Psicóloga explica por que geração Z tem medo de relacionamento amoroso: “pressão por perfomance”

Ao Portal 6, especialista diz que influencia das redes sociais e tecnologia são alguns dos fatores

Gabriella Pinheiro Gabriella Pinheiro -
Psicóloga explica por que geração Z tem medo de relacionamento amoroso: “pressão por perfomance”
Imagem mostra tela de celular no app Tinder. (Foto: Clara Jardim/Portal 6)

Em Manchild, nova música da cantora Sabrina Carpenter, lançada na última sexta-feira (06), a letra aborda sobre algo que pode “soar familiar”: uma jovem que se envolve com um cara bonito, mas que ela chama de “emocionalmente incompetente”, do qual não consegue abrir mão. Alguém que não se compromete, mas também não deixa você ir. A canção dialoga diretamente com um movimento em alta e que gera uma pergunta entre especialistas: por que a Geração Z tem tanto medo de se relacionar?

Mesmo querendo ser amados, quando se trata de algo mais sério, frases como “não estou preparado para um relacionamento” ou “busco algo casual” são comuns. As relações, nesse contexto, são sempre tratadas como algo indefinido: “não é ficada, mas também não é namoro”.

Essa ‘trava de segurança’ tem explicação. Ao Portal 6, a psicóloga e psicanalistas Sabrina Rocha explica que os jovens da Geração Z — marcada por pessoas nascidas aproximadamente entre os anos de 1995 e 2010 — cresceram em um mundo tomado pela rapidez e tecnologia.

Paralelamente, crises e mudanças constantes nas estruturas familiares e sociais também contribuíram para que muitos desses jovens apresentem dificuldades em assumir relacionamentos duradouros.

“Um dos motivos que observo é o medo da vulnerabilidade emocional e a pressão por performance, inclusive no amor. Vivemos na era da performance. Você precisa se destacar em tudo, ser o melhor em tudo. Então, às vezes, a pessoa tem medo de viver um relacionamento porque acha que precisa ser perfeita naquele relacionamento”, salienta.

Os aplicativos de relacionamento, que inicialmente pareciam facilitar a busca por um parceiro, acabaram tendo um efeito reverso, criando o que a psicóloga chama de match infinito — o excesso de opções.

“Como a pessoa vai assumir um relacionamento se não consegue escolher? Ela entende que tem muitas opções à disposição, muitas pessoas a escolhendo, e ela pode escolher várias também, né? Isso acaba gerando desconfiança nas relações, exposição a traições, términos traumáticos, experiências negativas com os pais e dificuldades em lidar com frustrações”, explica.

As tecnologias e as redes sociais ainda desempenham um papel importante nesse movimento. Sabrina aponta que esses ambientes promovem conexões rápidas e substituíveis, criando expectativas irreais sobre o amor.

Há também a cultura do imediatismo, que influencia toda uma geração acostumada a esperar gratificações instantâneas — inclusive nos relacionamentos, onde tudo precisa acontecer rapidamente, sob o medo de “perder outras possibilidades”, movido pela ideia de que sempre pode haver alguém melhor a um clique de distância.

“Muitos cresceram em lares com pais separados, relações conturbadas ou emocionalmente ausentes. Alta ansiedade, baixa tolerância à frustração e dificuldade de permanecer em algo que exige esforço emocional são características marcantes. Hoje, tudo exige esforço, mas, como estamos na era da intolerância à frustração, a pessoa acha que não deve se esforçar. Relacionamento exige esforço, e a Geração Z muitas vezes não quer isso — é o que observo”, destaca.

Para quem se enquadra nesse cenário, a previsão, segundo a especialista, é de que o padrão continue, e as relações se tornem cada vez mais superficiais, descartáveis e frustrantes.

Assim como New Rules, canção de Dua Lipa — em que a cantora dá dicas para superar um relacionamento —, a psicóloga também orienta alguns passos que podem evitar frustrações ao lidar com pessoas que apresentam esse tipo de comportamento.

Uma delas é ter paciência e manter os limites claros, sem anular as questões que o outro precisa resolver. Além disso, comunicar-se de forma aberta e sem manipulações sutis é a base para o estabelecimento de uma relação saudável.

“Quem quer se comprometer, demonstra — ainda que com dificuldades —, com atitudes, não apenas com palavras. E a pessoa deve cuidar da própria saúde emocional enquanto se envolve: fazer terapia, por exemplo. Se perceber que está se desgastando mais do que se nutrindo, talvez seja a hora de repensar o envolvimento”, conclui.

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