Com dívidas renegociadas, Saúde tem condições de dar saltos de eficiência

Em entrevista ao Portal 6, a secretária Luzia Cordeiro fala das dificuldades dos primeiros meses, das ações de curto prazo e do planejamento para implementar regulação única, prontuário por reconhecimento de voz e esforços para que a cidade receba leitos de UTI

Danilo Boaventura Danilo Boaventura -
Com dívidas renegociadas, Saúde tem condições de dar saltos de eficiência

Na manhã da última sexta-feira (29) a Câmara Municipal de Anápolis votou, em sessão extraordinária, a renegociação de dívidas da Prefeitura contraídas em administrações anteriores. Como previsto, o texto foi aprovado sem dificuldades e deve dar à Gestão Roberto Naves (PTB) o impulso necessário para normalizar a relação com fornecedores.

Em entrevista concedida ao Portal 6 há três semanas, essa era a principal expectativa da secretária Municipal de Saúde Luzia Cordeiro. A pasta diariamente é bombardeada pela imprensa televisiva e por vereadores, da oposição à situação, e sempre pelos mesmos motivos: falta de de insumos e medicamentos.

Luzia, porém, encara tudo com serenidade e resiliência. “É baixinha, mas tem planos e projetos grandes para revolucionar a gestão da saúde no município”, reservou um auxiliar direto de Roberto – o prefeito que depositou nela a confiança de cuidar do maior orçamento da Prefeitura, estimado em quase R$ 290 milhões em 2017.

“Acho que por isso muitos tem uma certa inveja, sei lá. Luzia tem um currículo incrível, foi um dos braços fortes da SUDECO e gerente do INSS no estado. Ela mexe com gestão pública e saúde não é de hoje”, emenda.

O restabelecimento da confiança dos fornecedores fará com que problemas cotidianos da Secretaria Municipal de Saúde (Semusa) sejam enormemente equacionados. Há quase cinco anos dezenas deles não recebiam corretamente os valores pelos insumos e produtos que entregavam à administração.

A evolução da dívida, somente na Semusa, mostra como a escalada de irresponsabilidade fiscal das gestões petistas, sobretudo a de João Gomes (hoje desfiliado do partido), trouxeram danos à prestação de serviços triviais da administração municipal.

Em 2012, as dívidas em aberto com fornecedores da saúde foram de R$ 191.781,50; em 2013 mais R$ 394.904,61; já em 2014, ano em que Antônio Gomide deixou o cargo para concorrer ao Governo de Goiás, ficaram R$ 1.240.105,25 . Nos anos seguintes, não foram pagos R$ R$ 1.742.273,04, em 2015, e inacreditáveis R$ 9.781.592,00 em 2016.

Chamados no jargão das contas públicas de “resto a pagar”, esses valores desse período são apenas de dívidas reconhecidas e com notas fiscais prontas. Justamente por isso, não é raro ver fornecedor subindo o elevador do prédio da Papelaria Tributária, onde fica a Semusa, para reivindicar valores ainda não processados.

“Recebemos a Secretaria com R$ 20 milhões de dívidas, sendo 12 milhões [Luzia fala por cima] processadas e oito milhões não processadas, mas que são dívidas. E com essas dívidas os nossos credores, que até ganharam licitação agora esse ano, e dou toda razão a eles, começaram sem receber 2012, 2013, 2014,2015 e 2016”, relata Luzia Cordeiro.

Toda essa situação criou, desde janeiro, uma espécie de resistência por parte dos fornecedores para entregar novos insumos à Semusa.

“Nós pedimos. Solicitamos. Pedimos cinco mil e eles entregam 100. Então, qual foi o nosso grande problema inicial na gestão? Falta de credibilidade, que nos levou a um desabastecimento de insumos e medicamentos que temos de abastecer, tanto na atenção primária, quanto na especializada, urgência e emergência”, conta a secretária.

