Aos 100 anos, agricultora vira exemplo de superação ao entrar na escola e vencer o analfabetismo
Centenária do Agreste pernambucano reencontra a sala de aula após uma vida dedicada ao trabalho rural e inspira estudantes de todas as idades

A história de Maria Joaquina, moradora da zona rural de São Caetano, no Agreste de Pernambuco, ganhou destaque regional não só pelo aniversário de 100 anos, mas pela conquista que decidiu perseguir ao chegar à velhice: aprender a ler e escrever.
Depois de décadas trabalhando na roça e cuidando dos 11 filhos, ela finalmente realizou um sonho adiado pela vida inteira.
Aos quase 97 anos, Maria se matriculou na Educação de Jovens e Adultos (EJA) do município. Ali encontrou uma nova rotina, dividindo a sala com pessoas muito mais jovens e descobrindo um universo que sempre esteve distante da sua realidade.
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Três anos depois, já celebrando o centenário, avançava para o 3º ano do Ensino Fundamental — prova de que idade não limita quem decide recomeçar.
Uma infância de trabalho, não de escola
O caminho que levou Maria Joaquina até a alfabetização tem raízes em uma infância marcada pela necessidade. Em entrevistas a emissoras locais, ela relembrou que começou a trabalhar por volta dos 13 anos para garantir comida na mesa.
Sem escola por perto e sem condições de estudar, passava os dias em tarefas pesadas: arrancando feijão, limpando roçados, carregando madeira e cavando a terra sob o sol quente do Agreste.
O pouco dinheiro recebido servia para comprar alimentos básicos como farinha, beiju e macaxeira. Com o passar dos anos e a chegada dos filhos, a prioridade passou a ser a alimentação deles — muitas vezes, ela própria ficava sem comer o suficiente.
A vida adulta seguiu o mesmo ritmo duro. Depois de enfrentar uma separação, assumiu sozinha a responsabilidade de sustentar a casa e criar uma família numerosa. Para isso, trabalhou na roça até os 84 anos, período no qual nunca teve a oportunidade de sentar em uma carteira escolar. Documentos eram assinados com o dedo, e as tarefas que dependiam de leitura exigiam ajuda de terceiros.
Um novo começo aos 97 anos
Quando se aposentou e passou a viver um cotidiano mais tranquilo na Vila Santa Luzia, estudar deixou de ser apenas um desejo distante. Incentivada pela família e pela oferta de vagas na EJA, finalmente se matriculou. A decisão transformou sua rotina. Mesmo centenária, passou a frequentar as aulas com regularidade e entusiasmo.
Maria começou escrevendo o próprio nome, formando pequenas palavras e resolvendo contas simples. Para ela, cada conquista representava uma vitória contra décadas de limitação. Para os professores, era um retrato vivo da força de vontade.
A professora Janiquelly Melo, responsável pela turma e entrevistada por emissoras regionais, relatou que a aluna era um símbolo dentro da escola. Sua persistência motivava quem pensava em desistir.
Se uma mulher de 100 anos conseguia aprender o alfabeto, ninguém tinha desculpa para abandonar os estudos.
Uma inspiração para toda a comunidade
A presença de Maria Joaquina em sala de aula mudou também a maneira como os colegas enxergavam o processo de aprendizagem. Jovens e adultos passaram a percebê-la como prova de que estudar não tem idade limite.
O impacto foi tão grande que, no dia em que completou 100 anos, toda a comunidade escolar se mobilizou: pátio decorado, parabéns coletivo e homenagens registradas em vídeos que circularam em TV e rádio.
A própria Maria descreveu as aulas como um momento especial — algo que aguardava com alegria, e não como uma obrigação. Mesmo enfrentando dificuldades naturais da alfabetização tardia, repetia que era preciso ter paciência e fé para continuar aprendendo.
Para ela, voltar a estudar era uma forma de honrar a vida e agradecer pelas oportunidades que surgiram tarde, mas surgiram.
Hoje, sua trajetória segue inspirando moradores da região e reforçando uma mensagem poderosa: nunca é tarde para realizar um sonho, por mais antigo que ele seja.
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