Ataque a tiros em praia de Sydney mata ao menos 12 pessoas durante feriado judaico
Pelo menos dois criminosos participaram da ação, e a polícia investiga se um terceiro atirador esteve envolvido no atentado

GABRIEL BARNABÉ E RENAN MARRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No pior ataque a tiros em décadas na Austrália, homens armados abriram fogo, mataram ao menos 12 pessoas e feriram outras 29 durante um evento do feriado judaico na praia de Bondi, em Sydney, a mais famosa do país, neste domingo (14), disseram autoridades.
A polícia do estado de Nova Gales do Sul informou que duas pessoas foram detidas, e a emissora australiana ABC (Australian Broadcasting Corp) disse que um dos atiradores foi morto. Várias pessoas foram levadas para hospitais após o tiroteio, segundo um porta-voz do serviço de saúde local.
Pelo menos dois criminosos participaram da ação, e a polícia investiga se um terceiro atirador esteve envolvido no atentado. Mike Burgess, funcionário da inteligência australiana, disse que um dos suspeitos era conhecido das autoridades, mas não considerado uma ameaça imediata. As identidades dos assassinos e das vítimas não foram divulgadas.
A polícia isolou o local, e unidades antibombas vasculham a região em busca de dispositivos explosivos que podem ter sido instalados. Fragmentos foram encontrados em um carro deixado no local e removidos pelos especialistas.
Uma das praias mais famosas do mundo, Bondi costuma estar lotada de moradores e turistas. Vídeos que circulam na internet registram centenas de pessoas em pânico e correndo durante um tiroteio.
Uma das gravações registra um dos atiradores em ação antes de ser imobilizado por um homem de camiseta branca, aparentemente civil, que lhe tomou a arma. Outro criminoso é visto disparando várias vezes de um local próximo, em uma passarela, antes de, aparentemente, ser atingido pelas forças de segurança.
O premiê australiano, Anthony Albanese, do Partido Trabalhista, classificou o incidente de “chocante e angustiante”. Em paralelo, ele foi alvo de críticas feitas pela oposição e por autoridades de Israel, que o acusam de tolerar ações antissemitas. O governo australiano não informou se trata a ação deste domingo como um episódio de terrorismo.
A Austrália – um dos países com maior população judaica no mundo, atrás de Israel e EUA – tem registrado uma série de ataques antissemitas contra sinagogas, prédios e carros desde o início da guerra de Israel em Gaza, em outubro de 2023. As estimativas mais recentes apontam para cerca de 110 mil a 120 mil o número de judeus no país.
O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, acusou o governo australiano de ter alimentado o antissemitismo. “Há três meses, escrevi ao primeiro-ministro australiano dizendo que sua política está jogando gasolina no fogo do antissemitismo”, disse ele, referindo-se a uma carta que enviou a Albanese em agosto, após o anúncio de Canberra de que reconheceria formalmente o Estado da Palestina. “O antissemitismo é um câncer que se espalha quando os líderes se calam e não agem”, acrescentou.
Em setembro, a Austrália anunciou o reconhecimento de um Estado palestino ao lado de outros países, incluindo Reino Unido, Canadá e Portugal. O movimento foi puxado pela França. À época, Albanese defendeu “as aspirações legítimas e de longa data do povo da Palestina de ter um Estado próprio”.
O presidente israelense, Isaac Herzog, por sua vez, disse que judeus foram atacados neste domingo por “terroristas vis” quando foram acender a primeira vela do Hanukkah, tradicional feriado jucaico. Já o ministro das Relações Exteriores do país, Gideon Saar, disse estar consternado com o tiroteio.
“Estes são os resultados da onda antissemita nas ruas da Austrália nos últimos dois anos, com os apelos antissemitas e incitantes de ‘Globalizar a Intifada’, que se concretizaram hoje”, afirmou.
“Se fomos alvos deliberados desta forma, trata-se de uma escala que nenhum de nós jamais poderia ter imaginado. É algo horrível”, disse Alex Ryvchin, co-diretor do Conselho Executivo da Comunidade Judaica Australiana, à Sky News, acrescentando que seu assessor de imprensa ficou ferido no ataque.
Sussan Ley, líder do Partido Liberal, da oposição, disse que a perda de vidas no incidente foi significativa. “Os australianos estão em profundo luto esta noite, com a violência odiosa atingindo o coração de uma comunidade australiana icônica, um lugar que todos conhecemos tão bem e amamos, Bondi”, afirmou.
Testemunhas relataram caos e pânico. “Vi pelo menos 10 pessoas no chão e sangue por toda parte”, disse Harry Wilson, 30, morador que testemunhou o tiroteio, ao jornal Sydney Morning Herald.
O ataque ocorreu quase 11 anos depois que um atirador solitário fez 18 pessoas reféns no Lindt Cafe, em Sydney. Na ocasião, dois reféns e o atirador foram mortos após um impasse de 16 horas.
O incidente deste domingo é o pior do tipo desde 1996, quando Martin Bryant, um homem de 28 anos, matou 35 pessoas e feriu outras 23 na colônia prisional histórica de Port Arthur, um lugar turístico no sudeste da Tasmânia. Ele foi condenado a 35 prisões perpétuas. Foi depois desse caso que o Congresso australiano aprovou uma série de medidas que controlam o acesso a armas de fogo.
Mais recentemente, desde o início da guerra em Gaza, o número de casos de antissemitismo e islamofobia aumentou pelo mundo. Além dos incidentes na Austrália, em maio deste ano, um homem armado matou dois funcionários da embaixada de Israel do lado de fora do Museu Judaico de Washington, nos Estados Unidos.
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