Já houveram ocasiões, como reservaram alguns auxiliares de Luzia à reportagem, em que ela acabou tirando do próprio bolso para poder comprar itens, de pacotes de gazes a seringas. Outra situação já feita pela secretária foi pedir a uma cidade vizinha os remédios que estavam sobrando, mas que em Anápolis permaneciam em falta.

A complicada situação passada pela Semusa sensibilizarou a indústria farmacêutica Melcon, que doou milhares de medicamentos ao município para atender a demanda de pacientes que só aumenta, sobretudo na emergência.

“Para se ter uma ideia, no primeiro quadrimestre desse ano a UPA, comparado a  2016, atendeu 141% a mais. Estamos passando por um momento econômico sério, onde as pessoas estão perdendo seus empregos e perdendo os planos e vão para os SUS”, avalia.

Na conversa que teve com nossa reportagem, e que o Portal 6 reproduz na íntegra a seguir, Luzia fala não somente sobre os problemas e medidas diárias que toma na Semusa, mas também de planejamento e modernização da pasta, que mesmo em 2017 ainda não tem sequer prontuário eletrônico ou um sistema teleconsultas a serviço da população.

Toda essa precariedade é vista como desafio para a equipe que Luzia montou para ajudá-la. A maior parte dela fica no 4º andar do prédio da Tributária. Apesar de ninguém parar um minuto, o ambiente é calmo e o clima entre os servidores, sobretudo com a secretária, é bastante amistoso.

“Aqui cada um sabe tudo sobre a Secretaria. Ninguém é alheio a nada, sobretudo na área específica em que trabalha. Todos são muito, mas muito competentes. Pode conversar com cada um deles para você ver”, disse Luzia orgulhosa, ressaltando principalmente os auxiliares que são servidores de carreira, a maior parte jovens, mas já experimentados em várias outras áreas da administração municipal.

Portal 6 – O que foi possível fazer a curto prazo na Secretaria Municipal de Saúde e quais os planos que a senhora pretende realizar a médio e longo prazo?

Luzia Cordeiro – O primeiro ano de uma administração municipal executa o que a administração anterior planejou em termos de ações, de orçamento e financeiro. Nós recebemos a secretária com alguns equipamentos estruturais prontos, mas com falta de credibilidade. Com 20 milhões de dívidas, sendo 12 milhões [Luzia fala por cima] processadas e oito milhões não processadas, mas que são dívidas. E com essas dívidas os nossos credores, que até ganharam licitação agora esse ano, e dou toda razão a eles, começaram sem receber 2012, 2013,2014,2015 e 2016 para que a gente venha entregar os insumos e medicamentos solicitados. Nós pedimos. Solicitamos. Pedimos cinco mil e eles entregam 100. Então, qual foi o nosso grande problema inicial na gestão? Falta de credibilidade, que nos levou a um desabastecimento de insumos e medicamentos que temos de abastecer, tanto na atenção primária, quanto na especializada, urgência e emergência. Mas essa administração tem credibilidade, tanto o nosso prefeito e, graças a Deus, eu também tenho credibilidade na cidade. Conseguimos muitos parceiros que nos ajudaram, concedendo medicamentos e insumos. Tivemos um laboratório, a Melcon, que nos deu medicamentos e vai continuar nos fornecendo. Tivemos assim, muitas dificuldades devido a isso, falta de credibilidade e o desabastecimento.

A curto prazo, a curtíssimo prazo, nós tivemos que abastecer as nossas unidades. Tivemos que fortalecer a nossa área de especialização, urgência e emergência que não tem como não trabalhar nessas três esperas. Com isso o que nós fizemos uma parceria com a Unievangélica, onde nós temos treze [médicos] residentes, que são médicos que estão fazendo residência em saúde da família. Isso nos trás um capital técnico enorme porque eles estão se preparando para ter uma residência nessa área. Nós temos preceptores, orientadores diretos. Numa análise que nós fizemos, onde eles estão, o atendimento melhorou consideravelmente. A médio prazo queremos ampliar para 24 residentes. Ainda na atenção primária, nós estamos também tentando aproximar a atenção primária da especializada. A especializada, é onde nós temos os exames, os médicos especialistas. Nós estamos dobrando hoje com uma parceria de 450 consultas pra 900 consultas por mês com especialistas. Estamos estudando, aliás, já está começando a funcionar um fluxo onde a atenção primária será reforçada com uma consultoria, que nós vamos chamar de “interconsulta”. Se o médico da atenção primária tem dúvida num caso especialista (o que na atenção primária atende criança, adolescente, adulto, hipertenso, diabético) e se ele tem uma dúvida em relação a especialista, nós teremos essa consultoria chamada “interconsulta” para tirar a dúvida dele. Até mesmo na hora de solicitar os exames.

