Com Síndrome de Down, jovem de Anápolis superou câncer e vive o sonho de ser policial
História de superação comoveu todos os servidores da delegacia que ele atua e deixou o ambiente muito mais feliz
A Delegacia de Proteção à Pessoa com Deficiência de Anápolis ganhou um super reforço. Se trata de Lucas Tadeu de Morais, de 23 anos, que é o mais novo ‘policial civil voluntário’ da equipe.
O jovem, que é portador de Síndrome de Down e está no primeiro ano do ensino médio, sempre sonhou em trabalhar com a corporação e nutre um grande respeito por todas as profissões relacionadas à segurança.
Neste mês de janeiro, a mãe, Luce Anne Pereira, entrou em contato com o delegado Manoel Vanderic, titular da unidade, e perguntou se o filho poderia ser um servidor voluntário.
A proposta foi aceita de imediato e, desde o último dia 20, Lucas acompanha outros policiais em ocorrências, atende as pessoas que procuram a delegacia e auxilia em outras atividades administrativas.
“Um dia estávamos no Parque Ipiranga em uma caminhada e o doutor Manoel estava lá. Tirei fotos e falei que ele era um grande fã da polícia. O doutor então disse que se tivesse oportunidade, aceitaria ele na delegacia. Eu guardei aquele carinho no coração e recentemente chamei ele no Instagram, perguntei se ainda se lembrava do Lucas e se a proposta continuava de pé. O doutor confirmou, levei o Lucas nos primeiros dias e agora ele se sente feliz e realizado”, relatou.
Ao Portal 6, Lucas contou que gosta de tudo que faz na delegacia e que é um policial “mais bravo e forte que o incrível Hulk”. Questionado se também queria se tornar delegado como Vanderic, o rapaz disse que deseja apenas continuar trabalhando com ele.
“Quero continuar sendo polícia, igual os guerreiros [policiais]. Ele [Vanderic] é o meu amigo”, afirmou.
Câncer
Para ocupar simbolicamente o cargo não foi fácil. É que pouco após encontrar o delegado no parque, Lucas foi diagnosticado, no último mês de abril, com um sarcoma de ewing na virilha, um câncer que atinge predominantemente os ossos ou partes moles.
Ele chegou a passar por um procedimento cirúrgico para retirada do tumor com o cirurgião pediátrico Olegário Indemburgo, mas precisou se deslocar até o Hospital do Amor, em Barretos, São Paulo, para receber o tratamento adequado.
“Recebemos apoio da Prefeitura de Anápolis para ir e ficamos seis meses. Lá é via amor mesmo, o nome combina com tudo. Chegamos com todas as dores do mundo, apavorados e fomos acalmados. Um dia fomos ao cinema assistir Os Vingadores, depois o Lucas pediu para eu ser a Mulher Maravilha, que ele seria o Hulk. Fomos na loja procurar as roupas e ele passou a ir para as quimioterapias de Hulk. Não queria que as pessoas vissem ele, então andava e agia como o Hulk. Todos no hospital também o tratavam como o super-herói”, relembrou Luce Anne.
Agora, o jovem está em fase de remissão da doença e precisa retornar a Barretos a cada 90 dias para fazer vários exames. Apesar disso, a orientação médica é que ele viva do jeito que gosta e seja feliz.
“Quando o médico disse que podíamos voltar para casa, fizemos um passeio em Caldas Novas e eu não tinha coragem de deixá-lo sozinho. Estava sem cabelo por causa da quimio e deixou a barba crescer dizendo que ia virar policial. Então lembrei de falar com o doutor Manoel e foi a melhor situação do mundo. Deram até uma arma de brinquedo para o Lucas na delegacia e se importam em deixá-lo feliz e realizado. Ele sempre quis ser e agora é um policial civil”, disse a mãe.
Emprego
A história de superação de Lucas comoveu toda a equipe da delegacia, que também responde pelos idoso e trânsito, e o ambiente já se transformou. De acordo com Vanderic, depois que Lucas chegou, não há quem procure a unidade que não saia de lá mais feliz.
“Acho que tinha que ser obrigatório contratar essas pessoas em escolas, delegacias, empresas e órgãos públicos que atendem o público, como Rápido e Vapt Vupt. Deveria ter uma cota muito maior do que tem hoje, tinha que ser obrigação. São pessoas carinhosas, que trazem alegria e ensinam como tratar o próximo com humanidade. São tudo o que uma empresa procura em alguém”.
Ainda de acordo com o delegado, existem vários outros portadores de Síndrome de Down que também estão em busca de oportunidades em Anápolis. Alguns, inclusive, também deverão passar em breve pela delegacia.
O encaminhamento para as empresas que tenham interesse nas contratações é todo feito pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE).