Música mais rentável de Roberto Carlos em 2020 foi inspirada na 1ª mulher
Cantor completa 80 anos na próxima segunda-feira (18)
Karina Matias, de SP – Foi como forma de conquistar Nice Rossi, com quem se casaria em 1968, que Roberto Carlos compôs em 1966 “Como É Grande o Meu Amor Por Você”, uma das suas músicas de maior êxito em uma carreira recheada de grandes sucessos.
Levantamento do Ecad, entidade que arrecada os direitos autorais no país, aponta que a canção foi a que mais gerou rendimentos em 2020 para o cantor, que completa 80 anos na próxima segunda (18). Entre as 676 músicas de autoria do rei, a canção é a segunda mais gravada até hoje, atrás apenas de outro clássico “Emoções”.
Foi também a segunda mais tocada nos últimos cinco anos nos principais segmentos de execução pública -rádio, sonorização ambiental, casas de festa e diversão, Carnaval, festa junina, show e música ao vivo (os dados do Ecad não incluem as plataformas digitais).
Paulo Cesar de Araújo, autor da biografia “Roberto Carlos em Detalhes”, afirma que o músico estava no início do namoro com Nice e precisava de uma canção forte para demonstrar o quanto estava apaixonado e, desta forma, convencer ela e a família do seu amor -os pais não viam com bons olhos o novo relacionamento da filha.
“Foi a música que ele falou que precisava fazer: ‘E eu consegui demonstrar o que eu senti por Nicinha, isso me ajudou a conquistá-la’. Ele usa essa frase [ao falar da faixa]”, relata Araújo.
Com versos precisos, diretos, objetivos, uma mensagem na medida e uma melodia simples, Araújo destaca que “Como É Grande o Meu Amor Por Você” é uma canção eterna. “É para sempre, porque ela não parou, continua sendo contada, renovada e conquistando novos públicos”. Segundo dados do Deezer, é também a quinta música mais tocada de Roberto Carlos na plataforma, nos últimos seis meses no país.
Araújo, que prepara outro livro sobre o artista, “Roberto Carlos Outra Vez”, destaca que em suas composições, o músico sempre demonstra cuidado em deixar a mensagem da letra a mais abrangente possível. “‘Como É Grande o Meu Amor Por Você’ serve para um amor, para um filho, para uma avó, para um amigo, para a humanidade.”
É assim em “Emoções”, de 1981, e composta em parceria com Erasmo Carlos. Roberto Carlos escreveu a faixa em homenagem ao Canecão, no Rio de Janeiro, que era na época a principal casa de shows no Brasil e palco de temporadas de muito sucesso para o rei.
“Ele faria uma nova temporada lá e queria uma canção que expressasse a emoção de cantar ali”, afirma Araújo. “Quando eu estou aqui, eu vivo esse momento lindo. Olhando para você e as mesmas emoções sentindo”, diz o início da faixa.
“Mais uma vez, com aquele cuidado de fazer a música aberta, não fechar. Por exemplo, ele poderia dizer ‘olhando para vocês’. Ficaria mais restrito. Coloca ‘olhando para você’, que é para alguém poder dedicar a uma mulher também”, acrescenta o biógrafo.
Já “É Preciso Saber Viver”, que está no topo da lista do Ecad como a música de Roberto Carlos mais tocada nos últimos cinco anos, foi composta pelo músico em parceria com Erasmo Carlos para a dupla Os Vips, formado por Ronaldo Luís Antonucci e Márcio Augusto Antonucci (1945-2014).
“Os Vips estavam pedindo uma nova música para o disco que eles iriam gravar. E o Roberto, então, fez essa música e mandou lá dos Estados Unidos, segundo Marcio me contou. Roberto passou por telefone para ele”, afirma Araújo.
A dupla gravou a faixa em 1968. O rei regravou anos depois, em 1974. A canção também está presente no filme “Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa” (1970), em que ele canta com Erasmo e Wanderléa.
O período entre o fim dos anos 1960 e início dos anos 1970 é, segundo o biógrafo, o mais produtivo de Roberto Carlos, quando ele produzia canções para os discos dele, para os de Erasmo Carlos e para outros artistas.
De acordo com o levantamento do Ecad, além do seu parceiro de composição, Maria Bethânia, Agnaldo Timóteo e Brazilian Tropical Orchestra estão entre os intérpretes que mais gravaram músicas dele.
Parcerias com Erasmo e Jennifer Lopez
“Erasmo ficou com a maior dor de cotovelo quando ouviu a música. Ele queria estar nessa parceria.” É o que conta Paulo Cesar de Araújo sobre “Como É Grande o Meu Amor por Você”. Do levantamento do Ecad com as 20 faixas mais tocadas do rei nos últimos cinco anos, apenas essa canção e outras duas (“Chegaste” e “Esse Cara Sou Eu”) não são de autoria de ambos.
Araújo detalha que a colaboração entre os dois não tem uma regra nem funciona como outras parcerias clássicas, em que um é responsável pela letra e outro pela melodia. “Mas, geralmente, é assim: o Roberto está fazendo as músicas que ele vai gravar no disco dele. Ele começa essa música, ele desenvolve, já vem com a melodia e aí senta com o Erasmo e afina uma coisa e outra. Mesma coisa Erasmo: ele vai gravar o disco dele, está fazendo a música, a melodia dele, senta com Roberto e afina.”
“O que posso dizer com certeza é que as músicas que Roberto gravou [nos discos dele] são praticamente dele, e as músicas que Erasmo grava são praticamente de autoria dele, com uma colaboração um do outro em um trecho ou verso”, complementa.
A parceria entre os músicos é uma das mais longevas na história da música brasileira. Teve início em 1963, com “Parei na Contramão”, a primeira canção que fizeram juntos, e segue oficialmente até hoje. Nesses quase 60 anos, Araújo relata que eles ficaram separados cerca de um ano e meio por causa de uma briga. Foi justamente no período em que Roberto compôs “Como É Grande o Meu Amor por Você”.
Roberto Carlos já fez parcerias e gravações com centenas de artistas. Curiosamente “Chegaste”, lançado no fim de 2016, em dueto com Jennifer Lopez, é um dos seus sucessos internacionais mais recentes. De acordo com levantamento do Deezer, feito a pedido da reportagem, a música foi a mais tocada no mundo na plataforma, nos últimos seis meses -o Spotify não divulgou os dados do seu serviço.
A autora da faixa é a cantora de Porto Rico Kany García. Roberto Carlos fez a versão para o português. “Chegaste” também figura no levantamento do Ecad, sendo a quarta mais tocada nos últimos cinco anos.