Dívidas deixadas pelas administrações passadas trouxeram ‘falta de credibilidade e o desabastecimento’ à Semusa, conta Luzia. (Foto: Bruno Rodrigues)

Portal 6 – A longo prazo o que dá para fazer na saúde do município?

Luzia Cordeiro – A equipe aqui é muito técnica. Com duas palavras mágica na medicina: diagnóstico e prognóstico. Nesses oito meses nós estudamos a saúde em Anápolis e sabemos onde estão os nossos maiores gargalos. Nós temos uma rede de estrutura física a serem reformadas, tanto no ponto de vista da construção, quanto de mobiliários e equipamentos instrumentais. Isso temos que trocar. Nós estamos com um processo licitatório de terceirização da lavanderia [dos hospitais] e da alimentação para que realmente foquemos no atendimento.

Temos que reestruturar toda essa rede para que a gente possa dar melhor condições aos nossos profissionais. Além disso, queremos levar alguns serviços, aliás, já estamos levando alguns serviços para atenção primária, como cirurgia de pequeno porte, como tirar uma verruga, fazer um curativo. Nós estamos querendo inverter. Hoje temos que estar com 80% do atendimento da atenção primária acoplada, protegida, reforçada pela especializada e 20% na urgência e emergência. Nosso trabalho hoje tem que ser preventivo. No caso dos diabéticos, hoje temos um protocolo que foi discutido amplamente com a comunidade e os conselhos que representam formalmente a comunidade. Agora, sabemos e temos até data para estar dispensando as fitas e insulinas. Ainda temos um pequeno gargalo de abastecimento, mas queremos regularizar essa situação.

Queremos para já ampliar em 70% a cobertura da atenção primária. Em 2018 em 80%, em 2019 para 90%. Se nós chegarmos em 90% de cobertura de atenção primária estaremos assistindo realmente a nossa população.

Portal 6 – E aí a saúde chegaria num patamar que nunca conseguiu na cidade?

Luzia Cordeiro Hoje nós estamos com 57%. Embora estejamos com algumas equipes incompletas, não de médicos, mas faltam enfermeiros e técnicos de enfermagem. Estamos procurando uma forma de contratá-los porque a administração ficou num limite prudencial e estamos trabalhando para diminuir esse déficit. [Na última quinta-feira (28) foi publicado o edital de credenciamento para contratar profissionais para equipes do NASF e PSF].

Portal 6 – Vemos principalmente em redes sociais, mas também na TV e emissoras de rádio pessoas que reclamam de atendimentos pontuais. 

Luzia Cordeiro É interessante você estar colocando isso porque como nós vamos resolver esse gargalo? É isso que estamos fazendo agora, é com informação. Saúde se faz com conhecimento e informação. Nós estamos com o Projeto Inovação e estamos trabalhando com várias formas de comunicação para informar melhor os nossos usuários, nossos pacientes. Porque eles ainda têm dúvidas. Onde eu devo procurar fazer o pré-natal, por exemplo, no caso da gestante? É a Clínica da Família. Nós passamos a chamar Clínica da Família as nossas estratégicas da família (ESF’s), nossas unidades básicas de família (UBS’s) porque é clínica da família mesmo, toda a família deverá ser atendida lá. Então temos que informar quando é um caso, porque tudo deve sair da atenção básica. Nós temos que informar quando é caso de atenção primária, quando é caso especializado e quando é urgência e emergência. Então temos que informar, conto com todos vocês da imprensa, porque estamos com isso pronto e vamos em breve, esse ano ainda, estar implantando o “Protocolo Manchester” que é o seguinte: cada unidade tem uma responsabilidade no atendimento. Às vezes, a falta de informação leva o usuário a chegar na nossa unidade básica e diz que não quer ficar ali e que quer ir para o UPA, sendo que ali é urgência e emergência, ou, “quero ir direto para o especialista”. O médico da atenção primária tem condições totais e técnicas para atender o paciente na integralidade. Se ele considerar que precisa de um hemograma ou outros exames complementares para fechar diagnóstico, isso será feito e o paciente só será encaminhado para o especialista se necessário. O que acontece, é que manda para o especialista e este tem que atender e fazer a outra referência, mandar o paciente de volta para o local básico dele de atendimento.

