Polícia Civil vai investigar morte de mãe e bebê após parto conturbado no Materno Infantil
Portal 6 teve acesso ao prontuário e conta como foi a agonia da vítima, do início ao fim
Uma história cheia de dúvidas e questionamentos envolve a morte de Mayara Moreira Teixeira Santos, de 31 anos, logo após dar à luz, e do filho dela, recém-nascido, dois dias depois, no Hospital Estadual Materno-Infantil Dr. Jurandir do Nascimento (HMI), no Setor Oeste, bairro nobre de Goiânia.
As mortes aconteceram nos últimos dias 13 e 15 de janeiro e foram, segundo denúncia do viúvo de Mayara, frutos de imperícia médica e descaso da unidade, que não tratou a situação com a urgência e gravidade necessárias.
O Portal 6 teve acesso ao prontuário médico da mulher e a detalhes da tragédia, que começou no dia 10 de janeiro, quando a vítima sentiu fortes dores de cabeça e foi levada pelo marido para um primeiro atendimento, ainda na Maternidade Nascer Cidadão, em Goiânia.
Atendida e medicada no local, ela foi encaminhada para o Materno-Infantil, já que o quadro inspirava cuidados e a unidade não oferecia estrutura para casos de média e alta complexidade, no qual se enquadrava.
Começava uma longa sequência de dor e sofrimento. Ela foi colocada, incialmente em uma maca no corredor, onde ficou por horas aguardando atendimento, até ser levada a uma sala de pré-parto.
Lá, teria sido medicada para indução do parto, o que levou ao rompimento da bolsa, por volta das 20h do dia 12. A vítima pedia por uma cesariana, mas o hospital estaria negando, por se tratar de protocolo do Ministério da Saúde.
O quadro se agravou. Com falta de ar e dificuldades para respirar ela ainda esperou mais algumas horas até que decidiram tentar o parto normal. Sem sucesso, ela foi levada ao centro cirúrgico onde o médico tentou o fórceps, que seria, segundo ele, a via mais rápida.
Foram de sete a oito minutos de ação até que o profissional disse que o útero dela não tinha forças para jogar a criança para fora. Somente aí surgiu a opção pela cesárea, a esta altura, de emergência. A criança, enfim, foi retirada, com o pai assistindo à distância a intervenção médica.
Concluído o procedimento, o médico teria avisado ao marido que a mulher havia perdido muito sangue e precisaria de infusão, sendo levada para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). O útero dela, estaria, inclusive, fora do lugar.
Já era tarde demais. Mayara sofreu uma parada cardíaca e morreu.
O trauma com a tentativa do parto a fórceps também vitimou o bebê, que sofreu anoxia, que é falta de oxigênio.
O coração não respondia espontaneamente e ele precisou ser encaminhado à UTI e colocado em respiração mecânica. Na manhã do dia 15 de janeiro, ele também não resistiu e morreu.
O pai e marido registrou ocorrência policial pedindo apuração das duas mortes. Para ele, que acompanhou de perto todo o processo, houve imperícia da equipe médica que atendeu Mayara no Hospital Materno-Infantil. A Polícia Civil vai investigar o caso.
Com a palavra, o HMI:
O Hospital Estadual Materno Infantil Dr. Jurandir do Nascimento (HMI) informa que a paciente M.M.T.S., de 31 anos, gestante de 37 semanas e 5 dias, deu entrada na unidade, encaminhada pela Maternidade Nascer Cidadão, com quadro de pré-eclâmpsia.
Após diagnóstico e exames, o parto foi realizado, sendo que mãe e filho tiveram complicações e foram encaminhados para UTI.
Infelizmente, o quadro de ambos se agravou e os pacientes vieram a óbito. A unidade informa ainda que aplicou todas as medidas cabíveis à gravidade do caso.
Seguindo protocolos, toda morte materna, infantil e fetal é investigada posteriormente por um comitê médico específico do hospital, a fim de fortalecer as políticas públicas de prevenção.