Jovem de Anápolis que escondeu gravidez e queimou corpo do bebê está a um passo do júri popular

Defesa tentou desclassificar crime e protelar processo, mas STJ não reverteu o destino e ela terá de ser julgada por homicídio qualificado e ocultação de cadáver.

Samuel Leão Samuel Leão -
Jovem de Anápolis que escondeu gravidez e queimou corpo do bebê está a um passo do júri popular
Isabella Freira, em foto retirada ao dar entrada no sistema prisional. (Foto: Portal 6)

O definitivo acerto de contas de Isabella Freire com a lei dos homens está próximo. Uma recente e unânime decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou o último recurso que a banca de quatro advogados da jovem, hoje com 28 anos, impetrou para continuar postergando o júri popular.

Rápidas acompanha há mais de um ano a tramitação na terceira instância. Após analisar meticulosamente o caso, a Corte foi categórica: há provas robustas da materialidade e indícios suficientes de autoria para ela ser julgada por homicídio qualificado e ocultação de cadáver.

O STJ também respaldou as qualificadoras destacadas na denúncia feita pelo Ministério Público de Goiás (MPGO): Isabella causou a morte do bebê que deu a luz por motivo torpe, foi cruel ao jogá-lo num lote baldio e em seguida atear fogo.

A ausência de remorso e arrependimento também ficou evidente pelo fato de ela ter saído depois para passear em um famoso shopping da capital com direito a almoço caro e regalo ostentador.

Entre promotores a expectativa é que ela enfrente os jurados, no Fórum de Anápolis, ainda neste ano.

Se for considerada culpada por todas as acusações, Isabella poderá receber uma sentença de mais de 30 anos de prisão.

Caso Isabella Freire chocou o Brasil e repercutiu internacionalmente

Poucos crimes conseguiram gerar tamanha comoção. O que deveria ser mais um registro policial se transformou em fenômeno que ultrapassou fronteiras. Jornais internacionais classificaram o episódio como um dos mais bárbaros contra crianças já registrados no país.

A repercussão foi imediata. Veículos da Europa, Estados Unidos e América Latina dedicaram espaço significativo ao caso. Nas redes sociais, Isabella Freire virou trending topic por semanas. O nome se tornou símbolo de debates sobre violência infantil e os limites da crueldade humana.

Detalhes inacreditáveis de um crime para lá de macabro

Conforme revelado à época pela Polícia Civil, uma testemunha encontrou o corpo carbonizado no lote baldio, no Residencial Cerejeiras, na região Leste de Anápolis.

A pulseira hospitalar que resistiu às chamas tinha o nome de Isabella como mãe e a Santa Casa como local de nascimento. Foi a primeira chave para desvendar o horror.

O delegado Wllisses Valentin, à época no Grupo de Investigação de Homicídios (GIH), coordenou os trabalhos com uma celeridade cautelosa e exemplar.  Os agentes Wagner Vander e Maurício Peixoto Faria Júnior vasculharam câmeras e cruzaram dados hospitalares.

A dupla acabou por descobrir que Isabella saiu do hospital com o bebê vivo e deixou o recém-nascido em uma caixa na dispensa. Dias depois, percebeu que estava morto e queimou o corpo.

O mais chocante: enquanto as cinzas ainda fumegavam, Isabella foi ao shopping, comprou iPhone e almoçou no Outback para “comemorar” o Dia das Mães.

Quando o caso subiu para o MPGO, o promotor Denis Bimbati construiu uma denúncia impecável, que destacou a sordidez da jovem durante um interrogatório,  quando ela confessou: “Pensei ‘eu matei meu filho'”. Mas negou a intenção.

Jovem foi solta dias antes do Natal e não voltou mais para cadeia

Em dezembro do mesmo ano Isabella ganhou liberdade provisória, via habeas corpus, às vésperas do Natal.

A ironia da data gerou revolta nacional e a soltura dela provocou protestos nas redes. Para quem acompanhava o caso, representou mais um capítulo frustrante.

Estratégia dos advogados protelou processo, mas fracassou no principal

A defesa montou estratégia sofisticada: evitar o júri a qualquer custo. Tentou desclassificar homicídio qualificado para infanticídio, alegando estado puerperal. Apresentou laudos unilaterais e questionou a pronúncia.

Cada decisão desfavorável gerava novo recurso. A tática funcionou parcialmente, protelando por anos e mantendo Isabella longe do banco dos réus.

Agora, o STJ colocou um ponto final na ciranda jurídica ao aplicar ao caso uma súmula vinculante que impede reexame de provas em recurso especial.

Nota Dez

Para o delegado Wllisses Valentin e equipe, pelas qualidades já mencionadas ao trabalhar no caso. O mesmo vale para o promotor Denis Bimbati, que atuou na fase da chamada pronúncia.

Nota Zero

Para o sistema judiciário brasileiro, que infelizmente permite que casos como esse se arrastem por anos e atrasem a punição.

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