O que nós estamos fazendo em relação as consultas? Tivemos um problema sério de credenciamento, pois o anterior ia até 2019. Ocorreu que em novembro do ano passado acabaram-se os saldos (saldos de imagem, saldos de consultas oftalmológicas) e tivemos no inicio desse ano, pois um credenciamento que tem prazos legais para serem cumpridos,  que fazer novo credenciamento e estamos agora recebendo toda a documentação dos nossos futuros contratualizados firmando novos convênios, novos contratos, que é o caso da HUA, oftalmologia, com imagens, laboratórios, hospitais. Então, isso vai ampliar a nossa rede de atendimento, exceto a área vascular que é importante falar que o estado não tem. No momento, não temos nenhum leito de UTI e nem um serviço disponível nessa área. Não temos no nosso município uma assistência vascular, mas as cirurgias gerais de otorrino, ortopedia e pediátrica estão em dia. Prova tanto, que nesse período fizemos 4.463 cirurgias, tiramos mais ou menos 1.500 que estavam represadas do ano passado. E estamos continuando, sem realizar mutirão, e sim trabalhando com as cirurgias represadas e com as demandas atuais. E uma questão também que tem que ficar clara, que a saúde de Anápolis vai além da cidade. Nós temos um município que atende a região de Pirineus que são mais nove municípios, que são os referenciados, estando direto no atendimento quase total e temos área de abrangência nas áreas de oncologia, cardiologia, neurologia e traumatologia que aí vem paciente de mais de 60 municípios do Norte e Centro goiano. Tivemos uma reunião com a região Pirineus para avaliarmos as nossas compactuações. Falamos com os secretários, pois temos que atendê-los, porque estão referenciados os atendimentos para Anápolis. Temos que atendê-los dentro dos valores que estão destinados àquele município. Vamos imaginar: se o município “x” estoura o seu valor financeiro, o município terá que pagar para Anápolis.

Portal 6 –  O que o SUS manda é basicamente para os 375 mil anapolinos, mas aí acaba que atende mais de 500 mil?

Luzia Cordeiro – Não. Dependendo da alta complexidade e da especializada, que é o referenciado e área de abrangência, o SUS manda para atender os anapolinos, a região de Pirineus e alguns casos do Norte e Centro goiano. Cada um tem uma porcentagem financeira que vem transferido para o Fundo da Secretária Municipal de Saúde de Anápolis. Só que essa regulação que estamos trabalhando muito nesse sentido, ela não é  feita da maneira correta.

Vamos supor que um município de Estrela do Norte, que tem regulado para cá uma cirurgia de oncologia, nós vamos atende-lo, é um direito dele. Nós somos município polo. Só que hoje Anápolis está investindo, porque por lei o tesouro teria que investir 15% dos recursos e estamos chegando a 22% do tesouro. Estamos com déficit do SUS de praticamente 20% que teríamos que receber a mais. Temos que provar para eles, mas para isso nós temos que fazer com que os nossos municípios circunvizinhos e compactuados regulem, pois Anápolis não pode arcar financeiramente com os municípios vizinhos.  Sempre digo “vamos dar a César o que é de César, de Anápolis o que é de Anápolis”. E queremos assim, ampliar e melhorar o atendimento porque isso vem fortalecer a nossa rede de saúde. Estamos na área da alta complexidade e já estivemos em Goiânia com o secretário que nos acompanhou, e o Ministério Público também, para ampliarmos os nossos leitos de UTI, além de estar contemplando o leito vascular. Tivemos uma noticia por parte do secretário estadual que haverá ampliação os leitos do HUAna.

