Caso Evandro: o crime brutal que chocou o Brasil e ainda intriga mais de 30 anos depois
Corpo da criança foi encontrado com sinais de violência, sem órgãos e com dedos cortados

Em 06 de abril de 1992, um crime brutal, marcado por extrema violência chocou o Brasil e trouxe à tona um nome que ficaria marcado até os dias atuais: Evandro Ramos Caetano.
Evandro, um menino alegre e estudioso, morava em Guaratuba, uma cidade litorânea do Paraná, e tinha apenas 06 anos. No dia do crime, ele saiu de casa vestido com o uniforme escolar e faria um trajeto de cerca de 150 metros entre sua residência e a escola. Ele, porém, jamais chegou à instituição.
Sete dias após o desaparecimento, em 11 de abril, o corpo de Evandro foi encontrado em um matagal no município, com sinais de violência, sem órgãos e com os dedos cortados.
Na época, o pai da criança, Ademir Caetano, reconheceu o corpo do filho por conta de uma pequena marca de nascença nas costas. No local também foram encontradas as chaves da casa do menino e o par de chinelos que ele usava no dia do desaparecimento.
Pouco tempo depois, sete pessoas, todas ligadas à influente família Abagge, foram acusadas. São elas: Airton Bardelli dos Santos, Francisco Sérgio Cristofolini, Vicente de Paula Ferreira, Osvaldo Marcineiro, Davi dos Santos Soares, Celina Abagge e Beatriz Abagge.
Segundo as investigações, a criança teria sido morta em um ritual religioso encomendado por Celina, ex-primeira-dama da cidade, e sua filha, Beatriz Abagge. Também teriam participado o pai de santo Osvaldo Marcineiro, seu colega Vicente de Paula Ferreira e o artesão Davi dos Santos Soares, de Guaratuba.
Celina e Beatriz ficaram presas por três anos e nove meses na Penitenciária Feminina do Paraná, além de mais dois anos em prisão domiciliar. Já as penas de Osvaldo e Davi foram extintas pelo cumprimento.
Vicente morreu em 2011, por complicações de um câncer, enquanto ainda estava preso. Francisco e Airton foram absolvidos.
O caso passou por cinco julgamentos diferentes. Um deles, inclusive, foi considerado o mais longo da história do Judiciário brasileiro, durando 34 dias, em 1998.
Torturas e contradições
Inicialmente, Celina e Beatriz confessaram o crime, mas depois alegaram que haviam sido torturadas pela polícia para admitirem a participação no ritual.
Edésio da Silva, principal testemunha do caso, afirmou ter visto Evandro dentro de um carro com os acusados no dia do crime, mas acabou se contradizendo em depoimentos posteriores.
Outro ponto que gerou suspeitas foi o suicídio do perito Dr. Raul de Moura Rezende, responsável pelo exame que não apontou tortura nas acusadas — ele tirou a própria vida no dia em que prestaria depoimento.
Além disso, as fitas das confissões também apresentaram trechos editados.
Beatriz e Celina chegaram a ser inocentadas, uma vez que não havia comprovação de que o corpo encontrado era de Evandro. Segundo as investigações, o corpo teria tamanho superior ao do menino desaparecido.
Contudo, o Ministério Público conseguiu a anulação do júri, alegando que os jurados não poderiam descartar um exame de DNA que apontava que o corpo era, de fato, de Evandro.
Decisão
Osvaldo, Davi e Vicente de Paula foram condenados por homicídio e voltaram à prisão em 2004. Já Airton e Francisco, que sempre negaram participação, foram absolvidos em 2005.
Em 2011, após um novo júri, Beatriz Abagge foi condenada a 21 anos de prisão. Sua mãe, Celina, não foi julgada porque já tinha mais de 70 anos e o crime havia prescrito.
Como Celina já havia cumprido quase seis anos de prisão, ela pôde recorrer em liberdade. Em 2016, após o Supremo Tribunal Federal (STF) determinar que condenados em segunda instância poderiam ser presos, ela pediu e obteve um indulto.
Por muitos anos, o Caso Evandro ficou esquecido. Até que, em 2018, o jornalista Ivan Mizanzuk lançou o podcast “Projeto Humanos – O Caso Evandro”, com mais de 30 horas de gravações, entrevistas e documentos inéditos.
O programa revelou falhas graves nas investigações, erros processuais e gravações inéditas que jamais haviam vindo a público.
Veja o vídeo:
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