EUA não devem isentar café do Brasil por ter outros fornecedores, diz integrante da Casa Branca

Entre os representantes do setor, ainda há dúvida se o café brasileiro pode se beneficiar nos próximos dias de uma exceção global

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Grãos de café. (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Grãos de café. (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

JULIA CHAIB, NATHALIA GARCIA E CATIA SEABRA – Os Estados Unidos não pretendem poupar o café importado do Brasil de sobretaxas porque julgam ter outras opções para fornecer o produto. A avaliação atual do governo Donald Trump foi passada à reportagem por um integrante da Casa Branca com acesso às negociações sobre o tarifaço.

No Brasil, antes do anúncio de Trump, havia a expectativa de que o café pudesse ser poupado com base na declaração do secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, de que esse e outros produtos não produzidos pelos EUA poderiam receber tarifa zero.

No decreto pelo republicano que definiu as tarifas contra o Brasil, contudo, o café não foi incluído na lista exceções que conta com quase 700 itens.

Entre os representantes do setor, porém, ainda há dúvida se o café brasileiro pode se beneficiar nos próximos dias de uma exceção global. Mas essa possibilidade passou a ser vista como menos provável após consulta feita a integrantes do governo brasileiro.

Segundo relato feito à reportagem, no entendimento das autoridades brasileiras, as tarifas refletem a combinação tanto do produto comercializado quanto do país de origem. Isso significa que, ainda que haja uma exceção global, o café brasileiro estaria sujeito à sobretaxa de 50% aplicada ao Brasil -o que representaria uma desvantagem competitiva frente a outros países.

Ou seja, para conseguir que o item seja poupado, isso dependeria da negociação país a país, o que deve levar os americanos a pressionar o Brasil por concessões, já que argumentam não precisar do produto brasileiro.

Por isso, segundo interlocutores de ambos os países, o governo brasileiro e o setor manterão a pressão em negociações em diferentes frentes para conseguir novas exceções. Empresários contrataram escritórios de lobby nos Estados Unidos focados em conseguir um alívio na taxação do café.

O Brasil é o maior fornecedor individual de café aos EUA, com importações que variam de 20% e 30%, a depender das safras. Responde ainda por 12% da oferta de açúcar de cana e por 9% da carne bovina.

No caso do café, algumas empresas americanas cogitam tentar fazer substituições para produtos do Vietnã ou do México, mas a equação não é simples. Os grãos desses países têm qualidade diferente da do Brasil, e os preços dessas nações também tendem a aumentar de acordo com a redução na oferta mundial.

A Colômbia, segundo maior fornecedor de café aos EUA, tem uma taxa de 10%, bem inferior à do Brasil. O problema apontado por integrantes do setor é que seria um desafio aumentar a produção local a ponto de suprir a falta do insumo brasileiro.

À reportagem Tom Madrick, um dos vice-presidentes da Associação das Marcas de Bens de Consumo (Consumer Brands Association), que representa empresas como Coca-Cola e Nestlé, afirmou que o governo brasileiro deveria seguir na busca de um alívio ao insumo.

“Incentivamos fortemente as autoridades brasileiras a buscarem um acordo com o governo Trump que garanta o mesmo reconhecimento para o café e outros insumos-chave, fundamentais para os Estados Unidos”, afirmou.

A associação comemorou a isenção que o país recebeu em produtos como polpa de eucalipto e outros tipos de polpa de madeira. Para eles, que trabalham com produtos embalados, os insumos são essenciais para fabricar papel higiênico, e outros itens de cuidados pessoais e domésticos.

A entidade atuou junto a autoridades americanas para convencê-las da importância de não taxar produtos considerados indisponíveis nos EUA. Eles também elencaram o café nessa categoria, mas o governo decidiu não isentar os grãos.

O preço do café nos EUA já aumentou neste ano. Segundo o Departamento de Estatísticas do Trabalho no país, no final de maio, o preço médio de meio quilo de café torrado moído nos era de US$ 7,93, ante US$ 5,99 no mesmo período de 2024.

Chefe de gabinete do Instituto para Pesquisa de Política Econômica de Stanford, o economista Ryan Cummings, diz que a alta representará uma elevação de centavos no produto ao consumidor que será sentida em três meses.

Segundo ele, em um trimestre, é possível que haja uma alta de 25 centavos de dólar no valor final, caso as tarifas vão adiante, pela dependência do café brasileiro.

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