Portal 6 – Ele deu um prazo, se será daqui mais ou menos cinco meses, ou tem o dinheiro para fazer?

Luzia Cordeiro – A construção está sendo feita e nós esperamos que seja o mais rápido possível porque a saúde não espera, ela é imprevisível, perecível e nós estamos realmente com muita dificuldade com a falta de UTI. Mas quero dizer que ontem escutei de um prestador que Anápolis está trabalhando dentro da regra. Há algumas exceções, ainda está para melhorar, mas ainda está melhor que muitos municípios porque nós não paramos o atendimento. Para se ter uma ideia, no primeiro quadrimestre desse ano a UPA, comparado a  2016, atendeu 141% a mais. Estamos passando por um momento econômico sério, onde as pessoas estão perdendo seus empregos e perdendo os planos e vão para os SUS. E nós queremos receber. O nosso papel é melhorar toda a rede para atender melhor o nosso usuário.

Portal 6 – Foram atendidos 141% a mais, o SUS vai atualizar os valores de repasse? Porque embora a UPA seja diretamente controlada pelo Governo Federal…

Luzia Cordeiro – Nós temos um valor “x” mensal e para a UPA ficará esse valor x mensal. O que nós podemos estar trabalhando é com alguns indicadores e é isso que estamos fazendo. Se você for à nossa Sala de Situação [verá] que estamos com seis planejadores trabalhando para melhorar nossos indicadores e fazendo nosso plano 2018. Daqui da secretaria eu posso monitorar a sala de recepção do Hospital Municipal. Vejo o que está ocorrendo e quantas pessoas estão esperando atendimento. Então, já podemos monitorar. Mas isso é apenas um pequeno avanço e temos que avançar muito mais em tecnologia. Nós temos que ter nossos prontuários eletrônicos por reconhecimento de voz. E temos pressa para isso. O médico fala e a tecnologia escreve. Nós estamos com o processo já, a licitação é centralizada, há a solicitação de um sistema inteligente de gestão de saúde. Assim poderemos regular melhor os nossos serviços. Vamos chegar num ponto que tudo o que levar para um laboratório “x” será regulado por nós. Quando chegarmos no final do mês vamos pegar o nosso relatório e bater com o deles. E temos também, que é importante estar ressaltando, uma equipe de auditoria bem capacitada e atuante. Já conseguimos, com encontros e análises, economizar quase R$ 50 mil, o que para a saúde é muita coisa. Então, o que nós precisamos para este ano é ter um sistema inteligente e tecnológico onde a gente tem um controle, porque a saúde é imprevisível e temos que ter o controle dessa imprevisibilidade. A questão do sistema de informática, reforço da atenção primária básica, ampliação dos atendimentos com especialistas, ampliação das ofertas de exames de imagem e laboratório, ampliar nossas vagas de UTI, melhorar nosso atendimento e condições físicas do Hospital de Urgências, pois as técnicas são maravilhosas. Nós reativamos também a nossa ouvidoria e queremos divulgá-la para que a população critique, fale, elogie e faça sugestões. A saúde é ascendente, e pela primeira vez aqui na história da secretaria, nós temos um organograma que atende. Temos a atenção primária, temos uma diretoria de tecnologia e inovação, temos uma diretoria de urgência e emergência, diretoria da especializada e uma administrativa-financeira, coordenação da vigilância sanitária, coordenação odontológica e, pela primeira vez temos dentro do nosso organograma, o Conselho Municipal de Saúde.  Nós planejamos tudo o que fazemos e discutimos com o conselho. Após discutido com o conselho, praticamente quase todos os nossos planejamentos vão para uma comissão de intergestores regionais, que são os dez secretários da região dos Pirineus, que são: Pirenópolis, Abadiânia, Alexânia, Campo Limpo, Corumbá, Teresópolis, Goianápolis e Anápolis e nós discutimos tudo. E vai para outra instância que são os secretários estaduais, até chegar ao Ministério da Saúde. Tudo isso é muito bem discutido. Tivemos que resolver no primeiro trimestre a questão do Hospital Psiquiátrico, que estava vindo desde 2015  e agora já está resolvido.

