Gilberto Gil diz que teve tempo para se familiarizar com a morte de Preta
Artista se apresentou em evento da H&M, rede de fast fashion sueca que começa a operar no país no próximo sábado

(FOLHAPRESS) – Nesta quarta, Gilberto Gil subiu ao palco pela segunda vez desde a morte de sua filha, Preta Gil, em julho.
“A morte dela, a falta dela é uma coisa pesarosa, e esse pesar se manifesta de várias formas, já foi muito mais intenso nos primeiros dias, provocador da lágrima, do choro.
Mas sempre falo que a gente teve um tempo longo para se familiarizar com a passagem da Preta. Isso tem um efeito calmante, de certa forma”, disse Gil à Folha de S.Paulo.
O artista se apresentou em evento da H&M, rede de fast fashion sueca que começa a operar no país no próximo sábado. Além de Gil, a marca convocou as brasileiras Anitta e Agnes Nunes e a sul-africana Tyla para uma série de pocket shows no Auditório do Ibirapuera a noite foi encerrada pelo DJ Maz.
O show foi um compromisso de exceção em meio à sua última turnê, “Tempo Rei”, que teve o apoio de Preta Gil para ter início. “Eu tinha um certo receio quando fui começar essa turnê, mas ela dizia: pai, vai em frente. Ela me animava, participou quando pode participar”, afirma ele.
A turnê volta a São Paulo em outubro, passa por Argentina e Chile, e acaba em março, em Belém. O artista diz que seguirá trabalhando após o fim da série de shows, mas deve manter a atenção para si.
“Vou ficar à disposição do meu próprio cuidado e bem-estar, enfim, da saúde e essas coisas todas de que temos de cuidar”, diz ele.
“E fico também à disposição da música, pois ela tem sempre sido minha fonte principal de sintonia: é através da música que me sintonizo com várias questões da mente, da espiritualidade, da ideia do imponderável. Vou ficar disponível para viver a vida. E a música, espero, vai continuar como parte importante disso.”
Para o artista, que chega aos palcos aos 83 anos, sua geração não tem apenas vivido mais como buscado viver melhor. “Acho que já houve gerações antes da minha que trabalharam a longevidade como ingrediente da sua obra, foram indo até onde foi possível ir, até onde havia fôlego e energia”, diz ele.
“Mas nas gerações mais novas, das quais pertenço, há mais cuidados com o corpo, mente, reflexão, capacidade de interpretação, leitura do mundo, enfim, os longevos vão mais longe.”
Neste ano, Gil tem entrado no estúdio para projetos de regravação: trabalhou com João Gomes em “Palco” e Samuel Rosa em “Vamos Fugir”.
“Antigamente, tinha mais volúpia com relação ao novo, mas hoje é algo menos onipresente, não fico submetido a uma busca permanente”, diz ele. “Tenho apetite, mas com mais moderação.”
Mesmo sem lançar novidades, Gil segue criando em casa. “A reflexão sobre a vida é um ingrediente básico da minha canção desde o início, tanto como compositor, como músico e artesão do campo literário”, afirma o artista.
“Sempre há essa sintonia, eu vou me sintonizando com minha própria expectativa e a expectativa dos outros, o que se espera que eu faça, uma continuidade, um disco. Isso tudo tem um peso.”
No show desta quarta, o cantor tocou “Funk-se quem puder” num interlúdio que marcou a entrada da cantora Anitta no palco. A faixa, do disco “Extra”, de 1983, não aparece com frequência nos últimos shows do artista. Nem a raridade fez efeito frente a um público fleumático e alheio desinteressados até com Tyla, a popstar internacional da noite.
Gil conseguiu arrancar algumas palmas da plateia em canções como “Andar com Fé” e “Palco”, ambas num andamento vagaroso, mas sustentado.
O artista lembra que seguir tocando, ao vivo ou em casa, é também manter a vontade de Preta Gil. “Acho que isso tudo está numa fase de decantação hoje. Isso decantando, e eu, cantando”, diz, entre risadas comedidas.