelados, viagens em resorts, oficinas exclusivas com chefs famosos.
Não é só criar memórias: é um investimento alto, às vezes maior do que simplesmente comprar presentes.
O que torna isso ainda mais sensível é a forma como essas tradições se tornam normais e até esperadas nas redes sociais.
Quando crianças abrem calendários de marcas caríssimas, famílias posam todas combinando em pijamas de grife e viajantes postam imagens de cabanas alpinas, a mensagem implícita é: esse é o Natal que “deveríamos” ter.
Mas para muitos brasileiros, a realidade é outra, a que aparece em pesquisas sobre orçamento natalino ou no aperto para fechar as contas do fim do ano.
Nada contra quem pode sustentar essas celebrações luxuosas. O problema surge quando essas práticas luxuosas deixam de ser percebidas como privilégio e se tornam padrão inatingível para a maioria.
Se o Natal é tempo de alegria, memória e união, talvez a verdadeira celebração não esteja nos calendários caros ou nas cabanas dos Alpes, mas nos gestos que cabem no orçamento de milhões de brasileiros — e que, por serem menos visíveis nas redes, muitas vezes passam despercebidos.
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