Portal 6 – Temos dois CAIS aqui na cidade. Dá para transformar pelo menos o CAIS Progresso em UPA? A cidade teria menos peso dentro do orçamento para uma UPA na região Noroeste?

Luzia Cordeiro – Não só dá, como será. O CAIS do Jardim Progresso será transformado em UPA. A nossa equipe de engenharia está fechando o projeto. É uma exigência do Ministério da Saúde realizar adaptações para transformar em UPA. Cumprir toda a legislação, metros quadrados e salas para atendimento. Será uma UPA de  menor porte, mas o projeto já está praticamente pronto. Devemos avaliá-lo no Conselho Municipal de Saúde. Estamos tendo uma experiência que chama ‘Pensando a Saúde em Anápolis’. A gente se reúne com esse grupo, que nos traz excelentes contribuições, e vamos discutir com eles, mas está praticamente fechado o projeto de uma UPA no CAIS do Jardim Progresso. E o CAIS Abadia Lopes nós vamos reforçar e ir melhorando a unidade. Já ampliamos oito leitos esse ano. Lá tinha uma área externa e fizemos uma adaptação para a criação dos oito leitos. No momento, esse CAIS não tem condições de virar uma UPA, mas podemos pensar e ver o que nossa equipe de planejamento consegue.

Portal 6 – Anápolis não tem um sistema de teleconsultas. No mundo dos aplicativos é tão fácil ter informação sobre o estoque de remédios, de mostrar onde há um especialista etc. Quando a cidade passará a explorar mais essas facilidades para o usuário?

Luzia Cordeiro – Nós fizemos paliativo. Tem um programa chamado Hórus, que nós estamos utilizando para regular nossas regulações. É um programa criado internamente por um funcionário aqui, para termos pelo menos um pouco de controle. Nós só vamos resolver a gestão da saúde, seja na área da alta complexidade, da regulação, do controle de medicamentos, da teleconsulta, do prontuário eletrônico. Porque é inconcebível o paciente ter uma ficha no Ilion Fleury e outra lá na Vila União. São vários papéis e nós temos que ter um prontuário único. Se eu for me consultar na Vila União ou ter um problema de urgência e emergência e for a UPA, tem que ter todo o meu histórico. E isso é possível sim. Nós já estamos com todo o termo de referência, com toda justificativa do que nós precisamos para modernizar a Secretaria Municipal de Saúde e para dar um alcance, um acesso melhor para a população ao sistema de saúde. Como você colocou, há vários aplicativos para que ela possa estar solicitando a consulta dela, mesmo ali no bairro, nem que sejam 200 metros, para que ela não precise se deslocar. Para esse ano vamos licitar a compra de equipamentos, acredito que em dezembro, para migrar todos os dados. Hoje, a conectividade é um problema sério no município, não é só na Secretária Municipal de Saúde. Mas a administração já está trabalhando nesse caso, pois temos que ter segurança para colocação de computadores, dar segurança patrimonial, mas também aos nossos colegas servidores.

Portal 6 – A senhora faz parte da cota pessoal do prefeito Roberto Naves na composição do secretariado. A Semusa é uma secretaria que todos os dias está na imprensa e nem sempre com notícias boas. Quando foi convidada para assumir a pasta, já imaginava toda essa situação? Aceitou o convite de pronto ou precisou se preparar emocional e psicologicamente para essa tarefa complexa que é comandar a gestão da Saúde?

