China afirma que patrulha com bombardeiros russos mira desafios de segurança regionais
Exercício militar, que envolveu onze aeronaves russas e chinesas, ocorreu próximo às ilhas de Okinawa e Miyako, no sul do Japão

VICTORIA DAMASCENO – PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – O Ministério da Defesa da China afirmou que o exercício com bombardeiros russos e chineses ocorrido na última terça-feira (9) demonstra a determinação dos países em enfrentar “desafios de segurança regionais”.
O exercício militar, que envolveu onze aeronaves russas e chinesas, ocorreu próximo às ilhas de Okinawa e Miyako, no sul do Japão, e também sobre o mar do Japão, em um momento em que Tóquio vive uma das piores crises diplomáticas com Pequim nos últimos anos.
“Esta patrulha aérea estratégica conjunta faz parte do plano anual de cooperação e demonstra a determinação e a capacidade de ambos os lados em enfrentar conjuntamente os desafios de segurança regional e manter a paz e a estabilidade na região”, declarou o porta-voz do Ministério da Defesa, Zhang Xiaogang, em entrevista coletiva nesta quarta-feira (10).
Segundo o Ministério da Defesa do Japão, caças japoneses acompanharam a patrulha, que realizou um voo de longa distância.
Os bombardeiros russos Tu-95, com capacidade nuclear, encontraram-se no mar do Japão e seguiram em direção ao mar da China Oriental, onde se juntaram a dois bombardeiros chineses H-6, capazes de transportar mísseis de longo alcance, dando início à patrulha em direção ao Pacífico. Quatro caças chineses J-16 se juntaram a eles.
A pasta japonesa diz ainda que identificou, no mar do Japão, uma aeronave russa de alerta e controle antecipado A-50, capaz de rastrear e detectar alvos a longas distâncias, e dois caças Su-30.
Em uma publicação no X, o ministro da Defesa do Japão, Shinjiro Koizumi, escreveu que o exercício militar tem o objetivo claro de demonstração de força.
“Os repetidos voos conjuntos de bombardeiros dos dois países significam uma expansão e intensificação de suas atividades em torno do Japão e são uma clara indicação de demonstração contra o nosso país, o que representa uma séria preocupação para a nossa segurança nacional”, afirmou.
O Ministério da Defesa da Coreia do Sul também afirmou ter mobilizado caças para responder à entrada e saída de aeronaves chinesas e russas na Zona de Identificação de Defesa Aérea do país (Adiz, na sigla em inglês).
A crise na região se intensificou no início de novembro, quando a primeira-ministra do Japão, Sanae Takaichi, ao responder a um parlamentar da oposição sobre em que situações acionaria as chamadas Forças de Autodefesa do país, citou como exemplo um possível bloqueio naval chinês envolvendo o uso de navios de guerra na região de Taiwan. Na avaliação da governante, um cenário desse tipo poderia exigir que Tóquio se envolvesse para defender os Estados Unidos, seu principal aliado de segurança.
Nas últimas semanas, a China tem realizado uma série de exercícios militares que também são lidos pelas autoridades japonesas como demonstração de força. Nesta semana, Tóquio acusou Pequim de apontar radares de direção de tiro para rastrear aeronaves militares japonesas perto de Okinawa, um gesto classificado como hostil na política internacional. Iluminar um alvo com um radar é entendido como o passo anterior a um eventual ataque.
Segundo a agência Reuters, citando fontes anônimas e relatórios de inteligência, Pequim também mobilizou um número inédito de navios militares e da guarda costeira em águas do leste da Ásia, chegando a ultrapassar a marca de 100 embarcações em determinado momento.
Desde o início da crise, a China já emitiu uma série de protestos formais ao vizinho exigindo uma retratação da governante japonesa, que não recuou.
As ações chinesas começam também a afetar a economia japonesa, uma vez que Pequim suspendeu a importação de frutos do mar japoneses e desencorajou seus cidadãos a viajar ao país vizinho. As orientações já se refletem em cancelamentos de passagens e na redução de rotas aéreas entre Japão e China.
Em 2024, cidadãos da China continental representaram 18,9% dos turistas do país, de acordo com dados da Organização Nacional de Turismo do Japão (JNTO, na sigla em inglês).




