Após 300 anos, ave histórica extinta pode voltar à vida

Apesar do entusiasmo em torno da iniciativa, especialistas pedem cautela

Isabella Valverde Isabella Valverde -
Após 300 anos, ave histórica extinta pode voltar à vida
(Foto: Captura de Tela/YouTube/Animal TV)

Durante séculos, o dodô simbolizou um ponto sem retorno na história da humanidade: a extinção causada diretamente pela ação humana. Agora, mais de 300 anos depois de desaparecer da natureza, a ave voltou ao centro das atenções da ciência mundial. Um projeto de engenharia genética reacendeu o debate sobre até onde a tecnologia pode ir — e se é possível corrigir perdas irreversíveis do passado.

A iniciativa é liderada pela empresa norte-americana Colossal Biosciences, que aposta em avanços recentes da biotecnologia para tentar recriar um animal com características muito próximas às do dodô. A proposta, no entanto, não envolve trazer a espécie exatamente como ela existia no século XVII, mas desenvolver uma versão moderna inspirada no animal extinto.

O dodô desapareceu por volta de 1681, pouco tempo após a chegada de colonizadores europeus à ilha Maurício, no Oceano Índico. Sem predadores naturais e incapaz de voar, tornou-se uma presa fácil para a caça humana e para animais introduzidos pelos próprios colonizadores. Em poucas décadas, a espécie foi completamente eliminada, tornando-se um dos casos mais emblemáticos de extinção provocada pelo homem.

Diferente do que ocorre com mamíferos, a clonagem tradicional não é viável em aves. Por isso, os cientistas adotaram outra estratégia: a edição genética. O ponto de partida do experimento é a pomba-de-nicobar, considerada o parente vivo mais próximo do dodô. A partir dela, pesquisadores trabalham na modificação de genes específicos para aproximar o resultado final das características da ave extinta.

Um dos avanços mais relevantes do projeto foi o cultivo, em laboratório, de células germinais primordiais de pombos — estruturas que dão origem a óvulos e espermatozoides. Essas células permitem intervenções genéticas antes de serem inseridas em embriões de aves vivas, como galinhas, que atuariam como hospedeiras no processo reprodutivo.

Apesar do entusiasmo em torno da iniciativa, especialistas pedem cautela. Até o momento, não existe um dodô recriado, nem embriões prontos. O material genético disponível é fragmentado e reconstruído a partir de comparações com espécies atuais, o que limita a fidelidade do resultado. Mesmo a empresa responsável reconhece que o objetivo não é ressuscitar a espécie original, mas criar um organismo geneticamente modificado que se assemelhe a ela.

Outro ponto de debate envolve o prazo e os impactos do projeto. A Colossal fala em avanços mais concretos dentro de cinco a sete anos, mas admite que se trata de uma estimativa otimista. Além dos desafios técnicos, há impasses éticos e ecológicos, especialmente sobre o uso de recursos elevados em espécies extintas enquanto milhares de animais vivos seguem ameaçados de desaparecer.

Ainda assim, os responsáveis pelo projeto defendem que a tentativa de recriar o dodô pode representar um marco na ciência. Segundo eles, as técnicas desenvolvidas podem futuramente ser aplicadas na preservação de espécies em risco crítico, abrindo novas possibilidades para a conservação da biodiversidade.

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Isabella Valverde

Isabella Valverde

Jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, com passagens por veículos como a TV Anhanguera, afiliada da TV Globo no estado. É editora do Portal 6 e especialista em SEO e mídias sociais, atuando na integração entre jornalismo de qualidade e estratégias digitais para ampliar o alcance e o engajamento das notícias.

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