Como o sistema imunológico retarda a perda de peso, segundo estudo

Descoberta mostra que células de defesa atuam como um “freio biológico”, protegendo as reservas de gordura mesmo em situações de frio ou jejum

Isabella Valverde Isabella Valverde -
Como o sistema imunológico retarda a perda de peso, segundo estudo
(Imagem: Reprodução/ IA)

Quando o corpo é submetido a situações extremas — como jejum prolongado ou exposição ao frio —, a lógica parece simples: queimar gordura para gerar energia. Mas um novo estudo revela que o organismo não funciona exatamente assim. Pesquisadores da Universidade da Califórnia descobriram que o sistema imunológico atua como um verdadeiro “freio biológico”, ajudando a preservar gordura mesmo quando o corpo está sob forte demanda metabólica.

A pesquisa, publicada na revista Nature, mostra que células de defesa conhecidas principalmente por combater infecções também têm um papel estratégico no controle do gasto energético. Em vez de apenas reagir a ameaças externas, o sistema imunológico participa ativamente da regulação da gordura corporal, evitando que as reservas sejam consumidas rápido demais.

O foco do estudo foi o tecido adiposo branco, responsável por armazenar energia para momentos críticos. Esse tipo de gordura é essencial para a sobrevivência, especialmente em situações de escassez alimentar ou temperaturas baixas. O que os cientistas queriam entender era por que o corpo resiste a perder grandes quantidades de gordura mesmo quando precisa de energia — e a resposta veio de um lugar inesperado.

Os pesquisadores observaram que, diante de estímulos como o frio, ocorre a ativação do sistema nervoso simpático, responsável por preparar o organismo para situações de alerta. Esse processo desencadeia a quebra da gordura, mas, ao mesmo tempo, atrai neutrófilos — um tipo de glóbulo branco — para o tecido adiposo visceral, que envolve órgãos vitais.

Essa infiltração só acontece quando dois sinais são ativados ao mesmo tempo nas células de gordura: a lipólise, que é a degradação da gordura, e uma via molecular específica conhecida como p38 MAPK. Esse “sinal duplo” leva à liberação de uma substância inflamatória chamada leucotrieno B4, responsável por chamar os neutrófilos para o local.

Uma vez ali, essas células imunológicas passam a desempenhar um papel regulador. Elas liberam a molécula IL-1β, que envia ao organismo uma mensagem clara: é hora de desacelerar a queima de gordura. O resultado é a supressão da lipólise, protegendo as reservas energéticas em momentos de estresse metabólico.

Para confirmar essa função, os cientistas realizaram testes em camundongos, eliminando os neutrófilos ou bloqueando a produção de IL-1β. Nessas condições, a resposta foi imediata: a queima de gordura se intensificou e a massa corporal diminuiu de forma significativa. Sem esse “freio imunológico”, o organismo passou a consumir energia de maneira muito mais agressiva.

O estudo também buscou sinais desse mecanismo em humanos. Ao analisar dados genéticos, os pesquisadores identificaram que pessoas com obesidade apresentam maior atividade dos genes ligados a essa via imunometabólica. Isso indica que a interação entre sistema imunológico e tecido adiposo pode estar diretamente relacionada à dificuldade de perder peso.

Do ponto de vista evolutivo, esse sistema faz sentido. Para nossos ancestrais, conservar gordura podia ser a diferença entre sobreviver ou não a períodos de fome ou frio intenso. O corpo, portanto, desenvolveu estratégias para proteger sua principal fonte de energia em ambientes hostis.

A descoberta amplia de forma significativa o entendimento sobre o papel do sistema imunológico. Ele não atua apenas na defesa contra doenças, mas também na manutenção do equilíbrio energético do corpo. Segundo os cientistas, trata-se de um “diálogo interno” entre células de gordura e células imunológicas que abre um novo campo de investigação médica.

Compreender esse mecanismo pode ser decisivo para o desenvolvimento de tratamentos inovadores contra a obesidade, distúrbios metabólicos e até a perda de peso involuntária. Ao manipular essa via, a ciência pode encontrar novas formas de enfrentar um dos maiores desafios de saúde da atualidade.

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Isabella Valverde

Isabella Valverde

Jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, com passagens por veículos como a TV Anhanguera, afiliada da TV Globo no estado. É editora do Portal 6 e especialista em SEO e mídias sociais, atuando na integração entre jornalismo de qualidade e estratégias digitais para ampliar o alcance e o engajamento das notícias.

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