Abandono: mais da metade dos idosos em abrigo de Anápolis nunca recebem visitas

Diretora de um dos locais que acolhem a terceira idade também revelou que unidade opera próxima a 100% da capacidade

Davi Galvão Davi Galvão -
Abandono: mais da metade dos idosos em abrigo de Anápolis nunca recebem visitas
Refeitório da unidade, onde idosos fazem as refeições. (Foto: Portal 6)

São 78 idosos que atualmente moram no Abrigo dos Velhos Professor Nicephoro Pereira da Silva, localizado no bairro Jundiaí, em Anápolis. O local permite visitas, tanto de familiares quanto do público em geral. Mesmo assim, mais da metade dos internos nunca recebe nenhum visitante.

Para essa parcela, as únicas pessoas com quem eles irão conviver, até o último dia, são os próprios colegas e a equipe de funcionários.

O Portal 6 esteve na unidade nesta semana para acompanhar um pouco da rotina do local e a diretora da unidade, Graziana Ferreira Gonzaga, explicou sobre essa realidade.

“É muito doloroso ver que a maioria desses idosos não recebe nenhuma visita. A família que eles têm hoje somos nós, que vamos, conversamos, damos um bom dia. A realidade é muito dolorosa, triste. Por mais que sejam muito bem cuidados, tenham todo o carinho, eles não têm mais contato com a família de sangue”, contou.

“Tem uma aqui que todo dia vem aqui [na sala da diretora] e pede para a gente ligar para o filho dela, achando que ele não vem porque a gente não liga. Dói muito”, disse, por fim.

Maria Expedita, de 70 anos, contou que adora as atividades de artesanato. (Foto: Portal 6)

Se por um lado, trabalhar em um ambiente assim realmente é desafiador, Graziana, que antes trabalhava em uma creche da Prefeitura, garantiu que também é muito satisfatório.

“É uma responsabilidade muito grande estar presente nos momentos finais de tantas pessoas, saber que somos nós quem eles vão ter até o final. Passar pelos corredores, dar um bom dia, ver como estão, vale a pena. Com certeza vale.”

Capacidade máxima

O abrigo, já com os 78 internos, também se prepara para receber mais dois novos residentes nos próximos dias e atingir 100% da capacidade. Como consequência, o local não poderá mais receber nenhum outro idoso, até que uma nova vaga surja.

“É uma situação bem complicada, o que falta mesmo é interesse do governo em construir mais abrigos, porque os que existem hoje já estão no máximo que conseguem. A população está envelhecendo, o número de idosos só cresce, e precisamos urgentemente de mais lugares como este”, destacou.

Conforme Graziana relatou, apesar de já estarem no limite, muitas pessoas ainda procuram a unidade na esperança de encontrar uma vaga. Nesses casos, ela explicou que o procedimento é colher os dados do idoso e colocá-lo em uma fila de espera — que é o que está sendo feito atualmente.

Com relação à rotina na unidade, ela explicou que todos os internos têm a opção de seguir atividades já estabelecidas, com as refeições, descansos, fisioterapia e atividades em grupo para os momentos de lazer.

No abrigo, idosos dormem em alas separadas entre homens e mulheres, com dois internos por quarto. (Foto: Portal 6)

“Aqui eles têm uma capelinha, para rezarem, tem equipamentos para atividades físicas, artesanato, desenho, pintura e também, terça e domingo são os dias de visitação. Não vem muita gente, mas ainda assim, eles gostam muito”, pontuou.

Espaço destinado para as atividades de fisioterapia. (Foto: Portal 6)

 

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