Luzia Cordeiro – Faço parte do projeto do prefeito Roberto Naves, da candidatura do Roberto Naves a prefeito. Então, já estáva acreditando nesse gestor e participamos ativamente da campanha. Agora, estar na secretaria, a minha vida foi feita de desafios profissionais. Eu entrei no serviço público em 1980, na SUDECO (Superintendência do Desenvolvimento do Centro Oeste). Foi um trabalho muito abrangente, onde eu trabalhei na parte de desenvolvimento social que entrava saúde, educação e serviço social. Ali eu comecei a ter experiências tanto na área de saúde, quanto no desenvolvimento social.  Prova tanto desse trabalho é que hoje, o nosso Hospital Municipal, que é uma unidade regional, assim como um em Rio Verde, foi fruto desse trabalho. Foi uma discussão feita na mesa com o governador Henrique Santilo e discutido onde seriam esses hospitais regionais. Passado a SUDECO, onde fiquei por dez anos, me mudei para Anápolis e vim trabalhar na Previdência Social. Fiz vários trabalhos ali e cheguei a ser gerente executiva. Junto à Previdência Social, ali na Rua 15 de Dezembro, funcionava o antigo INAMPS, INPS, IAPAS, e lá também discutíamos os problemas da saúde, que não eram resolvidos. Então, eu tenho todo esse histórico, de estar trabalhando dentro da área de saúde. Fui gerente executiva do INSS, cuidando de 118 municípios. O meu lema sempre foi ‘nós temos que ir onde a população precisa’. Depois, me aposentei da previdência social e fui secretária de Gestão de Recursos Humanos da gestão Gomide. Foi um desafio que ele me deu. Organizamos e saímos no inicio do segundo mandato do Gomide. O meu desafio foi organizar, prova tanto que até hoje lá tudo funciona e muito bem. Foi um desafio muito grande e difícil. Na previdência eu peguei fila, usávamos máscara e luva pra buscar processo. Quando saímos da previdência, ligava-se para o 135, marcava-se o horário, a pessoa só de comprovar a documentação já saia de lá aposentada. Na Secretaria Municipal de Gestão de Recursos Humanos não foi diferente. Quando entrei nessa secretaria, que ficava na antiga FAIANA, eu vi uma fila e pensei “gente, fila me persegue” [risos]. A fila era para pegar o contracheque. Nós colocamos contracheque eletrônico, trabalhamos com uma equipe muito boa e deixamos organizado. Eu era proprietária da Clínica Yasmin, onde trabalhei também com saúde. Tenho uma convivência muito grande na área da saúde. A confiança depositada em mim pelo prefeito Roberto Naves foi uma intimação: “Luzia venha compor nossa equipe”. Eu confesso a você que no momento eu assustei, mas abracei esse desafio. Adoro desafio! Principalmente quando o desafio é direcionado à uma população que necessita. E a saúde é dinâmica. Mas vou finalizar o porquê que eu aceitei. Eu aceitei porque eu acho, aliás eu tenho certeza, com a equipe que está formada aqui, com toda essa rede que temos na faixa de 2.600 colaboradores, com a diretriz do Roberto, que é um grande gestor, e com a nossa vontade imensa, e diariamente nos capacitando, vamos modificar a saúde em Anápolis.

Se eu sabia das dificuldades pela frente? Lógico que eu sabia que o desafio era muito grande. Mesmo quando secretária de Gestão de Recursos Humanos muitas vezes eu ajudei aqui a saúde, acompanhei. Então o desafio é grande e temos muitos outros pela frente, a saúde é dinâmica. E eu sou tranquila, não tenho vaidades, não estou aqui por status, não estou aqui porque sou candidata, não estou por valores que um secretário ganha, mas estou para dar a minha contribuição e como um ser religioso que sou, temente a Deus, estou aqui para ser instrumento de Deus e melhorar a vida dessa população. Tenho aqui uma equipe maravilhosa e quero aqui fazer um agradecimento a todos os nossos colaboradores porque tivemos momentos de turbulência, mas estamos atravessando. Agradecer a todos e dizer que juntos, nós vamos modificar a saúde em Anápolis.

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