“Nem saiu do papel”, diz Antônio El Zayek sobre Plano de Recuperação Ambiental de Anápolis
Prefeitura de Anápolis afirmou que não vai se posicionar
Um dos problemas enfrentados pela gestão Roberto Naves foi lidar com as enchentes que assolam o município. Se deparando com uma combinação entre taxas recorde de precipitação e um baixo preparo nas bacias dos córregos que cruzam a cidade, ao final de 2024, essa luta pode ser considerada uma batalha perdida.
Isso ocorre porque, mesmo após 8 anos de gestão, com certos avanços, o plano de controle e recuperação ambiental, iniciado em 2022, sequer teria saído do papel. Planejado pelo consultor ambiental Antônio El Zayek, o projeto, de grande envergadura, segue ‘engavetado’, sem atingir ainda a realidade local.
Ao Portal 6, o especialista explicou que, de tudo que foi proposto no projeto, apenas algumas recomendações teriam sido aplicadas. Nesse cenário, a expectativa é que os problemas sejam solucionados dentro alguns anos, conforme forem empregadas as intervenções projetadas.
“Na verdade, esse plano foi entregue, a prefeitura começou a executar, ainda muito insipiente, muito pequenininho. Mas já conseguimos fazer a limpeza do Parque da Cidade e do [Central Parque] Onofre Quinam. Por isso, não tivemos alagamento na Amazílio, também porque não teve chuva tão forte naquela região, mas tivemos em outras regiões”, contou.
Segundo ele, a construção dos chamados jardins filtrantes, implementação de terraços, espaços alagados e drenagens, tanto em parques quanto em calçadas, não foram devidamente executadas. Um exemplo de início desse trabalho foi a reforma dos terraços, que amparam a queda e aliviam a velocidade das águas que descem pelo Parque da Cidade.
Ele também apontou a limpeza do trajeto que o Córrego das Antas faz, passando pelo parque e descendo para a região Central da cidade, como uma das poucas implementações realizadas. Ao passar pela Rua Amazílio Lino é possível perceber parte desse serviço sendo executado, pelas máquinas que recorrentemente ampliam o leito.
Áreas de Risco
Locais como a Amazílio, Marginal Ayrton Senna e Pedro Ludovico estão entre as grandes prioridades do plano. Elas estão inseridas na chamada “Matriz de Risco 1” – nível mais urgente e prioritário, dentro do planejamento proposto por Zayek, até mesmo por ofertar um risco para a população que reside por lá.
“Alagamentos, nas áreas de risco de Anápolis, ainda são passíveis. As chuvas estão cada vez mais adensadas, até pelo contexto de aquecimento global, e porque o plano não foi posto em pauta. Não se resolve um problema de 100 anos em 2, então precisamos de uma mudança de paradigma”, revelou.
A dificuldade em implementar as ações propostas pelo projeto são, em parte, resultado de um centenário de degradação da vegetação local, da ‘cimentização’ do perímetro urbano e da falta de espaços para percolação da água – que seria o retorno das chuvas para o lençol freático. Segundo ele, as políticas vigentes focavam apenas em jogar todas as enxurradas no leito dos córregos, causando uma sobrecarga.
“É necessário reestabelecer o serviço ecossistêmico de drenagem, como era antigamente. Isso vai tanto evitar as enchentes quanto perenizar as nascentes, e a água vai completar o ciclo. No fundo de Vale, que une as descidas da Avenida Brasil, Universitária, Presidente Kennedy e outras ainda, a água desce com velocidade, se acumula e acaba causando os alagamentos”, contou
Problemas centrais
Apesar das diversas ocorrências de enchentes e alagamentos que, além de causarem grandes prejuízos, às vezes também resultam até em mortes, ele ressaltou que o maior problema da cidade seria outro.
“O grande problema ambiental de Anápolis não é enchente e nem falta da água. São 28 grandes erosões caudas pelo fluxo da água, que lava o solo e escava a terra, quando o terreno está descoberto, sem vegetação e nem espaços de infiltração. Felizmente, não tivemos nenhuma chuva que acumulasse 80mm em um dia, como houve há dois anos atrás, mas, mesmo assim, os problemas seguem se agravando”, explicou.
Como uma coisa puxa outra, ele ainda reforçou a importância de garantir o retorno da água para o lençol freático não só em razão dos danos e riscos à população, mas também para coibir uma possibilidade futura que, apesar de aparentar não ser urgente, pode ser tornar um problema enorme.
“A Saneago fala em fazer um reservatório, mas não tem viabilidade técnica. Anápolis tem que trabalhar recarga de lençol freático, o Piancó sozinho, como está, não vai aguentar toda a demanda. Esse lago, que colocaram e estão divulgando, é uma resposta política, mas realmente ainda carece de viabilidade técnica”, finalizou.
Ao Portal 6, a Prefeitura de Anápolis informou que não vai se pronunciar.